Tempo de encerrar
[Continuação de "O bom combate"]
E na cabine que havia sido destinada à Davynn, a bordo do cruzador imperial "Sashmur-IV", o doutor Bana exibiu um vídeo em 3D gravado há muitos anos, onde Lady Ala aparecia caminhando por um palácio da Cidade das Estrelas.
- Esta é sua mãe... Lady Ala.
Davynn olhou com admiração para a figura da mulher alta, longas tranças louro-platina, num vestido diáfano, cheio de voltas, cor verde esmaecido com detalhes em prata. O ventre dela estava visivelmente dilatado.
- Lady Ala já estava grávida de você, nesta imagem; foi feita pouco antes dela partir, num iate espacial pilotado pelo senescal Sittur, para reunir-se ao imperador, em Uttan-II. Eles jamais chegaram lá...
- O imperador é meu pai?
Bana balançou a cabeça, afirmativamente.
- Sim. E isso nos traz um problema. Quem sabotou a nave de Lady Ala, certamente não vai querer que o legítimo herdeiro do trono retorne para reclamá-lo... e o imperador casou-se novamente, já que isso é exigido por lei, e hoje você tem mais três meio-irmãos. Provavelmente, também não ficarão exatamente felizes em saber que sobreviveu...
Davynn mordeu os lábios.
- Não tenho aliados no império?
- A tripulação desta nave foi recrutada pelo próprio preboste Raymir, o qual, por sua vez, é um oficial de confiança do imperador - assegurou Bana. - Mas, até que saibamos quem montou o atentado contra sua mãe, o mais prudente é que sua presença seja mantida em segredo... até mesmo do próprio imperador. E no que tange aos tripulantes, apenas eu e o preboste sabemos quem você é, realmente. Para os demais, você e seus pais são apenas bárbaros que recolhemos para estudos. E, pensando na sua segurança, vamos deixá-los numa fortaleza em Zoghur, lua de Panka-VII. Não podemos correr riscos até que a situação esteja devidamente esclarecida.
- Isto vai demorar?
- Não tenho como precisar... mas agora que sabemos o que ocorreu, nossos agentes estão atrás de pistas. Enquanto isso, vocês poderão circular à vontade... dentro dos limites da fortaleza em Zoghur, naturalmente.
- Circular... como prisioneiros?
- Como hóspedes do império - ressaltou Bana. - Prometo que tentaremos resolver este incômodo o mais rápido possível.
* * *
- Quem poderia querer Lady Ala e seu filho mortos? - Indagou o preboste Raymir, trancado com o doutor Bana em seu camarote, enquanto a "Sashmur-IV" cortava o hiperespaço rumo ao sistema binário Panka.
- Alguém que seria diretamente beneficiado com o desaparecimento de ambos - ponderou Bana. - Intrigas palacianas e assassinatos de herdeiros não são exatamente incomuns na história do império...
- Partindo desse pressuposto, Lady Evana, mãe da atual imperatriz, Lady Sibel, seria nossa principal suspeita. Até porque, ela foi ama do imperador e nunca escondeu que gostaria que sua filha se casasse com ele...
- Mas aí, apareceu Lady Ala, vinda das Províncias Exteriores... e o imperador decidiu-se por ela - aduziu Bana. - E Lady Sibel aceitou ser relegada ao papel de Primeira Concubina...
- Ela aceitou... mas, ao que tudo indica, não sua mãe - atalhou Raymir.
- E como faremos para provar a culpa de ambas...ou da mãe, pelo menos? - Questionou Bana. - Uma acusação dessas é extremamente séria... e certamente vai significar a pena de morte para quem estiver implicado na trama.
- Podemos fazer com que a serpente saia da toca... plantando uma informação sobre o que descobrimos no planeta bárbaro. Alguém vai tentar destruir as evidências, e aí, chegamos ao mandante.
- Pode funcionar... - disse por fim Bana.
E enquanto a espaçonave imperial cruzava o hiperespaço, Raymir e Bana traçavam seus planos para chegar aos assassinos de Ala e Sittur.
[Continua]
- [06-05-2018]