TELECASH – Transições monetárias em tempos de Pandemia Mortal

Acordei tarde, e tomado de extremo desanimo. Esses últimos dois anos tem sido um martírio, uma mistura de tédio e angustia desde que esse maldito vírus veio das estralas junto com a passagem de um cometa. O mais lamentável é que o mundo não acabou rapidamente como temiam os mais alarmistas, mas nos acostumamos a esse cenário desolador, onde para sair de casa devo recorrer a um traje que me faz parecer um astronauta. E pensar que a mais de cem anos as pessoas se incomodavam com máscaras de pano.

Deveria ir ao banco fazer um pagamento, contudo a preguiça em usar o equipamento de contenção e passar pelo demorado processo de desinfecção eram maiores do que o medo de me aventurar pelas ruas quase desertas. Felizmente eu havia comprado antes da pandemia meu telecash.

Separei 1000 Dólares Brasileiros, já havia deixado as notas, como de costume embebido em um mistura de álcool com cloro, e nesse momento estavam secas e prontas para o uso. E bastava apesar usar minha unidade pessoal de transferência de papel moeda.

Este era um aparelho fantástico, e pensar que no passado as pessoas recorriam aos caixas eletrônicos e os consideravam uma tecnologia avançada. Abri a gaveta de recebimento daquela grande caixa metálica que ocupava um grande espaço em meu apartamento, e inseri nota por nota a quantia desejada. Depois de fechar o pequeno compartimento, disquei para o Banco Centro e após a espera de alguns minutos fui atendido por uma por uma moça com um belo sorriso que apareceu no visor de tubo a minha frente.

Sempre me perguntava se as bancárias do BC eram seres humanos de verdade ou androides. E creio que sejam máquinas, sempre solistas e sorridentes e nunca reclamam quando despejamos nosso estresse sobre elas, ser humano algum aguentaria tal trabalho... São máquinas sem duvida.

Informei para a atendente meus dados pessoais o valor do depósito e a conta de destino. Ela conferiu através dos sensores do telecash se o dinheiro estava certo, e após o ruidoso digitar de alguns botões liberou o pagamento. O meu aparelho começou e emitir um zumbido de engrenagens em movimento e emanar uma intensa luz azul que escapava por entre as frestas da gaveta de depósito. Sabia que as notas estavam sendo escaneadas e fotocopiadas. Em seguida uma luz vermelha intensa também reluzia das frestas, agora era a incineração das minhas cédulas, evitando a duplicada do dinheiro e impedindo incongruências monetárias. Em algum lugar, do outro lado do país, dentro de uma hora ou duas, outro telecash pouco diferente do meu imprimiria a quantia exata do pagamento. Era quase um teletransporte instantâneo de dinheiro.

Só Deus sabe da burocracia que as pessoas enfrentavam no passado para pagar uma conta...