Guardian Angel (continuação)

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3

Estava tudo combinado, Doll achava que o agente da FOX deveria aparecer lá pela meia noite ou uma hora da madrugada, pelo menos era assim que era pra missões de infiltração desse gênero. De qualquer forma elas iriam um pouco mais cedo, planejavam estar lá às onze e meia “vê se não se atrasa com a maquiagem” brincou Gwendolyn quando entrava no elevador do seu prédio “engraçadinha! Pra isso eu não me atraso!”. Era um prédio residencial no centro da Grande Maçã, diga-se de passagem um dos mais apertados e baratos da cidade.

Gwendolyn entrou no seu apartamento de aproximadamente 5m², carinhosamente chamado por sua amiga de “lata de sardinha”, mas que ela achava mais do que suficiente para ela e seus “filhotes”; um gato Angorá chamado Gordo (descendente do gato de sua família que tivera um fim trágico), um outro vira lata chamado Myu (que ela achou na rua) e uma Setter Irlandês adulta, de pêlo vermelho (presenteada por seu primo Sean) chamada Cindy “em homenagem à Cindy Lauper” como Gwen dizia. Era só ela entrar em casa que os animais vinham avidamente buscar sua atenção, com uma saudade que fazia parecer que estava ausente há anos. — Tá bem meus amores, já cheguei! Dizia enquanto fazia carinho em todos ao mesmo tempo. Logo os deixou para ir fazer o jantar deles (inclusive o seu), um grande prazer do qual ela nunca se privava.

O minúsculo apartamento era composto apenas pela cozinha, banheiro e a sala era o seu quarto (e vice versa), ela não possuía muitas coisas, embora tivesse um salário muito bom, não fazia questão de luxo algum... O apartamento tinha um valor especial também, pois fora o seu pai que a presenteou quando ela começou a trabalhar na agência da NSA de Nova Iorque. Tinha uma cama de casal (ela e os “filhotes” dormiam juntos), uma televisão de 29 polegadas, um DVD player, um som, varias almofadas (adorava almofadas), muitos e variados DVD’s e CD’s, mas principalmente de filmes e músicas dos anos 80 (sua irmã a viciou nisso), um Playstation 2 com vários jogos (que ela tinha que se policiar para não ser consumida por ele), seu altar budista (feito pelo senhor do templo que freqüentava), muitos potes de conservas com pimentas principalmente e alguns de geléia que ela mesma fazia. Esses, dizia ela, eram seus tesouros materiais, ah, é claro, além de sua prancha, coloquialmente chamada de “chapinha”, sua única vaidade com a aparência, ela detesta seus longos cachos ruivos. Muitas vezes já foi chamada a atenção por sua amiga “pára de ser teimosa Gwen, usa pelo menos um batonzinho!” Ela nunca cedia, no máximo ao brilho labial por causa do tempo, só isso, mais nada, não suporta maquiagem ou perfumes fortes “esse desodorante SP tá ótimo”. Sabrina tinha um treco sempre que saía com ela, nunca a convencia a se arrumar, aliás, nem mesmo o cabelo (do que ela cuidava um pouco mais) ela conseguia fazer Gwendolyn pentear direito “você alisa, pra enrolar ele em coque, prender com um pauzinho e deixar todo desalinhado? Você é doida!”. Não adiantava, ela era sempre assim, se não fosse prático ou realmente útil, não se importava muito.

Era curioso esse descaso com sua aparência e essa praticidade com relação à si própria, pois quando dizia respeito à fazer coisas para as outras pessoas ou seu trabalho, ela dispensava uma atenção quase neurótica, se atendo aos mínimos detalhes e nunca apresentando nada sem antes ter testado a eficiência varias e várias vezes. Nunca ligava pra muita coisa (é freqüentemente chamada de “cuca fresca”), alguns lhe tinham como insensível ou indiferente, mas não era bem isso, para Gwendolyn tudo poderia ser resolvido com uma conversa pacífica se as pessoas não se importassem com trivialidades.

Gwendolyn terminou o jantar às nove horas, dessa vez ela não poderia saborear a comida tanto quanto gostaria, pois tinha que andar rápido. Lavou sua louça e vestiu-se em seguida, não gastando mais que cinco minutos para colocar uma calça preta, uma blusa de gola role também escura e um sobretudo por cima, além de botas, não se esquecendo também de uma balaclava. Em alguns minutos estava pegando o furgão e seguindo para o antigo prédio da Armstech, com o rastreador do mesmo desligado, assim a NSA não saberia para onde ela se dirigia. Não demorou mais de dois minutos para que Doll aparecesse por lá.

4

O prédio da Armstech era muito grande, ele tinha 40 andares aparentes, no seu subsolo deviam existir uns mais, em volta da construção havia um grande espaço para o estacionamento dos carros da empresa, possivelmente alguns caminhões passavam por ali, dessa forma, o estacionamento era cercado, mas o lugar estava praticamente abandonado. É claro que deviam existir algumas coisas por lá, principalmente porque não faziam mais de dois meses que a empresa falira. Pela manhã deviam ainda ter funcionários organizando papeladas ou coisas assim. Além de ser óbvio que a atividade não cessara, isso fora apenas para os olhos do público.

Não estava muito iluminado onde Gwendolyn estacionou o furgão, que devia estar à pelo menos 100 metros do prédio. Mal parou o carro, ouviu uma batidinha no vidro. Com certeza era Doll. — Pronta? Perguntou a ninja quando Gwen abriu um pouco do vidro. — Eu sim, mas... Vai lá pra trás. Pediu enquanto se levantava do banco de motorista e se dirigia à mini central que se encontrava atrás do furgão. Gwendolyn abriu a porta do fundo do veículo, que se dividia em duas e Doll entrou.

— Bem, eu verifiquei o perímetro, está tudo OK!

— Ótimo, ótimo...Falou Gwendolyn olhando alguma coisa em seu computador.

—Certo! Aqui está o mapa do lugar.

— Mapa? E como conseguiu?

—Ah, bem... Peguei da empresa construtora desse prédio... Não é difícil arranjar as plantas desses lugares, mesmo porquê aqui é um prédio onde são realizadas apenas algumas pequenas pesquisas, na verdade era mais pra fins burocráticos, administrativos... Essas coisas... É claro, tenho certeza que existem alterações, até mesmo por motivos de segurança, se eu tivesse uma empresa desse calibre não iria querer sofrer com a espionagem industrial...

— Ah, isso é verdade... Eles com certeza modificaram para esconder bem seus projetos! Maaaaaaaas... De nada adiantará qualquer modificação que fizeram porque eu entrarei sem problemas, não existe forma de se proteger da Doll! Falou com uma expressão de segurança total em si mesma.

— Espero que não... Pega, aqui estão os mapas da tubulação, vê se toma cuidado, por favor! Deve ter algum tipo de dispositivo de alarme ou algo assim! Gwendolyn passou um aparelho de aproximadamente 4 X 4 centímetros, que tinha dois minúsculos botões e não tinha mais do que meio centímetro de grossura.

— Ah, esse aqui é aquele brinquedinho que você fez? Falou Doll admirando o pequeno dispositivo, que realmente parecia um brinquedo.

— É sim, com isso ai eu posso te baixar os mapas em tempo real... Mas preste atenção por favor, eu só tenho ele, e foi muito caro. Falou Gwendolyn com preocupação.

— Calma menina! Qualquer coisa eu te pago outro!

— Não é só o dinheiro... Você não vai conseguir me ressarcir dos dias que passei trabalhando nele!

— Ah, tá, tá! Você tem é que terminar a minha suit! Falou colocando as mãos na cintura.

— Ah, puxa, bem que eu queria Doll, mas é muito cara e não tenho onde fazer as coisas... Seu traje está mais teórico do que real. Falou ainda sem tirar os olhos da tela do computador. — Bem, tudo pronto! Podemos começar agente Doll! Sorriu, colocando seus fones de codec.

— OK Guardian Angel! Nos falamos quando eu entrar no prédio, até loguinho! Deu um tchauzinho, saiu pelo mesmo lugar que entrou e de repente sumiu.

5

Acompanhar o sinal de Doll era muito difícil, pois sua velocidade era fenomenal. Felizmente Angel contava com tecnologia de ponta da NSA. Realmente não demorara mais do que alguns poucos minutos para que ela já estivesse dentro do prédio.

— Trabalhar com você é realmente muito prático. Falou a garota no codec da ninja, que sorrira ao responder. — Há, há! Comigo é tudo muito rápido, você sabe Angel! Mas escuta...

— Pois não, Doll?

— Você sabe onde eu estou exatamente?

— Sim, eu sei, está constando aqui no radar, porquê?

— Hum... Você não ta sentindo uma interferência? Tá bem leve, mas tem.

— Espera... É... Você tem razão, tem mesmo... É levíssima à propósito... E... Peraí, deixe checar os sinais desde que você entrou ai. Gwendolyn rapidamente digitou seus códigos, que passavam em uma grande velocidade pela tela do computador, mas que seus olhos treinados (durante alguns anos) conseguiam ler. Até que ela achara os pontos onde ocorreu interferência. — Achei Doll... Sim, existem intervalos irregulares onde ocorreram interferências... Devem estar ligando algum tipo de dispositivo para isso.

— Muito provavelmente... Acho que podem estar testando algum dispositivo pra causar interferência mesmo nos mais confiáveis métodos de comunicação...

— Hum... Pode ser... Só espero que não seja tão forte assim a ponto de tirar o meu sinal daqui... Não, acho que não... Eu estou perto demais.

Mesmo achando que dificilmente sofreria algum tipo de interferência, Gwendolyn ficou apreensiva, era sempre muito preocupada. Ela começou a calcular a trajetória da amiga, quando foi interrompida pela mesma. — Angel, esse aparelhinho aqui... Ele além de receber os mapas ele pode enviar né?

— Sim, pode.

— hum, bem que vi esse sensorzinho...Certo...Mas você já pegou o mapa das tubulações por onde passei?

— Sim, acabei de checar aqui...Mas você poderia passar os que o aparelho captou?

— Como assim? Pra quê?

— Ah, eu não sei, pode ter dado algum problema aqui, você é muito rápida, é melhor verificar com outra fonte, sabe como é...

Doll fez uma cara de sono enquanto ouvia as explicações neuróticas da amiga.— Afe... Tá bem, estou mandando...Botão da esquerda... Pronto! Doll não pode conter-se de completar a frase pelo menos em pensamento “... senhorita ‘eu testo tudo mil vezes’!”.

Doll comunicou que continuaria mandando os mapas para Angel, era melhor que ela fizesse assim, e que Angel a guiasse diretamente pelo codec. Angel achava melhor Doll verificar no aparelho, mas ela se recusou. Estava tudo bem, Angel estava acostumada com esse trabalho, já fora o codec de muitas pessoas, inclusive, já trabalhara com Doll pelo menos em umas três missões, principalmente em seus poucos meses de trabalho para a CIA, no início de 2001.

Angel apenas acompanhava o sinal de Doll em seus computadores, e esta a cada certa distância que completava informava “até aqui, tudo certo!”. Pelos mapas que ela baixara anteriormente e pelos que Doll a estava passando, o lugar onde a agente estava devia ser algum tipo de laboratório mecânico, com robôs, motores e coisas assim, de pequeno porte, mas muito importantes, inclusive alguns projetos, pendurados em quadros nas paredes. Realmente o lugar era um Grapeshoot, e ao que parece tinham alguns planos de possíveis Metais Gears. — Angel... Acredito que achei algo muito interessante...

— E o que seria?

— Parece que existem outras nações interessadas na tal Metal Gear.

— Isso... Isso é grave! O que você ta vendo aí?

— Alguns projetos... De repente Doll pára de falar, Angel fica preocupada, chama-a por pelo menos cinco vezes antes dessa atender. — Tudo bem Angel, nossa raposa está aqui... Mas existe um sabujo pelo visto.

— Doll! O que aconteceu?

— Já conectei um terminal um andar acima para você entrar, daqui eu tenho que ir, não posso falar agora! Sem mais explicações a agente desligou a comunicação com Angel, que ficara alvoroçada. Pelo visto aconteceu algum problema com a ninja “que Buda permita que ela esteja apenas perseguindo e não sendo perseguida!”. Angel começou a verificar o terminal que Doll abriu para ela invadindo-o através de seus computadores avançados. Ao mesmo tempo, baixava os mapas que o mini scan que Doll carregara consigo, além das câmeras espiãs que esta sempre costuma deixar para verificação. Através desses recursos ela pode baixar os mapas do lugar, além de algumas visões, incluindo a do FOX hound. Mas mesmo sem estar usando a comunicação com Doll, Angel reparou que a interferência aumentara, através de alguns aparelhos que possuía.

Uma coisa que a deixou curiosa era o fato do agente parecer se comunicar com alguém, mas não aparentava carregar nenhum tipo de aparelho de comunicação. — Será que ele tem... Nem mesmo terminou de concluir seu pensamento, percebeu que o agente estava agitado, parece que havia perdido sua comunicação. Com certeza devido à interferência. Angel via que o agente ficara perdido, pois cessara de mexer no terminal que antes operava normalmente, então resolveu tentar ajudá-lo. Como estava de posse de um terminal muito próximo à ele, Angel começou a tentar comunicar-se através do computador, o agente não demorara a perceber que o terminal ao seu lado estava sendo invadido, mas ele não respondia às mensagens dela. — É claro Angel, você confiaria em um hacker desconhecido se estivesse na situação desse moço? Droga! Pensou a garota com ela mesma, quase dando por certo que seria ignorada. Até que ela percebera que o homem tentava comunicação (muito provavelmente com seu próprio codec), muito improvável que ele conseguisse, pois a interferência estava forte, mas essa era a chance de ouro dela conseguir achar a freqüência dele. Angel como se corresse contra o tempo iniciou uma sessão de digitar e verificar suas máquinas. Já não estava mais sentada, levantara e começara à andar pela mini-central do furgão, pulando de uma máquina para outra, mexendo em todas, ela precisava conseguir a freqüência desse homem, pois de acordo com seus computadores, logo um hacker que parecia sondar os terminais do prédio saberia da presença dos dois (afinal, cada um estava em um terminal diferente). Agora que ele estava tentando emitir e captar ondas, as possibilidades eram maiores.

(continua...)

Tsukiko
Enviado por Tsukiko em 23/10/2005
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