O PINHEIRO QUE ESCOLHEU JULI (um continho de Natal)


Pinheiros cobertos de neve em uma floresta no céu azul de dia de inverno.  copie o espaço | Foto Premium



Época muito esperada na  floresta de pinheiros, neve, frio gostoso, nozes, esquilos, céu azul e expectativa. Numa família enorme de pinheiros, o caçula estava  pronto para escolher sua dona para o Natal. Suas folhas estavam verde vivo de alegria e esperança, o momento era pra lá de especial, a empatia devia acontecer pois não seria apenas um mês de festa e ornamentos, suas raízes iriam fincar laços no terreno de uma família naquele Natal.


O povoado era lindo coberto de neve branquinha, suas casas simples e confortáveis feitas de troncos, guirlandas naturais ornando as portas, lareiras acesas iluminando as meias pedintes de presentes, ramos de hibiscos pendurados atrás da porta principal com alguns sobre as janelas. Aquela época era a preferida de todos, haviam mais abraços, compartilhamento de biscoitos de gengibre e chocolate enfeitados, a cidra e a gemada quentes, os pães com passas, frutas secas e calda, que eram trocados entre as famílias, para que os sabores e temperos tornassem a comunidade ainda mais unida.

Os perus já estavam embebedados, mergulhados nas salmoras com especiarias há três dias, ficariam divinos e perfumados deitados sobre as mesas, o clima era alegre e festivo, as crianças estavam alvoroçadas, tantos quitutes sendo preparados. Verdana Luna,  a avó de Juli envolvida na escolha dos melhores tomates, pois a sua receita de tomates verdes fritos com cravos e manteiga, era muito aguardada pelas oito famílias do povoado. Pessoas de lares diferentes irmanadas como se uma única família fosse, partilha e solidariedade eram a tônica daquele lugar, no mês de Natal isso era mais exacerbado e levava emoção aos corações.

Lúcia e Mia amigas de Juli, já estavam decorando seus  pinheiros, mas, o pinheirinho de Juli ainda não havia chegado, ela estava meio nervosa com isso, mas, avaliava o seu merecimento durante aquele ano, então, sabendo ter sido boazinha a ansiedade era apenas parte do pacote natalino. Já estava com os enfeites prontos, frutinhas vermelhas, laços, fitas verdes e douradas, espigas de milho com sorrisos de carvão e caixinhas de presentes de papel quadriculado. Sem esquecer a estrela prateada enorme que o Vô Ansilgus fizera pra ela em metal maleável. Tudo pronto, agora era esperar o seu pinheirinho. Em sua inocência ela já tinha até um nome pra ele, seria Iolanda...sua amiguinha alegre daquele Natal, mas, guardava esse detalhe só para si, o segredinho era só dela rsss...

O dia vinte e dois de Dezembro despontou frio, com neve fininha caindo d'um céu azul inspirador. A família de pinheiros via os primeiros passos da caminhada do caçula começar, o dia especial chegara e as raízes dele iam deslizando pela neve, em busca da casa que escolheria para a sua morada, se fincaria no novo solo por amor e empatia à sua família humana, isso era orgulho para os seus pais pinheirões e seria motivo de alegria para a família escolhida, o Universo conspirava para que tudo fosse perfeito.

Juli acorda lentamente naquele vinte e três de Dezembro, espreguiça seus bracinhos jovens e cheios de energia, abre o primeiro sorriso da manhã e olha pela janela. Seu coração dá pulos de alegria. À frente da casa um jovem pinheirinho lindo e viçoso parecia lhe sorrir...Fora escolhida...Fora merecedora da dádiva...gritava acordando a todos na casa, sua felicidade era tão verdadeira e contagiante, que para ela se recebesse alguma lembrancinha seria lucro, porque já havia recebido o maior presente do mundo! Ela era só alegria.

Leite morno dourado com açúcar e canela, biscoito de amêndoas e uma fatia de pão quente caprichado na manteiga selou o café da manhã de Juli. Se vestiu bem aquecida e com a ajuda das crianças do povoado partiu para decorar 'sua Iolanda'... Psiu! você aí que está lendo isso guarde o segredinho dela...obrigada.

A véspera de Natal foi repleta de odores deliciosos, perfumes tão incríveis que as bocas se enchiam d'água, o estômago do guloso pai de Juli roncava, a mãe dela a Norminha Aparecida , ria do seu gordinho marido Olavo, que de tanto comer carne de porco tinha as suas bochechas eternamente ruborizadas rsss...o amor não vê esses defeitinhos às vezes até os acentua, não era um defeito na verdade só uma característica dele e ela o amava daquele jeitinho.

Quando Ester a avó de Lúcia  trouxe sua famosa torta de abóboras, para dar de presente para a ceia da casa de Juli, em agradecimento Norminha lhe deu um bolo de nozes coberto de açúcar de confeiteiro, os cheiros se espalhavam fartamente, como era maravilhosa aquela troca de carinhos aromatizados. Logo em seguida, Martha a avó de Mia, chega com um leitaozinho assado cercado de maçãs e recebeu em agradecimento um bolo de salame e queijo dourado que estava tão bem decorado, que dava pena cortar. As Leal chegaram trazendo seus fantoches e fizeram um teatro natalino encantador, levaram biscoitos de chocolate e gengibre e cidra. Os tios Silvano e Solano chegaram com vinho quente e saíram com uma travessa de bolinhos de nozes caramelizadas. As vizinhas Augusta e Maripena trouxeram cidra e bengalas doces coloridas, Rosa, Sandra e José trouxeram pudim de natas e pães recheados de ervas perfumadíssimos, Max, Mardieli e Eustáquio vieram carregados de nozes, cada um que chegava saía com outros quitutes. Muitos abraços e trocas aconteceram pelo dia inteiro. As mesas das casas se preenchiam de laços afetivos em forma de grato alimento.

O Padre Lucas chegou de trenó, para celebrar uma das muitas missas que tinha por missão na região, a comunidade se vestiu para aquele momento de fervor e gratidão, alimentaram o velho padre e os seus cachorros e ainda fizeram uma cesta com quitutes e gemada quente para ele levar, muitas emoções preencheram de luz aquelas almas, tempo de paz e reflexões.

A troca de presentes se deu com todo mundo entrando de casa em casa borbulhando alegria, brindes e petiscos compartilhados e sensação de dever cumprido.

A floresta de pinheiros se esverdeava bordada de branca neve, tudo tinha seguido seu curso de forma tranquila, os membros das famílias de pinheirões Patrícia, Facuri, Jacó, Rosa, Sandra, Fábio, Lilian, Góis  Miguel, Maria, Leandro, Jadel, Sonya, Souza, Estêvão, Aldrin, Antonio, Luiz, Luiza, Téo, Cristian e outros tantos regozijavam liberando o perfume de sua resinas. Só faltava o instante harmonioso, que era ouvir de longe o tilintar dos copos, os ruídos dos talheres nos pratos, os sons das gargalhadas alegrias, os acordes da rabeca de Beto, os suspirares de satisfação das pessoas e o principal, sentir em seus troncos a sincera felicidade de Juli e 'Sua Iolanda'.

O Natal se fez festa e gratidão. Na noite alta um cometa brilhante cruzou o céu,  iluminando tudo como uma bênção de luz, celebrando a paz. Longe dali há muitos e muitos anos n'uma manjedoura, um ser de luz nascia e recebia como presente, ouro, mirra e incenso e o mundo entrou em fase de transformação.



Feliz Natal!

Beijinhos, saúde, saúde, paz e luz 
Cris


Flor Vermelha Da Poinsétia, Estrela Do Natal Foto de Stock - Imagem de  poinsétia, estrela: 105744112


Que o aniversariante do dia seja celebrado com gratidão,  desejo  também que suas mesas sejam fartas de alimento para corpo e alma, com muita harmonia. Que suas mentes reflitam sobre os extremos dos acontecimentos recentes e possamos em novos e saudáveis tempos, compartilhar abraços.


*Imagem- Fonte - Google
*br.freepik.com
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 07/12/2020
Reeditado em 30/12/2020
Código do texto: T7130013
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