CULPA

Caminhos insólitos, destinos muitas vezes mal traçados. A chuva lava a alma, mas não tira resíduos da noite perdida.

O silencio... Parecia que o tempo parou... Todos me observavam com os olhos da revolta.

-Será que já sabem?

-Creio que não, foi tudo tão rápido. - respiro fundo e sigo em frente. O barulho volta. À noite se foi há tempos e as pessoas já não me observam. Avisto um bar, resolvo ali me refugiar.

Preciso tomar um trago.

-Uma dose garçom!

-Duas... Três... Quatro...

Como um doce veneno, desce rasgando por dentro.

Já não mais sinto culpa e sim a culpo, pois você traçou o seu destino ao cruzar o meu.

-Você me paga uma bebida?

Achava-se tão doce e diabólica

-Claro, sente-se!

Na segunda dose...

-Quer dançar?

-Não sei dançar.

Terceira dose...

-Vamos brindar a bela noite! Beba, sinta a bebida lhe dominar e solte-se!

-Simm...

-Agora venha e sinta como a dança lhe contamina escritor!

Uma... Duas... Três... Na quarta dose me deixei levar para o seu universo paralelo. E você, na espera do meu convite, se antecipou e se auto convidou:

-Que acha de tomarmos a saidera no seu apartamento?

Como um animal rastejante e de faro não tão apurado diante de uma bela espécie, aceitei.

-Claro, por que não!

Bebemos, fumamos. Como é bom se sentir assim tão solto e entregue as novas experiências! Não tenho nada a perder, pois sou bem sucedido em tudo que faço: quatro livros editados, quatro milhões de cópias vendidas! Que culpa tenho eu de ser aceito pelo destino?

Às quatro horas da manhã acordo assustado. Do meu lado não a vejo, escuto um barulho e sigo para a sala. Nossa tudo foi tão rápido!

Um grito!Com mil desculpas ela se aproxima de mim e com seu ar diabólico me fala:

-Não era para você estar acordado agora, você deveria ter apagado na quarta dose.

Não ligo para bens materiais, o que não gosto é de ser feito de idiota! A jovem ninfeta acabou de entrar em um território perigoso.

A violência por mim é desferida, um tapa é dado em sua quente face.

Como uma gata raivosa a ninfa avança sobre mim e saímos rolando pelo chão da sala. Diferente da ultima vez agora não foi por desejo, mas sim por ódio.

Uma faca, como mágica, aparecia em sua pequena mão e, também como mágica, adentra em sua deliciosa carne. O sangue que pulsava em suas veias agora suja as minhas mãos.

Aquela menina-mulher nunca mais brincará com seus brinquedos perigosos.

Culpa. O desespero toma conta do meu ser e eu, como um louco sem raciocínio lógico, largo-a inerte no chão da sala e fujo da realidade da mesma forma quando escrevo meus livros.

O tempo passa, resolvo no bar ficar.

Uma... Duas... Que importa? Basta um telefonema e tudo se resolve.

Logo o barulho das sirenes ecoa pelo bar. Meu advogado, querendo mostrar serviço fala:

-Fique tranqüilo, não fale com ninguém!Tudo se resolverá. Você não tem culpa!

Eu, no ápice da minha loucura, o fito e respondo:

-Quarta dose... Quatro horas... Quatro milhões de livros bem vendidos...

Saio dando risada, pois mal sabe essa pobre moça que é a quarta vez que eu pago, ou melhor, elimino a minha culpa.

-Culpa do que? - grito alto.

Na roda da vida somos todos inocentes.

EDU
Enviado por EDU em 22/06/2009
Reeditado em 22/06/2009
Código do texto: T1661320