O galo de uma perna

Viver em um sítio é o sonho de qualquer pessoa, principalmente aquelas que labutam todos os dias, seja no comércio, na indústria, no escritório ou em ambientes abertos.

Em junho de 1974, onde o Brasil ainda caminhava sob as consequências do regime militar, a economia dava sinais de crescimentos com a industrialização em fase de andamento, viviam em um lugarejo uma família de seis pessoas. O chefe da casa morava em um sítio. Sua esposa o ajudava no trabalho do lar e na agricultura, sua principal atividade. Seus filhos, ainda pequenos, cresciam no ar campestre e sempre ajudavam os pais no dia a dia.

Viver no campo sempre foi a vontade deles. O filho mais velho veio morar na cidade para estudar, pois pretendia ser advogado. Era muito estudioso. Os outros dois filhos, abaixo do filho mais velho, também estudavam na cidade e ficavam na casa dos avós maternos, os quais tinham muito luxo e carinho para com eles. Eram somente os seus netos.

Certa noite, em uma sexta-feira, por volta das vinte horas, o casal retorna da cidade conduzindo os filhos, pois as férias escolares estavam iniciando e todos iam para o sítio. Na curva de uma estrada, perto de um matagal, onde corria uma nascente de água cristalina, a família parou para tomar um fôlego da caminhada, pois a distância da cidade até o sítio era de aproximadamente quinze quilômetros e eles faziam o trajeto em uma charrete, puxada por uma mula de cor marrom. Era o final do mês de junho e fazia um pouco de frio. Nas noites anteriores, uma fina camada de geada caíra sobre o município, fazendo com que as temperaturas fossem jogadas para baixo e eles a bordo da charrete estavam enrolados em cobertores.

Tudo estava normal. Os meninos e sua mãe olhavam para o céu noturno, sem a luz lunar, e contavam e tentavam contar as estrelas. Uma, duas, três. Assim, iam alegres e até mesmo viam algumas luzes cadentes e faziam rapidamente seus pedidos:

- Quando eu crescer, vou ser o melhor advogado da região, dizia o filho mais velho.

- Que nada. Eu serei a melhor professora. Pus a mão em meu coração e pedi à estrela cadente e ela me disse que me ajudaria em sê-la. Vou estudar muito e serei uma grande professora de Física e vou me aprofundar na Teoria da Relatividade, dizia a filha menor.

Assim por diante, todos iam comentando. Até mesmo o pai da família, que nunca gostou de estudar, mas faria de tudo para ver os seus filhos todos estudados, com um diploma na mão.

Sorrisos, cantos, brincadeiras e animação. A filha menor estava feliz porque ganhou um vestido novo e iria usá-lo na festa de São Cristóvão, que aconteceria no final do mês de julho.

Desta forma, chegaram à nascente do riacho. Estavam exaustos e pararam para tomar água, descer um pouco da charrete. Beberam água e descansaram.

No momento da partida, Sr. Manoel, pai da família, sentiu que sua mula deu uma empacada e não queria prosseguir. Gritava com ela, ordenando sua ida, mas o animal não saiu do lugar.

- Tem algo de errado aqui, dizia em voz alta.

As crianças ficaram caladas e se enrolaram nos cobertores, juntamente com a mãe.

- O que aconteceu?

Manoel respondendo, meio assustado, pois sua mula era bastante mansa. Fazia todo o trabalho de puxar a charrete, arar o campo, mover o engenho e nunca refugara a nada, nem mesmo a foguetes e bombinhas.

- Está muito estranho, Maria.

- A mula não quer andar. Vamos esperar um pouquinho e para nossa segurança, vamos descer da charrete. O bicho pode querer pular e nos machucar. Desçam as crianças e vou tirar a mula da charrete. Se ela não quiser puxar a charrete, amanhã cedo volto aqui e levo. Falta pouco para chegarmos. Você carrega a menina pequena e os outros vão andando. É melhor deixar o animal aqui.

Assim o fez. Tirou a mula da charrete. Fez um pouco de força, mas deixou a mula fora e encostou a charrete próxima a uma árvore. Assim que terminou, um forte clarão, ou seja, uma luz muito forte envolveu toda a família. Poderia ver até as pedras ao redor deles. Não foi por muito tempo, mas uns dois minutos. Ficaram assustados e as crianças começaram a chorar.

A mula, ao sentir a iluminação em seu lombo, empinou a cabeça e saiu correndo em direção ao sítio do casal. Ficaram todos a pé. Surpreendentemente, Manoel enxergou, próximo da ponte, um galo da raça gigante, que pulava como se fosse um sapo.

Meio assustado com a luz e vendo que as crianças pararam o choro, ele disse:

- Olha só um grande galo. É da raça gigante. Domingo é meu aniversário e ele será bem se for servido com uma bela sopa de macarrão, aquele macarrão goela de pato, que comprei na cidade. Vamos, Joaquim (o filho mais velho) vamos pegá-lo.

Saíram os dois correndo atrás do galo e não demorou muito, eles se aproximaram da esposa e dos outros filhos com o galo debaixo do braço. Era o grande galo, mas tinha somente uma perna.

Felizes, chegaram ao sítio, que ficava mais ou menos uns dois quilômetros dali. Na porteira, encontraram a mula que estava impaciente e se acalmara com a chegada deles.

Abriram a casa e a família entrou. Joaquim segurava o galo fortemente e dizia para seu pai que o galo estava queimando sua barriga. Pegaram um balaio forte no paiol e puseram o galo dentro. Duas pedras bem pesadas foram postas acima do balaio para que a ave não fosse embora.

Já cansados, deitaram e dormiram, com exceção do casal, que faziam os planos para comer o galo com macarrão.

Em um dado momento, sentiram que o quintal da casa ficou muito iluminado. As crianças dormiam o sono bem profundo e casal correu para o quarto, para junto dos filhos.

O quintal ficou iluminado por mais de meia hora. O estranho é que a luz da residência, que era gerada por usina do açude, ficou muito forte e fraca ao mesmo tempo, vindo a se apagar e ficaram totalmente no escuro.

Bem assustados, eles abraçaram-se e ficaram perto dos filhos. O quintal ficou completamente escuro e a luz da residência voltou instantaneamente. Dormiram.

No outro dia, quando Manoel se levantou e foi até o quintal para ver como estava seu galo, que seria o jantar, ficou assustado. Chamando a esposa e os filhos, o balaio, as pedras e o galo não estavam lá mais. Procuraram por toda parte e nenhum sinal deles, a não ser suas galinhas e animais que já existiam no sítio. No lugar onde o galo foi colocado, viram que a terra estava queimada e vários rastros foram vistos e neste local, até os dias de hoje jamais nasceu qualquer planta e a temperatura é sempre mais quente que nos outros lugares.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 01/09/2018
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