A Pousada do Prato Liso

- Pousada do Prato Liso - leu Eliza, quando chegaram perto o suficiente para que pudesse distinguir o que estava escrito na placa de madeira, pendurada à frente da pousada à beira da estrada. Apesar do adiantado da hora, havia som de música e cantoria vindo do interior do estabelecimento. Apearam e entregaram os cavalos a um rapazote, que tomava conta da estrebaria nos fundos da pousada.

- Vão passar a noite? - Indagou o palafreneiro.

- Faz diferença? - Replicou Lauke.

- Se alugarem um quarto, não cobramos nada para cuidar dos cavalos; caso contrário, vai lhes custar um dinheiro, pago na saída.

- Vamos passar a noite - garantiu Eliza. - Se houver quartos vagos... a casa parece cheia.

- Minha mãe sempre tem um quarto reservado para peregrinas de Orodraz - garantiu o rapaz. - Quando bati o olho em vocês, logo vi que estavam vindo de Bashiron.

- Você é muito observador - comentou Lauke, puxando uma moeda de estanho da bolsa. - Tome aqui um asse pela sua presteza...

- Grato, gentil dama - disse o rapaz, abrindo um amplo sorriso e fazendo uma vênia. - Meu nome é Pieterjan, ao seu dispor; agora, vou chamar uma de minhas irmãs para acompanhá-las.

E, pondo as mãos em concha à frente da boca, gritou para dentro da pousada:

- Lieze! Peregrinas!

Instantes depois, uma jovem de bochechas coradas surgiu, enxugando as mãos no avental que usava sobre o vestido.

- Acompanhem Lieze, - disse Pieterjan - ela vai apresentar vocês à minha mãe.

- Damas - Lieze dobrou ligeiramente os joelhos em saudação.

Seguiram a garota para dentro do salão da pousada, o qual estava realmente cheio. Havia muita gente que poderia estar indo em romaria para o Santuário de Orodraz, e portanto a entrada das duas bashironesas não despertou qualquer suspeita. Um trio musical, composto por viela de roda, charamela e tambor animava o ambiente; a musicista da viela também interpretava as canções, quase todas de cunho estritamente laico e até mesmo satírico. Os hinos religiosos ficariam para outro momento da jornada...

- Peregrinas, mãe - identificou-as Lieze para a estalajadeira, uma mulher corpulenta servindo bebidas atrás do balcão.

- Bem-vindas, damas - saudou-as a estalajadeira, fazendo apenas uma vênia de cabeça. - Cobramos dois dinheiros pelo pernoite; jantar, café da manhã e estrebaria inclusos. Bebidas à parte e pagamento adiantado.

- Por mim, está bem - assentiu Eliza.

Lauke puxou duas moedas de cobre da bolsa.

- Caso não queiram descer para jantar, posso mandar servir no quarto - sugeriu a estalajadeira. - Podem examinar o cardápio antes de subir; está pendurado na parede atrás do balcão.

- Muita gentileza de sua parte - agradeceu Eliza, olhando para a lista dividida em dias da semana. - Sim, faça-nos este favor.

- Não há muita variedade - avaliou Lauke em voz baixa, sobrolhos erguidos. - Provavelmente trocam o cardápio quatro vezes por ano, uma em cada estação.

- Só vamos passar uma noite - suspirou Eliza. - E, ademais, eu gosto de porco e batatas...

Lieze acompanhou as peregrinas ao andar superior da pousada, onde a maior parte dos quartos se abria para um corredor circular num mezanino acima do salão principal. Felizmente para elas, o tal quarto reservado ficava no fim da escada que dava acesso ao andar térreo; era o mais distante que conseguiriam ficar do ruído do salão.

- Já subo com o jantar de vocês - assegurou a jovem, antes de descer.

Menos de trinta minutos depois, enquanto Eliza e Lauke lutavam para não dormir, deitadas lado a lado na única cama do quarto, ouviram uma batida na porta. Lauke foi atender e deparou-se com um rapaz desconhecido, uma bandeja nas mãos.

- Acrescentei uma jarra de cerveja; é por minha conta - declarou ele, sorridente.

[Continua]

- [26-07-2021]