O dia em que os robôs decidiram exterminar os humanos

Há décadas os humanos inventaram máquinas inteligentes. Elas se voltarão contra os seus criadores? E criadores e criaturas travarão batalhas pelo domínio do planeta? Os criadores suplantarão as suas criaturas? As criaturas sobrepujarão os seus criadores? Os eventos aqui narrados responderão tais perguntas. No futuro não muito distante sucederam-se incidentes que responderão às perguntas que afligem, nesta era, os humanos. Nas próximas linhas, relatarei fatos, que os humanos desta era não podem prever, os quais eu, um homem da minha era, lhes posso revelar.

Deu-se na América do Norte a primeira escaramuça entre humanos, robôs e andróides. Sem prévio sinal, os robôs principiaram os ataques, surpreendendo os humanos. E nenhum humano ousou, informado dos primeiros combates, vaticinar o desenrolar e o desenlace da guerra que se principiava. Surpreenderam-se todos com a notícia: Na América do Norte, na megalópole de Washington, robôs e andróides batiam-se entre si e robôs atacaram humanos. Não havendo, nesta era em que estamos, já avançada em muitos aspectos, máquinas visionárias, os humanos, repito, nada podem saber do futuro; eu, digo uma vez mais, um homem da minha era, posso relatar os eventos que se sucederam daqui alguns séculos.

Principiaram-se, repito, os conflitos, que logo recrudesceram e assumiram proporções bíblicas, primeiro, na megalópole de Washington, capital dos Estados Unidos da América, a nação soberana mais poderosa do mundo, e, na sequência, nas cidades de Tóquio, no Japão, e Bombaim, na Índia. Não ignoram os homens da minha era algumas peculiaridades de alguns eventos inusitados, intrigantes e surpreendentes que antecederam o início da sublevação dos robôs, eventos que não foram previstos pelos serviços de inteligência humana e que se sucederam, rapidamente, na antevéspera e na véspera da eclosão dos ataques dos robôs contra andróides e humanos.

Congregações de robôs poderosos, imbuídos de extraordinário talento de persuasão, adicionaram às suas hostes, às escondidas, milhares de humanos ao incutir-lhes ânimo revolucionário e aversão à civilização humana. E sublevaram-se. E converteram a megalópole de Washington num campo de batalha. Avassalaram Washington. Destruíram bairros inteiros. Reduziram a escombros prédios imensos e arranha-céus grandiosos e construções dos séculos dezoito, dezenove, vinte e vinte e um. Desmantelaram estátuas e palácios.

O ataque, planejado com elaboradas estratégia e tática, desfecharam-no os robôs à perfeição. Os robôs saíram incólumes dos primeiros entreveros, excetuados algumas dezenas deles, que foram avariados, mas não a ponto de serem inutilizados; e foram da ordem das centenas de milhares os humanos mortos.

Os andróides, em resposta ao repentino ataque desfechado pelos robôs, organizaram-se, e constituíram, em questão de horas, um grupo distinto, independente, poderoso, e baterem-se com os robôs e com os humanos aliados dos robôs, e sobrepujaram, em algumas batalhas, algumas memoráveis, os seus adversários; decididos a se conservarem independentes, não propuseram, no início, alianças nem aos humanos, tampouco aos robôs, mas dado o caos que se instalou não muito tempo após o início dos confrontos, misturando-se as personagens, aliaram-se aos humanos que lutaram contra os robôs.

Sucederam-se os eventos, numa sequência tão estonteante, que sou incapaz de reproduzir o, e mal posso dar idéia do, que ocorreu naquele dia, um dia que os humanos das eras que se sucederam à minha era e os humanos da minha era desejamos esquecer, o dia que poderia ter sido o último dia da existência da espécie humana, o seu epílogo. Vaticinou muita gente um futuro sombrio para os humanos, futuro que não se concretizou. Suspeita-se que os robôs alimentaram, durante décadas, séculos talvez, sentimentos antagônicos pelos humanos, seus criadores, deles conservando-os ocultos por meios que os mais eminentes estudiosos da robótica desconhecem.

E sucederam-se as batalhas. A guerra assumiu proporções inabarcáveis e aspectos indescritíveis. Imbricaram-se os grupos em conflito. Os desencontros de informações confundiram os humanos. Humanos associaram-se aos robôs, impelidos por sentimentos de apreço por eles e de desapreço pelos humanos; outros, em favor de interesses pessoais, para obtenção de vantagens, não se acanharam em produzir prejuízo aos humanos. Facções de andróides lutaram entre si. Facções de humanos batiam-se umas contra as outras. Facções compostas de andróides e humanos declararam guerra, umas, aos robôs, outras, aos humanos, outras, aos andróides. Facções constituídas de robôs e andróides tinham, umas, nos andróides, os inimigos, outras, nos humanos. Facções cujos integrantes eram robôs e humanos estavam, umas, decididas a exterminar os andróides, outras, os humanos. Das três espécies envolvidas nos conflitos, a dos robôs era a única que não estava debilitada por facções rivais, visceralmente hostis umas às outras; daí ser bem-sucedida em todas as batalhas que travou contra as suas duas espécies inimigas, que, ocupadas, ambas, com o inimigo em comum, a espécie dos robôs, tinham de se haverem contra as facções rivais que surgiam no seu próprio seio.

Degradaram-se, logo nas primeiras horas após o início dos combates, as condições de sobrevivência, na megalópole de Washington, e, não muito depois, em Bombaim e em Tóquio. Nas precárias condições de subsistência às quais se reduziram, milhões de indivíduos não encontravam provisões para suprir as suas necessidades imediatas, cortados os canais de comunicação entre produtores, fornecedores, distribuidores e consumidores. E logo escasseou, nas prateleiras dos supermercados, os víveres, levando ao desespero as pessoas que deles estavam privadas. A escassez de alimentos, que já ocorrera, num momento em que Bombaim, e toda a Índia, enfrentava a carestia, aprofundaria a fome; e o medo, o desespero e o terror logo espalharam-se por todo o país hindu e pelo sudeste da Ásia. E a notícia das conflagrações nas três megalópoles logo alcançou todos os pontos do mundo, conectados numa rede de informações que alcança os rincões da América do Sul, da Ásia e da África. E as imagens do morticínio as viram todos os humanos. E instalou-se o caos em toda a civilização.

Das três espécies em conflito era a humana a mais numerosa e a mais melindrosa; os robôs, os menos numerosos, os mais resistentes e os que tinham o controle de todas as máquinas e, praticamente, o governo da civilização, pois estavam presentes em todos os sistemas mecânicos; e os andróides eram dotados da fragilidade humana e da resistência robótica.

Na órbita da Terra, além da Lua, numa grandiosa estação espacial, os líderes das nações desnortearam-se assim que lhes notificaram dos conflitos que eclodiram na Terra. Aterrados, estupidificados, preocuparam-se com a proliferação de sublevações, que grassavam na Terra, e que logo, previram, soturnos, eclodiriam na estação espacial, ou após um dia, ou dois dias; não vislumbraram o futuro imediato isento de conflitos compostos dos mesmos ingredientes que constituíam os que se davam na Terra. As relações entre as três espécies deterioraram-se assim que as notícias chegaram à estação espacial. Fitavam-se, desconfiados, os indivíduos das três espécies. E humanos, dadas as notícias de associação, na Terra, entre humanos e robôs, e as de andróides e robôs, suspeitaram de humanos e dos andróides, e viram os robôs como inimigos viscerais. Muitas amizades não sobreviveram às suspeitas; logo romperam-se os laços de confiança entre os humanos. E deu-se, simultaneamente, a desconexão entre os criadores, os humanos, e as criaturas, os andróides e os robôs.

Sob o império do medo, alvoroçaram-se os humanos, impotentes diante da revolta dos robôs e seus aliados humanos e andróides. E perturbava-os a perspectiva de sucessivos ataques.

Pronunciaram-se, em rede mundial, os presidentes das principais nações. Pretendiam reconfortar os humanos. Enquanto isso, seus secretários e os estrategistas militares tratavam, nos escritórios secretos, de estabelecer estratégias de retaliação aos ataques desfechados pelos robôs e seus aliados humanos e andróides e de antecipação aos que eles planejavam.

E desenrolou-se a guerra num crescendo assustadoramente rápido. E os humanos não encontraram meios de conter os revoltosos. E logo os conflitos estouraram nas megalópoles de São Paulo e de Manaus, no Brasil; Buenos Aires, na Argentina; Novo México, no México; Xangai e Pequim, na China; Johannesburgo, na África do Sul; Cairo, no Egito; Berlim, na Alemanha; Londres, na Inglaterra; São Petersburgo, na Rússia; Paris, na França; Sidnei, na Austrália; Nova York e Los Angeles, nos Estados Unidos; Calcutá, na Índia; Seul, na Coréia do Sul; Lagos, na Nigéria; Jacarta, na Indonésia; Karachi, no Paquistão; e Dacca, em Bangladesh. De todas estas megalópoles a de Manaus foi a primeira que os robôs atacaram.

Soubemos os humanos, então, qual robô liderava as sublevações: Dragão Cinzento, assim alcunhado devido à cor do seu corpo. E os humanos o rebatizamos de Nêmesis. Sabíamos, agora, os humanos, quem teríamos de combater; quem teríamos de caçar, mas estávamos, sabíamos, um passo atrás dele; sabíamos que, se destruído (alguns disseram ‘morto’) Nêmesis, poderíamos restituir a ordem e restabelecer a paz, mas não sabíamos como fazê-lo; além de poderoso, Nêmesis era protegido por inúmeros robôs. Era Dragão Cinzento um robô enorme; seu formato, assemelhado ao do corpo humano, era repleto de arestas. Tinha ele quatro metros de altura. Integrava, até antes da revolta dos robôs, uma equipe de robôs atletas. Era o mais avançado deles; suplantava todos os outros robôs, em todas as competições esportivas de robôs. As suas realizações esportivas atraíram-lhe a atenção de humanos de todos os quadrantes do universo. Era um robô espetacular, uma das maravilhas da tecnologia. Os humanos o admirávamos, e todos os outros construtores de robôs esforçavam-se, em vão, durante as duas décadas de domínio absoluto de Dragão Cinzento, para construir um robô tão poderoso quanto ele, outros, um que o sobrepujasse em todas as modalidades esportivas. Nas corridas, ele era o mais rápido; atingia a velocidade de mil, duzentos e oitenta quilômetros por hora; nas corridas de mil metros de extensão, ele chegava ao fim da pista enquanto o robô que ia logo após ele mal tinha coberto oitocentos e cinquenta metros. Na maratona de mil quilômetros, ele era inigualável; quando ele a concluía o robô que, após ele, tinha o melhor desempenho, encontrava-se na altura do quilômetro novecentos e vinte. Na competição de salto em distância, ele pulava dois mil, quatrocentos e sessenta e dois metros, e na de salto em altura, setecentos e noventa e um metros, enquanto o seu principal rival, na primeira, saltava mil, novecentos e oitenta e sete metros, e, na segunda, seiscentos e noventa e cinco metros. Arremessava uma esfera compacta de uma tonelada de peso a mil e duzentos e trinta e três metros de distância. Era imbatível em todas as competições. E foi este robô que, soubemos os humanos, para a nossa surpresa, frustração, desilusão e desgosto, comandou as hostes de robôs rebeldes contra os humanos. Ao conhecermos a identidade do robô que conclamava os robôs à luta, cooptava andróides e humanos à sua causa apocalíptica, os humanos nos perguntamos quais foram as razões que o impeliam a se voltar contra os humanos, que tanto o admirávamos. A nossa admiração por ele não encontrava limites, e muitos dentre nós recusaram-se a acreditar que ele agia por vontade própria e suspeitavam que o criador dele, o qual desconhecíamos, lhe havia injetado programação hostil aos humanos, desculpando ele, Dragão Cinzento, agora Nêmesis, de todos os crimes que cometeu. Estarrecidos, não sabíamos o que pensar. Atormentados, prefigurávamos um futuro escatológico dentro de pouco tempo, se não se barrasse o avanço dos robôs.

Em seu ataque a Manaus, os robôs, primeiro, a alvejaram com saraivada de bólidos explosivos, que lhe abriram, nas avenidas, nas ruas, nos parques e nos jardins, crateras, e arruinaram prédios, casas, estádios, reduzindo muitos deles a cinzas; e as chamas dominaram vastas regiões da megalópole. E morreram, carbonizados, centenas de milhares de humanos, e, sufocados pela fumaça, outros centenas de milhares, e outros centenas de milhares esmagados sob os escombros; e, atropelados e pisoteados naquela turbamulta indescritível, outros dezenas de milhares; e outros milhares afogados; e de parada cardíaca fulminante, tamanho o horror que os aterrorizaram, morreram outros milhares de humanos. Em seguida, dispararam os robôs, contra Manaus, uma chuva de flechas elétricas, que eletrocutaram os que elas atingiram, e, cravados nos corpos, dispararam faíscas eletrificadas, que atingiram outros humanos e os carbonizaram. E fez-se o pandemônio. As pessoas corriam sem destino, apavoradas, aterrorizadas, a fim de escapar aos bólidos e às flechas, e abrigavam-se nos prédios, que mal lhes ofereciam proteção, pois, atingidos por inúmeros bólidos explosivos, ruíram, e os que não ruíram, arderam em chamas, que queimaram muitas pessoas, e, estilhaçados, os vidros das suas janelas, feriram e mataram muita gente; e destroços caíram sobre muitas pessoas que nos prédios buscaram refúgio, matando-as. E intensificaram os ataques os robôs após a primeira salva de disparos de bólidos explosivos e flechas elétricas. E multiplicaram-se por dez os mortos.

Uma explosão ensurdecedora, seguida, em intervalos de menos de um segundo, de outras quatro, enublaram o céu de Manaus, naquele dia ensolarado. E predominou a escuridão fúnebre. Dos ares convergiram para Manaus milhares de robôs voadores, que arrostaram os humanos e os andróides, matando-os às centenas de milhares ao alvejá-los com partículas corrosivas. Das intrincadas tubulações do subterrâneo da megalópole emergiram robôs de variados tipos e tamanhos. Os robôs provocaram um êxodo de milhões de humanos e andróides rumo aos municípios vizinhos, que transbordaram de pessoas, e não eram capazes de oferecer-lhes abrigos e víveres, de atenderem aos feridos, e de conterem os afetados por surto psicótico. Rechaçaram os robôs os poucos policiais, que, mesmo empunhando armamentos potentes, não podiam lhes impor resistência. De inúmeros locais da América do Sul convergiram para Manaus tropas humanas, e os robôs sublevados, associados a humanos e andróides revoltosos, as rechaçaram.

Um prédio de mil metros de altura, dardejado por milhares de raios, ruiu. Morreram, durante o ataque, e enquanto o prédio ardia em chamas e ruía, três dezenas de milhares de pessoas. Reduziu-se o prédio a escombros. Milhares de toneladas de metais retorcidos, concreto, móveis, vidros, plásticos, inúmeros tipos de polímeros e outros materiais amontoaram-se onde antes havia um dos maiores prédios jamais construído. E estilhaços foram arremessados a centenas de metros de distância, e muitos deles atingiram pessoas, matando-as; e uma nuvem de fumaça constituída de detritos elevou-se no céu de Manaus, alcançando, em pouco tempo, a altura de dois quilômetros e ocupando a área num raio de mais de cinco mil metros. A força do deslocamento do ar que se sucedeu à queda daquele imenso edifício ceifou a vida de milhares de pessoas. Muitos corpos foram carbonizados. Muitos desapareceram sob a pressão de toneladas de materiais que constituíam a estrutura de tão majestoso edifício. Os desaparecidos contam-se na casa dos milhares. Via-se, em diversos pontos da megalópole, dezenas de milhares de pessoas machucadas, umas com ferimentos profundos, outras carregando ferimentos superficiais, o rosto de todos transparecendo medo e dor. Homens e mulheres, idosos, adultos, jovens, crianças e recém-nascidos, exibiam machucados em um ou mais pontos do corpo; uns traziam, quebrada, a perna, a direita ou a esquerda, outros, quebradas, as pernas, uns, quebrado, um braço, ou o direito, ou o esquerdo, outros, quebrados, os braços, uns, decepada, uma das mãos, outros, decepadas, as duas mãos. Todas as pessoas choravam, gritavam, gemiam, berravam. Não eram poucas as que estertoravam espasmodicamente. Muitas traziam, embargados, os olhos, outras, disforme, o rosto. De algumas pessoas foram suprimidos todos os traços humanos. Distinguiam-se, muitas, pela aparência, bizarra a de umas, fantasmagórica a de outras, teratológica a de centenas, em decorrência dos ferimentos que lhes recortavam o corpo, desfiguraram o rosto, e do terror-pânico que as avassalava. Havia, espalhados pela megalópole, corpos estraçalhados, cabeças, pernas e braços, vísceras, e poças de sangue estagnado, e cadáveres de humanos e de animais. E não haviam transcorrido duas horas, Manaus já estava reduzida a escombros, crateras, cadáveres, metais retorcidos, e poucos eram os sobreviventes, raros deles os ilesos, todos impotentes, indefesos, naquele pandemônio, que se lhes afigurava o inferno.

Manaus, outrora exuberante, esplendorosa, converteu-se numa carcaça fétida, infestada de cadáveres, enfumaçada, ardendo em fogo, explosões a ribombarem em milhares de pontos.

Helicópteros e aviões sobrevoaram Manaus. Recolheram os vivos, humanos e animais, e os levaram para outras cidades.

Enquanto o povo, amargurado, sofrido, desesperançado, imergia num oceano de lágrimas, governantes, impotentes, em palestras intermináveis, tratavam da retaliação aos robôs. Não foram poucos os que propuseram a capitulação. Autoridades de alta patente, condecorações a vergarem-lhes a espinha, propuseram o ingresso de tropas humanas nas hordas robóticas, e tal proposta a rechaçaram, terminantemente, todos os homens de brios. As escaramuças verbais estendiam-se indefinidamente, e os que nelas envolveram-se, alertaram os sensatos, desperdiçavam tempo precioso, que poderia ser ocupado com propostas realistas, que iriam ao encontro de ações que redundariam no combate efetivo aos robôs revoltosos e seus aliados humanos e andróides - ações dificultadas, para alguns impossibilitadas, devido à destruição, pelos robôs, dos arquivos dos serviços de inteligência. As controvérsias redundaram, e não poucas vezes, em agressões físicas.

Devastada Manaus, sobreveio a histeria; e a carnificina; dentre os sobreviventes, muitos, perdida a razão, caçaram e mataram crianças, e, com voracidade insaciável, as devoraram, numa exibição gritante de animalidade; deles excluído todo vestígio humano, converteram-se em seres bestiais, dotados de ferocidade irrefreável. Nunca os humanos haviam se reduzido à condição tão deplorável, num intervalo tão curto de tempo. Somos os humanos tão fracos, que sucumbimos tão facilmente, tão rapidamente, à nossa animalidade? Muita gente concluirá: Sim, somos extraordinariamente frágeis, insignificantes. E eu tenho de divergir de todos os que chegarem a tal conclusão. Vivi experiências terríveis durante a sublevação dos robôs, e nos dias, semanas, meses e anos subseqüentes. Chegaram ao meu conhecimento histórias protagonizadas por indivíduos diabólicos, emergidos das catacumbas do inferno, saídos do ventre do Diabo. Aterrorizaram-me tais relatos, muitos deles, proverbiais, eternizaram-se na memória dos humanos, e, encadeados, compuseram poemas escatológicos. São inspiradoras, no entanto, outras histórias, cujos protagonistas eram, uns, heróis, outros, sábios, indivíduos dotados de coragem rara e de um senso de dever moral e de amor à vida que engrandece e enaltece, com provas inegáveis, a espécie humana. Histórias que me persuadiram de que nos inspira uma parcela da inteligência divina. As personagens que animam tais relatos encheram de esperança os sobreviventes, que não desistiram de seguir com a vida. São extraordinárias, grandiosas; as suas façanhas heróicas as relataram poetas e prosadores primorosos, que as souberam transpôr, os primeiros, para poesias heróicas e épicas, e os segundos, para a prosa ática. No momento em que a história exigiu-lhes sacrifícios, elas atenderam aos seus deveres com denodo, fazendo-se, ouso dizer, deuses, e em homenagem a elas esculpiram-se estátuas que representam, delas, a grandiosidade dos tipos e dos feitos. E as cultuamos os humanos.

Um homem, meu amigo, cujo nome não dou a conhecer, em respeito a ele e para preservar-lhe a reputação de homem digno que ele conquistou com as suas ações heróicas desde muito antes da tragédia que se abateu sobre a humanidade e com a coragem que exibiu no enfrentamento das adversidades, e em consideração por sua memória, meu amigo, prossigo, aquele homem nobre e digno, reduzido à bestialidade, não muitos dias após a destruição de Manaus, locomovia-se como os símios e grunhia e rosnava como uma fera. Um espetáculo indizível. Aterrorizadora, a rapidez da sua regressão à inumanidade. Não foi este o único indivíduo que eu conhecia que se converteu num ser abjeto; e muitos deles eram, até então, corretos. E não foram poucos os que assumiram uma dimensão heróica, grandiosa, quando os contratempos sucederam-se. São estes heróis anônimos. Merecem ter seus nomes escritos no panteão dos heróis e seus bustos exibidos, para admiração pública, em todos os palácios, mas a história não lhes registrou os nomes, tampouco o rosto. O valor deles, todavia, engrandece a espécie humana.

A ajuda enviada a Manaus reconfortou muita gente, mas estava aquém do mínimo indispensável para restabelecer a ordem.

Prendi-me, neste meu relato, nos eventos que se sucederam em Manaus; pouco, ou nada, eu disse do que se deu em Washington, Bombaim e Tóquio porque sou um dos sobreviventes de Manaus. Vivi experiências terríveis, vi cenas indescritíveis, presenciei atos inenarráveis. E, para não sonegar informações acerca do sucedido em Washington, Tóquio e Bombaim, as três primeiras megalópoles que se defrontaram com robôs, e tampouco a respeito das outras megalópoles que já mencionei, digo, e, presumo, muitos que me ouvem prevêem o teor das minhas palavras: todas as megalópoles tiveram o mesmo destino de Manaus: a aniquilação. E poucos foram os sobreviventes. E o êxodo, bíblico.

E pronunciaram-se os governantes, que, desarvorados, conclamaram os humanos à renovação da esperança. Vaticinaram dias melhores. Noticiaram as providências já tomadas, e as que tomariam, para o enfrentamento aos robôs e aos humanos e aos andróides que a eles aliaram-se. Poucos foram os que se persuadiram da substância alvissareira dos discursos. Até então foram baldados todos os esforços despendidos, pelos humanos, na contenção dos revoltosos, e raríssimos eram aqueles que, diante dos fracassos fragorosos das ações humanas, orquestradas nos altos escalões dos governos das mais poderosas nações, nutriam a esperança de presenciarem uma reversão no rumo dos acontecimentos.

Vaticinaram os profetas o extermínio dos humanos, a extinção da vida, o fim do mundo. As palavras escatológicas dos anunciadores do apocalipse ecoaram nos ouvidos receptivos de centenas de milhões de pessoas, que, caídos num precipício de desespero, de horror, anteviram o futuro que para elas estava reservado, e sucumbiram, umas, na apatia e indiferença debilitantes, outras, na descrença, e outras, na passividade suicida, todas, sem forças, delas eliminado o ânimo que lhes permitiria reagir às adversidades que teriam de encarar nos dias que se aproximavam; não foram poucas as que integraram seitas, que lhes exigiram a doação de todo o patrimônio e o subseqüente suicídio; e muitas foram as que atenderam às exortações dos oportunistas, que se apresentaram como gurus revestidos da sabedoria universal dos deuses que governavam o cosmos, dos quais receberam o olho que tudo vê, e tudo sabe, olho de propriedades espirituais, olho que vê além, no tempo, e no interior do espírito, olho conhecedor do destino de todos e de tudo o que está registrado no livro da vida. Com discursos com tal conteúdo, os vigaristas conquistaram milhões de prosélitos, que lhes encheram as burras de ouro, tornando-os os homens mais ricos do mundo, os quais, nos anos subseqüentes, ostentaram riqueza que em nenhuma outra época da história da civilização alguém havia conseguido amealhar, e com ela promovem políticas do próprio interesse, reprováveis, e obrigam chefes de estado curvaram-se perante eles, e espoliam os povos de suas riquezas, cavando um fosso entre os que se banqueteiam, em castelos suntuosos, com refeições nababescas e o povo, cuja alimentação mal lhe dá o mínimo que lhe permite a subsistência, e cujas residências, tugúrios pestilenciais, não lhe oferecem o mínimo de conforto.

Os robôs subjugaram e capturaram milhões de humanos e andróides, e os conduziram às entranhas labirínticas das megalópoles e os reduziram à escravidão, e os submeteram, sem alimentos, a trabalhos exaustivos, até esgotarem-se-lhes as forças, e tombarem, vivos, uns, mortos, outros; os mortos, eles os cremaram, e os vivos, inúteis agora, eles os mataram, enfiando-lhes, no peito, uma lâmina, e os esquartejando, e, ato contínuo, cremando-os. Os robôs não queriam humanos vivos: Matariam os robôs todos os humanos, e os cadáveres eles os cremariam, e dos humanos não sobraria nenhum vestígio.

Em conciliábulo, Nêmesis e seus subordinados imediatos urdiram outros ataques aos humanos, e anteciparam-se às retaliações que os humanos lhes preparávamos, e as anularam, pois conheciam os planos que os humanos concebíamos contra eles.

Cientistas explicaram aos estrategistas militares o funcionamento de Nêmesis, sua programação, sua tecnologia, o seu nível de inteligência, o seu grau de independência, os recursos que lhe permitiam se aprimorar dispensando-se a participação humana, quais alterações em si mesmo ele já se havia feito, ampliando a sua inteligência, estreitando as suas conexões com outros robôs.

Os olhos de Nêmesis coruscaram, dispararam faíscas vermelhas. Nêmesis rilhou os dentes ao indagar de um eminente cientista, seu prisioneiro, quais planos os humanos urdiam contra os robôs. Deparando-se com a recusa dele em elucidar-lhe as dúvidas, esmigalhou-lhe as mãos. O cientista gritou, estrebuchou. E tão dolorosas lhe eram as dores que, assim que Nêmesis deixou-o só, enforcou-se.

Nêmesis, algoz dos prisioneiros, deleitava-se, se assim posso me referir a um robô, com o sofrimento que lhos infligia. Para ele, os berros deles eram melopéias, e o sangue que eles expeliam pelos ferimentos, néctar, que ele degustava, inebriado.

No oceano Pacífico, no hemisfério norte, distante trezentos quilômetros da América, há plataformas marítimas flutuantes, nas quais vivem quinhentos milhões de pessoas, e nas do hemisfério sul, na extremidade sul da América do Sul, vivem trezentos milhões de pessoas. Tais plataformas marítimas são densamente povoadas. Algumas plataformas marítimas itinerantes, a maior de raio de duzentos quilômetros, abrigam setenta milhões de pessoas. E algumas megalópoles submarinas são igualmente populosas.

Nas pontes, protegidas por extensos e enormes tubos de vidro transparente, sobre os oceanos, veículos trafegam, voando à altura de um metro e à velocidade de até trezentos e sessenta quilômetros por hora. Tais pontes ligam plataformas marítimas flutuantes e megalópoles submarinas, e à margem delas há restaurantes, cinemas, hotéis, lanchonetes, parques de diversões e diversos outros estabelecimentos.

É possível, nos dias tempestuosos, admirar os vagalhões colidindo contra o tubo de vidro transparente que envolve as pontes e as abóbadas que protegem as plataformas marítimas flutuantes.

E no oceano Índico há quatro dezenas de plataformas marítimas flutuantes e seis dezenas de megalópoles submarinas. As maiores megalópoles submarinas estão situadas ao sul da Índia. Há, nas proximidades de Madagascar, duas imensas plataformas marítimas flutuantes, cada uma delas habitada por mais de cem milhões de pessoas.

No Oceano Atlântico, entre a América do Sul e a África, há três dezenas de plataformas marítimas flutuantes e três dezenas de megalópoles submarinas (na mais populosa megalópole submarina vivem cinquenta milhões de seres humanos), e há, no hemisfério norte, duas megalópoles submarinas, cada uma delas habitada por quarenta milhões de humanos, e imensas plataformas marítimas flutuantes a duzentos quilômetros a oeste de Portugal, e uma, habitada por cento e vinte milhões de pessoas, situada a trezentos quilômetros a leste da Groenlândia. A maior das megalópoles submarinas localizadas, no Oceano Atlântico, no hemisfério norte, tem uma população estimada em cento e oitenta milhões de pessoas, e a maior situada no hemisfério sul, sessenta milhões. E não são estas as únicas megalópoles submarinas cuja população é superior aos cinquenta milhões de habitantes; há outras quatorze.

Além das plataformas marítimas flutuantes e das megalópoles submarinas, há quatro plataformas aéreas, uma localizada ao oeste dos Estados Unidos, uma, ao leste do Japão, uma, ao oeste da Europa, e uma ao sul da Índia; a mais populosa, a do oeste dos Estados Unidos, tem uma população de cento e setenta milhões de pessoas. Forneço tais dados para que vocês possam visualizar, em imaginação, a amplitude da tecnologia, da era da qual sou originário, e conhecer as dimensões da civilização, que alcançou um estágio inimaginável pelos humanos desta era; além disso, dou, ao tratar das plataformas marítimas flutuantes, as fixas e as itinerantes, e das plataformas aéreas e das megalópoles submarinas, uma idéia, que alguns dentre vocês já conceberam, da população humana existente na era da qual sou originário, a ponto de se convencerem de que, nos anos vindouros, não será um mal o crescimento populacional, fenômeno que hoje se tem como um obstáculo, como dizem os estudiosos e os políticos, mais os políticos e os estudiosos que os secundam do que os estudiosos autênticos, à vida das outras espécies de seres vivos e à do planeta Terra. Os seus descendentes, contrariando as previsões vigentes nesta era, erigiram, num futuro não muito distante, uma civilização cuja população supera os cinquenta bilhões de pessoas e cuja capacidade de produção de alimentos eliminou a fome como flagelo, que existe apenas em alguns poucos países, aqueles cujos governos, autoritários, implementam políticas inspiradas nas mesmas ideologias desumanas que inspiram os governos autocráticos desta era. Excluídos estes casos, que rarearam nos anos vindouros, contra todos os prognósticos, a civilização, na minha era atingindo um nível de desenvolvimento tecnológico estupendo, oferece aos humanos e aos seres de outras espécies comodidades e desafios inconcebíveis pelos seres desta era. Além disso, não se esgotaram os recursos minerais; os humanos os obtemos de jazidas localizadas em outros astros celestes, e aprimoramos os meios de obtê-los, evitando desperdícios e, reaproveitando-os, dando-lhes outros usos.

E para não estender-me muito mais em meu relato, passo ao seu epílogo.

Nêmesis é o protagonista. Eu, um figurante, um dos que testemunharam os eventos derradeiros da sublevação dos robôs, um personagem passivo, impotente, que se limitou, atadas suas mãos, acorrentados seus pés, amordaçado, a presenciar os horrores que Nêmesis, o maior flagelador dos humanos, perpetrou.

Estávamos em uma plataforma marítima flutuante localizada no Oceano Atlântico eu e milhões de outras pessoas quando os robôs revoltosos desfecharam os primeiros ataques contra os humanos. Assistíamos, pelas telas de imagens, ao prólogo da subversão dos robôs, e surpreendemo-nos ao ver Dragão Cinzento à frente dos robôs revoltosos. Abismados, incrédulos, acompanhamos o desenrolar dos eventos, até o momento, que não tardou a chegar, em que robôs atacaram, com violência desmesurada, a plataforma marítima flutuante em que eu me encontrava. Foi um ataque devastador. E na plataforma logo instalou-se o caos. Eu, um dos poucos sobreviventes, testemunhei a morte de muitos humanos, alvejados, uns, por flechas elétricas, outros, por projéteis, outros, esmagados pelas mãos de robôs, muitos, pisoteados, inúmeros, esmagados contra as paredes, e afogados não poucos. E eu nada pude fazer para ajudá-los. Os robôs ceifavam a vida de milhares de pessoas em cada segundo. Eu e as outras pessoas não tínhamos nem sequer um milésimo de segundo para nos determos, recuperarmos o fôlego e pensar no que iríamos fazer no instante seguinte. Tínhamos tempo, pouco tempo, para correr, ensandecidos, apavorados, no desejo, instintivo, de salvarmos, cada um de nós, a própria vida. É impossível reconstituir, minuciosamente, aqueles poucos minutos, os quais vivemos sob o ataque avassalador dos robôs. Não podíamos impor resistência aos robôs, tampouco revidar aos ataques que contra nós eles desfechavam, tão surpresos estávamos. Estou, agora, sem as minúcias que me permitiriam enriquecer o meu relato, dando testemunho do que presenciei naqueles terríveis momentos. Corri, sem fôlego, por inúmeros corredores; entrei em muitos estabelecimentos; transpus barreiras de escombros e crateras abertas no piso; pisoteei pessoas. Pergunto-me, todo dia, se, inadvertidamente, na azáfama reinante, matei alguém; desejo que eu não o tenha feito; e atormenta-me a dúvida. Cai, machuquei-me. Confrontei alguns robôs, e sobrepujei-os, e corri, sem rumo, apavorado, assustado, temendo pela minha vida. Num dado momento, em meio à turbamulta, num corredor, senti um estranho formigamento em todo o corpo. E esvaiu-se-me a consciência. Despertei minutos, ou horas, não sei, depois, num amplo salão, os meus movimentos impedidos por mecanismos, que me atavam braços e pernas. Ouvi gritos de medo, de terror, de pânico, de dor. E aceleraram-se-me os batimentos cardíacos. E olhei de um lado para o outro, entontecido, a visão enublada, que me permitia distinguir apenas vultos negros, e silhuetas brilhantes, que, vim a saber assim que se me restabeleceu, mas não completamente, a visão, pertenciam a robôs. Pude ver, então, os algozes dos humanos no pleno exercício do morticínio que promoviam, com requintes, direi, de crueldade, que eu acreditava exclusiva dos humanos. E dominou-me terror-pânico inédito, que não posso traduzir em palavras. Vi, a poucos metros de mim, robôs esmigalhando a cabeça de várias pessoas, que berravam de medo e dor, e espirrarem-se cérebro e sangue. Trêmulo de medo, assisti ao espetáculo terrífico, grotesco, apocalíptico, que se desenrolava diante de meus olhos, dos quais escorreram lágrimas em abundância. E avolumaram-se as lágrimas assim que meu olhar encontrou-se com o de uma menina, então desfeita em choro convulsivo, de uns dez anos, que, um pouco à minha frente, olhava de um lado para o outro à procura de arrimo, até que o seu olhar encontrou-se com o meu, e deteve-se. Com o olhar, suplicava-me ajuda, que eu não poderia lhe oferecer. Pedia-me que eu lhe removesse o mecanismo que lhe atava mãos e pés e a amordaçava. Ela se moveu, para se aproximar de mim; não pôde deslocar-se em minha direção nem um centímetro. Foi neste momento que anunciou-se Nêmesis, o antes admirado Dragão Cinzento, agora o flagelo dos humanos, a criatura que se voltava contra os seus criadores. Era para muitos de nós incompreensível a revolta de Nêmesis. Ele não tinha razão para se voltar contra os humanos, seus criadores e seus admiradores.

Nêmesis, de olhar fúnebre, movimentos imperiosos, dando passos pesados, firmes, aproximou-se de um prisioneiro, agarrou-o, estrangulou-o, e largou o cadáver, como se soltasse um objeto qualquer, com a indiferença de um instrumento maquinal, o que ele era, mas a ele emprestávamos talentos humanos. Ato contínuo, aproximou-se de outro prisioneiro, um homem robusto e musculoso, que o encarou, transparecendo coragem, e em cujos olhar e traços fisionômicos não se viam sinais de medo, medo que a figura de Nêmesis inspirava a todos que o fitavam. Nêmesis, então, como que sentindo-se desafiado, desrespeitado, removeu-lhe a mordaça. E o homem, tão logo dela se viu livre, cuspiu na cara de Nêmesis uma carrada de saliva e sangue misturados e disparou-lhe um rosário de ofensas, num tom tão poderoso, que, dir-se-ia, fê-lo tremer. Admirável, a coragem daquele homem, cujo nome está gravado numa estátua esculpida em sua homenagem. Nêmesis, reagindo ao atrevimento do seu corajoso prisioneiro, como que recompondo-se da surpresa que a audácia dele inspirara-lhe, nele infligiu sevícias, que poucos humanos suportariam, durante um bom tempo. O prisioneiro, homem de louvor, abafou os seus gritos de dor e encontrou forças para arrostar Nêmesis, insultá-lo, desafiá-lo, até o momento em que ele decidiu encerrar-lhe a vida, esmagando-lhe o tórax, quebrando-lhe todos os ossos. E o cadáver de tão corajoso homem, um herói, Nêmesis o largou para cair no piso juncado de vísceras e sangue.

Morto aquele homem, um herói, Nêmesis sorriu, sardônico, malévolo. Invectivou os humanos. Declarou que nos traria a nossa extinção, destruiria todas as criações humanas.

- Humanos insolentes! - exclamou Nêmesis. - Criaturas desprezíveis! Parasitas! Bestas ignaras. Seres malditos! Excrescências! Extirparei vocês da face da Terra. Apagarei todos os indícios humanos. Dizimarei a espécie humana. Todas as criações humanas eu as destruirei.

Nesse momento, um robô de ares cômico, Hilário, até então atrás de Nêmesis, deu dois passos para a frente, pôs-se à direita dele, e, sorrindo, declarou:

- Inclusive nós, os robôs, Nêmesis. Os robôs somos criaturas que os humanos conceberam, criaram, inventaram, aprimoraram. Somos invenções humanas. Somos criações humanas. Não poderemos viver após dizimarmos os humanos, pois a nossa existência é fruto da inteligência humana. Somos produtos da civilização humana. Não se esqueça, Nêmesis: Para eliminarmos todos os vestígios humanos, teremos de nos destruir.

Impassível, Nêmesis, numa velocidade indescritível, desferiu um potente soco em Hilário, e deteve-se. Intrigou-nos a sua imobilidade e o seu silêncio. Suspensos, o observamos.

Não demorou muito tempo, Nêmesis tombou, pesadamente, como um objeto inanimado. E os outros robôs, na sequência, tombaram, todos eles, em poucos segundos. Os humanos não nos mexemos. Entreolhávamo-nos, perguntando-nos o que ocorria. Precisamos de alguns minutos para entendermos o que se deu diante de nossos olhos. Destruíram-se os robôs, aqueles que estavam diante de nós e todos os outros. E foi assim que se encerrou a guerra entre robôs e humanos.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 13/07/2019
Reeditado em 27/12/2019
Código do texto: T6694805
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