Um demônio na cama

Jonathan não queria que aquela noite fosse como as outras. Sempre que chegava, bebia alguns copinhos de caipirinha e acabava passando dos limites. O problema é que quando ficava bêbado se tornava chato. Não conseguia conversar direito, acabava falando besteiras, coisas desconexas.

A balada estava cheia. A rua possuía alguns barzinhos ao longo dela muitos com mesas nas calçadas mesmo. Era daquilo que ele precisava. Música, mulheres e bebida eram os ingredientes da massa da curtição, do prazer e da felicidade. Queria aproveitar seus 25 anos da melhor maneira possível. “Há pessoas querendo o mesmo, é só eu descobrir”, era o que pensava naquela noite, naquele período, mas nem sempre foi assim.

Jonathan freqüentava uma igreja desde criança. Seu pai era ministro do evangelho e sempre incentivou que seu único filho seguisse os rumos dele. Até os 22 foi o que acontecera. Tudo começou a desandar quando o rapaz conhecera, nessa idade, Márcia. Ela tinha 21 anos e uma das mais cortejadas da escola. Bonita, saidinha, isso chamara muita atenção de Jonathan quando ela fora apresentada por seu amigo, na porta de sua casa. Estavam conversando quando ela aparecera.

Depois daquele dia, ele, ela, seu amigo e outra garota que ficou com ele foram acampar e lá Jonathan descobriu o prazer de uma vida desregrada pela primeira vez. Beberam e transaram à vontade. Não tinham hora para dormir e aqueles sete dias valeram para o resto da vida de Jonathan, até que algo aconteceu.

O relacionamento era perfeito mais havia uma coisa que incomodava Jonathan: o jeito muito dado de Márcia. Sempre que ia visitá-la, de surpresa, ela não estivera em casa por duas vezes. Tocara a campainha e a garota não atendera.

Ela morava sozinha com a irmã. A irmã era uma pervertida, sabia. Ela saía com um policial casado que, em algumas tardes em que Jonathan estava na casa das duas, fora ao encontro de Cinthia. Eles se cumprimentavam, educadamente, e os dois amantes iam para o quarto na maior naturalidade. Jonathan soubera do caso muito tempo depois, através de seu amigo.

Mas tirando o fato de que, por duas vezes ela não estivera em casa, Jonathan tinha uma paixão avassaladora por Márcia. Ela era sensual.

Da cabeça aos pés estava sempre cheirosa. Mas isso o afastava dos padrões da igreja. Quando estava dentro da igreja e ouvia a pregação de que não poderia sair com mulheres de fora da igreja e fazer sexo antes do casamento sentia uma leve culpa pressionar seu coração. Ao sair e começar a semana pelas manhãs das segundas-feiras, esquecia-se de tudo e praticava totalmente o contrário do que ouvia lá.

Seu pai começou a ficar preocupado com o comportamento do filho.

Ele chegava sempre as duas ou três da manhã quase todas as noites.

À época, Jonathan fazia faculdade e seu pai, João, sabia que o horário de saída era às onze da noite.

-Filho, você anda chegando muito tarde – era o que sempre dizia, até que se cansara de falar o mesmo.

O senhor João resolveu, então, contar o caso para uma colega da igreja. Fátima era uma conselheira de relacionamentos que ministrava palestras para os membros. A moça começara a observar o comportamento de Jonathan ao longo de algumas semanas. Foi fácil perceber o que acontecera. Já havia tirado suas conclusões. Tudo pela atitude do rapaz. Olhava as garotas da igreja de um jeito diferente. Com malícia. Ouviu alguns boatos que ele saía com uma garota de fora. Procurou saber sobre o caso com alguns rapazes e descobriu que era verdade.

Fátima resolveu procurar Jonathan. A conversa versou em torno de que ele não poderia mais freqüentar a igreja fazendo o que ele estava fazendo. O estatuto não permitia, além do que era contra o que dizia a bíblia.

Nos dias seguintes, Jonathan ficou assustado e, por temor, acabou parando o que fazia. Bebedeiras e outras coisas do tipo. Mas foi por pouco tempo. Logo sentiu necessidade de continuar.

Quando completaria vinte e cinco anos de idade, Jonathan acabou se separando de Márcia. Ela não fora à sua festa de aniversário. Naquela noite o rapaz foi até a casa da moça e a pegou no flagrante dentro de um carro com outro homem, em um verdadeiro “amasso”. Jonathan saiu correndo e nunca mais a viu até aquela fatídica noite, naquele barzinho.

Ela chegou dançando e se esfregando em Jonathan.

-Você está maravilhoso, lindão.

Após várias garrafas de bebida os dois foram a um motel. Jonathan foi até o banheiro para se lavar. A garota ficou na cama se preparando.

Quando saiu do banheiro Jonathan viu uma cena pavorosa: a garota não era mais ela. Ele viu um dragão deitado no lugar dela. Saía fogo pela boca de Márcia. Não era Márcia, com certeza. Jonathan apertou os olhos e os abriu novamente para ver se a imagem era apenas ilusória mas para sua surpresa o dragão continuou lá e agora falava:

-Vem aqui vem, garanhão.

-Não, não –disse Jonathan desconcertado. Preciso ir embora, agora

-O que está dizendo? Não acredito, seu frouxo, seu bicha louca.

A partir daquele dia Jonathan não teve dúvidas. Sua vida de prazeres momentâneos foi deixada de lado, afinal ele tivera a prova de que tanto precisava.