A Prostituta

Se ele tivesse dinheiro a compraria. Pagaria por todo o

seu tempo para que ninguém mais lhe pusesse as mãos. Nenhum

daqueles operários sujos se aproximaria mais dela. Mas ele

não tinha dinheiro, o único dinheiro que tinha era suficiente

para apenas alguns minutos todo mês. Mesmo assim achava que

pelo menos por alguns minutos poderia livrá-la daquela vida

viciosa. Aliviá-la daquele ar nauseabundo.

Um mês havia se passado e ele continuava trocando seu pouco

dinheiro por aqueles poucos minutos mensais.

Ele já estava esperando no quarto de sempre quando ela

entrou sorridente segurando duas gramas de um chocolate

aguado que comprara com todo seu dinheiro infeliz. Virou-se

para apoiá-los sobre a cadeira onde geralmente os homens

apoiam suas roupas e ele levantou-se apressado agarrando seu

frágil pulso. Ela virou-se e deu com seus olhos loucos e as

palavras "vamos! agora!". Franziu as sombrancelhas

perguntando "o quê?" em seu idioma natal, e ele, como se

tivesse entendido, disse "quero agora!". Imediatamente ela

entendeu o que dissera, mesmo sem entender as palavras, e,

antes fosse outro homem qualquer ela teria acedido,

mas, tomada pela surpresa, não conseguiu pensar - ou pensou

demais - pois soltou-se da forte garra e correu em desespero

para a porta. Ele alcançou-a enrodilhando-a por trás com um

braço e tapando sua boca com o outro.

"Não foge" ela sentiu o peso daquelas palavras em seu

pescoço e não podia lutar; porque havia morrido. Naquele

momento havia sido demolido o canto de felicidade de sua

vida. O lugar em que ela todos os dias ansiava chegar; onde

ela esquecia do passado; que a fazia pensar no futuro. Em um

instante tudo aquilo foi destruído. Ela talvez o amasse, ou

talvez amasse tudo aquilo que ele a prometia.

Morta; mas apenas por fora porque por dentro ainda estava

viva; viva e lutando. Batia nas grades, chutava os portões,

gritava, mas suas ações não passavam pela pele. E de dentro

não sentia o que vinha de fora, não sentia as mãos, não

sentia os lábios, violando o seu sexo violado. Seus olhos

não fixavam nada, pairavam no vazio. De dentro não percebeu

a porta batendo apressada; não percebeu quando alguém a

estapeou, nem percebeu quando a deixaram em um beco, com os

raios insensíveis do sol cobrindo-lhe o rosto. Até perceber

que de nada adiantava lutar, e apagar-se, morrendo também por

dentro.