A Terra Não é Mais Azul - Os Últimos Reis. Prólogo.

Prólogo

"Boa Noite! Seleção Brasileira perde mais uma partida das eliminatórias e corre o risco de ficar fora da copa do mundo do próximo ano na China! Governo anuncia aumento de 3% no imposto sobre o consumo de água! E o Brasil se torna o maior exportador do líquido para os países Árabes! Avião desaparece misteriosamente e já é o décimo quarto desaparecimento desde o caso do vôo 815 da Oceanic Airlines em 2004! Protestos do sindicato dos motoristas contra veículos conduzidos por inteligência artificial causam danos e estragos pelas ruas do país! Realizado com sucesso mais um transplante de coração criado por biotecnologia a partir de células tronco. Baleia Willy que sumiu na Austrália pode ter sido devorada por monstro gigante! Está no ar o seu Jornal da Noite com os assuntos que foram notícia nesta quinta feira, vinte e sete de janeiro de 2033!"

Era uma noite de verão muito quente e sufocante, nenhum condicionador de ar ou ventilador de última geração pareciam reverter aquele calor infernal. A luminosidade azulada provocada pela enorme e finíssima televisão presa a parede, era o que clareava um pouco aquela escura e melancólica sala de apartamento. Sentada em seu sofá, atirada com os braços e pernas abertas, uma mulher assistia ao telejornal enquanto o suor pingava de sua sobrancelha, escorria por seu rosto e pescoço, encharcando sua camiseta dos Beatles. Parecendo irritada, ou triste, ela levanta e vai até a janela, se debruça no parapeito, e do alto do sétimo andar do edifício observa as luzes, a movimentação, os gritos e altas gargalhadas, as buzinas e o congestionamento dos carros na rua. No céu sem estrelas dezenas de Drones Express cruzavam acima dos prédios, e ainda mais acima deles, se enxergava um trafego aéreo intenso de aeronaves piscando suas luzes coloridas pra lá e pra cá. De pés descalços a mulher abandona a janela caminhando até a cozinha, prende seus cabelos loiros suados em um coque, e da geladeira pega uma lata de Skol Space, bebe dois grandes goles da cerveja e com a porta aberta fica observando suas prateleiras vazias. Sem encontrar o que desejava pega uma cubo d’água e volta para a sala. Bebe mais dois goles da lata de cerveja, retira sua camiseta e senta nua no sofá, fica trocando os canais da TV com simples gestos de mão, enquanto termina de tomar sua cerveja.

Joga a lata com força no canto mais escuro atingindo o que parecia ser um porta-retratos em cima de uma mesa. Abre a tampa do cubo de água e derrama um pouco do liquido na palma de sua mão, em seguida passa em seu rosto a fim de se refrescar.

- Meeerda! Ela diz suspirando.

Tudo aconteceu muito rápido, a sala é tomada por um flash, veloz como um relâmpago. Uma luz extremamente muito forte, como se fossem ligados ao mesmo tempo centenas dos faróis mais potentes, entra pela janela do apartamento e clareia a sala deixando tudo invisível, uma camada totalmente branca diante dos olhos.

Aos gritos, apavorada, a mulher não tem a mínima ideia do que poderia ter sido aquilo. Sem enxergar nada, cega por causa do reflexo que atingiu sua vista ela vai devagar tateando os móveis em direção a janela. Esfrega os olhos, pisca, os arregala e aos poucos aquela claridade vai esmaecendo e sua visão voltando ao normal. Na rua uma escuridão total toma conta de tudo, havia faltado luz, somente as sinaleiras dos veículos e seus alarmes funcionavam.

- Merda! Que porra foi esta? Era só o que me faltava, um calor desgraçado e ainda por cima me falta luz! Pensa a loira toda descabelada por causa do susto que levou.

Ela se estatela desanimada no sofá, com o rosto entre almofadas, apalpa a mesinha de centro a procura de seu Iphone 20s, encontra-o, com dificuldades cerrando os olhos tenta ver as horas, destrava o aparelho, porém a bateria acaba antes que ela consiga.

- Merda! Novamente ela dizia suspirando quando...

Do nada, um som extremamente grave começa a soar intenso e vibrante como um ribombar constante de um trovão supersônico que parecia nunca chegar ao fim. A vibração causada é tão violenta que além de derrubar objetos e livros das estantes gera uma rachadura na parede. E então do mesmo jeito que iniciou, do nada, de repente ele para, causando um vácuo sonoro, um silencio profundo.

Desesperada, agora ainda mais assustada, em pânico com os nervos a flor da pele, a mulher esquecida de que seu telefone está sem bateria, tremendo muito tenta ligá-lo sem sucesso. Outra vez ela vai até a janela olhar o que acontece na rua; a cena é parecida com a anterior, alarmes, faróis piscando e pessoas assustadas, a diferença é que está tudo bagunçado, vidros quebrados e destroços espalhados pelo chão, parecia que o local acabará de ser atingido por um terremoto.

Curiosos saem para a rua tentar descobrir o que aconteceu, mas não a mulher loira, ela retorna e volta a se sentar no sofá, e controlando a respiração bebe a água para tentar se acalmar.

- Que porra tá acontecendo? O que eu faço? Não deve ser nada! Não tem nada que eu possa fazer, não vou ir assustada para nenhum lugar atrás de qualquer coisa que seja! Amanhã de manhã cedo tenho que ir trabalhar! Vou tomar banho e dormir.

O banho é gelado e demorado, a água escorre relaxando e refrescando seu corpo, deixando a pele da mulher toda brilhosa refletindo a luz do luar enquanto ela sorri lembrando-se de algo. Molhada, pingando ela para na pia e na penumbra se olha no espelho, abre a torneira de metal e observa a água escorrer pelo ralo, passa o creme dental na escova de dente e escova-os devagar, cospe, forma uma concha com a mão, enche de água, e ao enxaguar a boca cospe novamente estranhando o gosto. Sem se enxugar ruma para o quarto, toma um de seus remédios noturnos, e enfim deita a cabeça no travesseiro, pois amanhã tudo voltará ao normal, o calor continuará a torturar a todos, a luz já deverá ter voltado e o trabalho será igualmente cansativo e rotineiro como todos os dias.

A mulher acorda assustada, horas depois do que deveria, nenhum dos seus despertadores tocou para acordá-la, atrasada começa a procurar suas roupas, os fracos raios de sol que adentram por sua janela não são suficientes para clarear, então ela resolve ligar a luz, “CLICK” faz o interruptor, mas a lâmpada não acende.

Eram onze horas da manhã e a luz ainda não tinha voltado.

Jovito Rosa
Enviado por Jovito Rosa em 03/11/2018
Reeditado em 03/11/2018
Código do texto: T6493284
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