O bom combate

[Continuação de "Estrela de ouro"]

- Entende o que eu digo? - O doutor Bana apontou uma lanterna para os olhos de Ingemur, que acabara de despertar, ainda atado ao leito da enfermaria. O homem piscou diante da luz, confuso.

- Sim... estou falando a língua dos trolls?

- "Trolls" é como vocês nos chamam? - Indagou Bana, curioso.

- É o que vocês são, não é? Assim como o meu filho, Davynn.

- Então foi você quem recolheu a criança?

- Sim. E o criei como se meu filho fosse.

- Você é uma pessoa de valor... como se chama?

- Ingemur.

- Muito bem, Ingemur. Eu vou soltá-lo... você pode se sentar, mas não faça movimentos bruscos. Os efeitos da arma de choque ainda podem durar algum tempo.

Liberto das amarras, Ingemur sentou-se no leito, protegendo os olhos da iluminação brilhante ao seu redor.

- E meu filho?

Davynn ainda permanecia sedado, eletrodos conectados à sua cabeça.

- Ele está recebendo conhecimentos adicionais de que irá precisar mais adiante... - explicou Bana. - para você, a fluência no nosso idioma é o suficiente.

- Vão levá-lo com vocês... para a terra dos trolls? - Indagou Ingemur apreensivo.

- Por isso viemos. Estávamos à procura de sobreviventes do desastre, há muitos anos...

- Eu e minha esposa podemos ir também?

- Por quê?

- Porque somos os pais dele... e é o nosso único filho.

- Acha que sua esposa quererá vir? - Duvidou Bana.

- Dê-me algumas horas. Eu a trarei até amanhã de manhã...

O médico entrou em contato com o preboste Raymir, que autorizou a partida de Ingemur.

- Se ele não retornar, nada se perde. Já temos o rapaz.

* * *

- Agora você pode entender os trolls... mas e eu, Ingemur?

Nekisha encarou o marido, sentado à sua frente no aposento único da cabana onde viviam, na vila de pescadores.

- Você também poderá aprender... da mesma forma que eu - assegurou Ingemur. - Eles te põe para dormir, e quando acorda, a mágica troll fez efeito e você passa a entender o que eles falam.

- E tudo lá funciona por mágica?

- O troll com quem conversei, Bana, me disse que eles chamam a magia de "tecnologia"... mas como não iríamos entender como funciona, podemos continuar chamando de mágica mesmo.

- E é o tipo de mágica que pode fazer com que os peixes pulem para dentro do seu barco, por exemplo?

- Eles não pescam, nem caçam... a própria comida parece ser obtida com mágica.

- Parece ser uma vida sem preocupações - ponderou Nekisha.

- Parece... mas podemos confiar nesses trolls que vieram buscar nosso Davynn? E se eles o maltratarem quando não estiver mais sob nossas vistas?

- Mas são o povo dele... - argumentou Nekisha.

- Mas nós somos seus pais - atalhou Ingemur. - Temos que ter certeza de que ele será bem tratado... e só então voltaremos.

- Você tem razão - concordou Nekisha. - Por mais assustadora que possa ser essa terra dos trolls, estaremos juntos, como a família que somos.

E na manhã seguinte, Ingemur e Nekisha apresentaram-se perante o preboste Raymir, na clareira da floresta.

- Aprecio que queiram vir conosco... o imperador poderá querer conhecê-los - declarou.

Ingemur traduziu as palavras para a esposa, embora "imperador" houvesse sido vertido como "rei dos trolls".

- Podemos ver nosso filho agora? - Perguntou ela.

- Ele está dentro da nave - disse Raymir para Ingemur.

Chamou um soldado, para que os conduzisse até o aposento onde Davynn os aguardava. Em seguida, deu ordens para que a vedeta levantasse voo rumo ao cruzador em órbita.

Sobre cada uma das covas onde originalmente estavam os restos de Lady Ala e do senescal Sittur, foi deixado um rochedo com várias toneladas de peso, marcando o local da tragédia. Séculos depois, os habitantes daquela região contavam que os blocos de rocha eram dois trolls, que haviam sido surpreendidos pelo nascer do sol e converteram-se em pedra.

[Continua]

- [05-05-2018]