Grupo Avançado

No briefing de segunda de manhã, todos os técnicos sentados em cadeiras universitárias na sala de reunião obscurecida, a supervisora Ruth nos informou que os militares haviam declarado a região em torno de Eycaster como "segura". Antes da guerra, Eycaster havia sido um importante centro financeiro, ocupando uma ilha próxima ao litoral, no sul do continente. Era compreensível que quisessem fazer logo uma avaliação preliminar dos ativos, pois a infraestrutura existente poderia nos economizar investimentos mais necessários em agricultura e assistência médica.

- Notem que a região ao redor de Eycaster é que foi considerada limpa... os militares não se deram ao trabalho de esquadrinhar cada prédio e buraco da cidade, pois isso levaria anos - alertou-nos didaticamente a supervisora, de pé ao lado do telão onde era projetado um vídeo gravado por drone, voando à cerca de 10 m de altura sobre as ruas entulhadas de destroços e carcaças enferrujadas de veículos.

- Supervisora, suponho que não teremos que entrar nos prédios para fazer avaliações - arguiu um dos meus colegas, Juarez.

- Na verdade, a Administração dos Territórios demandou que fossem avaliados especificamente quatro locais em Eycaster: a prefeitura, o Centro Comercial Cradel, o quartel da Polícia Metropolitana e o Complexo Hospitalar Berceaumès - replicou, no mesmo tom tranquilo de antes. - E antes que alguém fale em aumento na apólice do seguro, foram liberadas duas unidades ADA-III, uma para cada equipe em solo.

- Significa que teremos apenas quatro técnicos para fazer a avaliação? - Questionou Jana, minha parceira habitual de trabalho. - Cada um desses prédios que citou têm vários níveis e dezenas de milhares de metros quadrados de área construída! Como vamos dar conta desse trabalho com apenas duas equipes?

Ruth ergueu as mãos, como para que nos apaziguar.

- Calma! Vocês terão cinco dias para completar a tarefa... basicamente, vão acampar na cidade. Os militares estabeleceram alguns pontos seguros onde poderão passar a noite, caso não pretendam fazer isso nos locais citados. E vocês terão todo o dia de hoje para examinar a documentação e os mapas da região e das construções a serem avaliadas. Os designados para a missão só irão partir amanhã pela manhã.

- E quem vai? - Indaguei.

- Você, Lucas, e Jana, que são os mais experientes, claro - redarguiu a supervisora. - E Martim e Susana, que estão merecendo pegar um trabalho de maior complexidade.

Todos os demais técnicos presentes aplaudiram, mais de alívio do que para nos parabenizar. Aquele era o tipo de serviço que ninguém queria, mesmo com bônus extra e sob a proteção de unidades ADA.

- Os quatro citados ficam, os demais podem voltar às suas atividades de rotina - comandou a supervisora.

Nossos colegas saíram rápido da sala, talvez temendo que Ruth mudasse de ideia e resolvesse requisitar mais uma ou duas equipes para trabalhar em Eycaster. Quando restamos apenas nós cinco, ela desligou o projetor pelo controle remoto e acendeu as luzes. Apoiou-se na mesa ao lado do telão e nos encarou com ar pensativo.

- Bem, agora que os outros saíram, tenho uma confissão a fazer a vocês...

Como continuamos em silêncio, ela prosseguiu:

- Os militares, na verdade, não puseram os pés em Eycaster; limitaram-se a despachar alguns drones para fazer tomadas aéreas e varreduras de infravermelho. Com base nisso, classificaram a região como segura.

- E os tais pontos seguros de que falou? - Indagou Jana friamente.

- Jogaram o material de helicóptero - admitiu ela.

Susana cobriu o rosto com as mãos, cotovelos apoiados na prancheta da cadeira.

- Os militares não se arriscaram em descer na cidade, e nós, técnicos, teremos que fazer isso? - Sussurrou ela, de olhos fechados.

- Por isso as unidades ADA - explicou Ruth.

Martim deu de ombros, tentando parecer confiante.

- É sempre melhor do que nada... e já que não detectaram nada no infravermelho...

Jana suspirou.

- Ruth, avise ao Martim que a varredura por infravermelho não lê abaixo do solo.

- É fato - corroborou a supervisora. - Mas esse é o nosso trabalho, estamos sendo pagos para fazê-lo.

- Terceirizados são sempre mais baratos do que soldados - comentou Jana, em tom amargo.

[Continua em "Cidade Morta"]

- [15-05-2019]