Namoro virtual (utilizado no vestibular 2005 da UEM - PR)

“Se um cara chamado portões ficou rico vendendo janelas que vivem quebrando, acho que posso abrir minhas portas”

Tudo aconteceu num cybercafé. Ela era teen e amava um chat. Ele era hacker e estudava sistemas. Marcaram um encontro na Café com Bytes, uma mistura de café, boate e ponto de encontro dos usuários de computador. Ela foi de micro-saia, laptop vermelho e sapatos salto alto. Ele foi de walk-machine, óculos escuros, aro de tartaruga. Entrou, escaneou a área do bar e a localizou perto da máquina de refrigerante. Se reconheceram pelas fotos que exibiam na Internet. Cumprimentaram-se e ele viu que não precisava perguntar como ela era. Instalaram-se numa giratória e pediram um suco natural. Tudo cooperava para o encontro e o ambiente era compatível. Falaram das imagens que criaram um do outro, do tempo e da nova configuração política mundial depois da guerra, mas tudo soava muito superficial. A verdade é que a conversa estava uma chatice. Nada a ver com o Chat onde sempre tinham assunto.Olhavam-se envergonhados e ficaram horas compartilhando o suco invisível que acabara há muito tempo. Até que ele sugeriu um programa diferente e ela aceitou.

Foram para o reservado, no nível de cima do bar. Haviam pcs conectados em cabines individuais e o som ambiente tocava “Nunca te vi sempre te amei” da Broadband, o novo mp3 que era um record nos sites de download.

Ele se assentou de frente pra um pc compaqto, enquanto ela alisava os cabelos com um pentium de lítio. Ela ligou o laptop, ele já estava on-line e conectaram-se. Virtualmente iniciaram o namoro teclando elogios, depois ele a convidou para visitá-lo em casa. Ela tinha duas opções; não e ficar no bar e sim, continuar. Preferiu a segunda opção e foram para o endereço dele.

Era uma casa muito grande mobiliada com muitos arquivos e algumas janelas sobrepostas, parecendo um office moderno. Na casa havia um cômodo especial. Era uma área de trabalho pequena, mas pintada em branco e azul tinha-se a impressão que era maior. Na sala ele ligou o DVD e colocou um disco no dispositivo. Era o filme “ICQ – Episodio I seek you”. Assentaram-se num banco de dados que ali havia e assistiam ao filme trocando carícias. Minutos depois ele disse que iria à despensa buscar algo para comer. Não achou o milho de pipoca, embora soubesse que havia armazenado mais que o suficiente. Optou por um chocolate em placas. Ela ainda estava sentada, mas não parecia interessada no filme. Ele como que por efeito mágico tira do bolso um anel de cristal liquido, que ela recebe estupefata enquanto come o chocolate. Beijaram-se contidamente, mas ele sabia que as mulheres têm os mesmos códigos, apenas a combinação poderia ser diferente. Ela apertou a orelha dele e sussurrou algo sobre um local mais à vontade. Ele como em automático a arrastou para outro compartimento com um wallpaper amarelinho claro. Era seu gabinete. Ele abriu uma pasta, tirou uma proteção antivírus e assoviou. Carregando-a, deitou-a na rede acoplada no cômodo e retirou o pesado boot que estava calçado. Amam-se virtualmente. No ápice da conexão amorosa eles fazem leituras dos próprios pensamentos através de um prolongado movimento de olho no olho. Amam-se novamente e toda a interação é reiniciada. Todos os sentidos são ativados pelo tato através das relações neurais. Isso traz às suas memórias uma sensação nada virtual. A ação sexual é realizada pela terceira vez, esta porém, numa webcama, que estava atrás de uma pesada porta serial. Dormem.

Ele acorda preguiçosamente e num impulso analisa a cama à procura dela. Não encontra e rastreia o quarto. Ela se foi. Tomou algum caminho que ele não sabia qual. Escapou de sua rede enquanto ele hibernava. Tudo que compartilharam estava no passado, mas não seria esquecido como um papel na lixeira e nem ele queria deletar isso da memória.Tinha perdido-a e teria que recuperá-la, mesmo sem saber qual foi seu erro. Ainda sonolento ele maquina uma forma de reconquistá-la. Talvez enviasse flores. Talvez a convidasse a ir ao sitio, lá ele tinha uma torre onde poderiam simular Rapunzel. Talvez se acendesse uma tela Jesus poderia salvar a relação. Adormeceu novamente processando informações sobre como atraí-la.

No mundo virtual é assim, após cada encontro é preciso reiniciar.

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