VELHINHO NICOLAU

VELHINHO NICOLAU

A noite era linda, com um céu tingido por um divino tom de azul, realçado apenas pela luz da lua e das estrelas que cintilavam. Parece que Jesus, no dia do seu aniversário, queria mostrar o firmamento, sua mais bela obra, aos moradores daquela cidade. Para tanto, não queria que qualquer nuvem estivesse entre Ele e os habitantes do lugarejo.

As pessoas caminhavam cantando em direção à igreja do lugar, para ouvir do padre local sua pregação sobre o Natal. Ali, o orador costumava contar histórias antigas, nem sempre verdadeiras, mas que deixavam os fiéis atentos e as crianças encantadas.

Naquela noite, entretanto, ele não contou histórias nem se mostrava muito alegre. Uma nuvem de preocupação marcava seu rosto e seus olhos sempre brilhantes, hoje estavam tristes. A plateia, antes risonha e contente, notou sua preocupação e entristeceu um pouco também. Sussurros quebravam o respeitoso silêncio.

Era preciso mudar esse clima. Foi quando do fundo da igreja alguém levantou-se e andou em direção ao sacerdote. Era um velhinho de barba branca e um cajado, mas que caminhando firmemente chegou ao altar. Fez o sinal da cruz e ao chegar ao padre Inácio o abraçou e baixinho trocaram algumas palavras. Depois disso, o ancião voltou ao fundo da capela e sentou-se.

O padre, agora com um sorriso no rosto, dirigiu-se aos ouvintes e explicou que aquela noite seria diferente e os convidou a acompanhá-lo. Tendo o velhinho ao seu lado e seguido por uma pequena multidão, dirigiu-se ao orfanato da cidade. Essa instituição era administrada por freiras, que se admiraram com a presença de tantas pessoas. As crianças do lugar, sem referência familiar, estavam tristes. As pessoas que o acompanhavam então compreenderam a tristeza que se abateu sobre o orador, que se condoía com a situação delas e trataram de levar para as crianças um pouco de atenção e de alegria que lhes faltava. Incentivados pelo bom velhinho, todos voltaram a seus lares de onde retornaram mais tarde, munidos de muitos presentes e dos alimentos que haviam preparado para degustar naquela noite. Em companhia das crianças do orfanato e de suas próprias crianças proporcionaram a mais bela e alegre ceia de Natal que aquela Casa tinha visto. O ambiente se iluminou e a alegria voltou.

Todos concordaram que a partir daquele ano, todos os “natais” seriam comemorados junto com as crianças do orfanato. Não seria justo, que houvesse sequer uma criança triste num dia tão festivo.

Por fim, em júbilo e cantando, o padre e seus acompanhantes retornaram à Igreja, com a alma repleta de felicidade e com a certeza de aquele havia sido o Natal mais feliz de suas vidas. Só, então, puderam perceber o bem que nos faz, exercer a Caridade.

Meia-noite, como que por encanto, os sinos repicaram, todos olharam para o alto da torre e puderam ver, bem acima dela, em destaque, como que flutuando no ar, a figura do velhinho Nicolau sorrindo, tendo ao fundo o céu incrivelmente estrelado.

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Enviado por ABC DAS LETRAS em 09/01/2021
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