O Livro de Ludmila

Onde a rodovia atravessa o deserto; o céu é todo negro, num jogo de contrastes com o brilho das estrelas, Anselmo ainda está a meio do caminho de seu lar. Já perdera a conta de quantas vezes dirigia só em companhia da noite. Ele é representante de produtos odontológicos para algumas da região. Não via perspectivas de melhora para seu padrão de vida. Desejava algo mais glamoroso e se tornar famoso. Enquanto devaneava algo chamou-lhe a atenção: flashes de luzes vindo das montanhas. Resolveu estacionar sua caminhonete, e adentrar na mata. Não deveria ser uma decisão esperada de uma pessoa prudente em um território repleto de bichos peçonhentos, mas foi o que ele fez. De certo poderia controlar sua curiosidade, mas uma força maior se apossara de suas coordenações motoras. Ele relutava para não seguir adiante, mas suas pernas não mais obedeciam seus comandos. Literalmente foi carregado por essa atração estranha até as luzes no topo da montanha.

Lá do alto a luminosidade sumiu, deixando-o em total escuridão, então começou a gritar por socorro mas sentindo que estava só, além da companhia de milhares de vaga-lumes e grilos, desistiu. De repente os vaga-lumes se concentraram na copa de um carvalho, e toda aquela fosforescência iluminava o solo abaixo da copa. Anselmo não podia acreditar no que via e foi se aproximando, e estranhou mais ainda ao se deparar com uma cadeira de balaço e uma senhora vestida toda de preto de chapéu e luvas a folhear um manuscrito.

- Por favor minha senhora: diga que nada que estou vendo, nada é real!

- Aproxime-se rapaz, e sente-se nesta pedra ao meu lado.

- Sim, mas ainda não respondeu minha pergunta.

- Tudo pode ser real ou irreal, dependendo de seu estado de consciência.

- Dá para ser mais objetiva?

- Quer dizer: direto ao assunto?

- Por favor.

- Meu nome é Ludmilla, e deste calhamaço sairá o meu livro que você publicará.

- Me perdoe, mas não sou editor. Procure outro que faça isso.

- Não tenho tempo para isso, você fará.

- Caso não faça…

- Não deveria estar aqui. Pegue-o, é só isso.

continua...

airton parra sobreira
Enviado por airton parra sobreira em 05/02/2018
Código do texto: T6246206
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