Escola americana

À medida que a sabatina prosseguia, com o mestre a insistir naquela pergunta decoreba, aumentava o constrangimento. Para o sabatinado, é claro. Porque o professor era um sádico. Comprazia-se com a gagueira e a vacilação do aluno. Os colegas também. Riam alto, debochavam. “Quanta ignorância!”, cochichavam.

A zombaria geral mergulhou o rapaz em recordações da infância. Sempre fora motivo de chacota. Gordinho, desajeitado, lesado, quatro-olhos, pinhead (em alusão aos cravos e às espinhas)... Do que mais seria chamado? O professor investiu uma vez mais contra o garoto:

— Afinal, você não sabe qual era a capital do Vietnã do Sul? – argüiu, com um indisfarçável risinho no canto da boca. – Realmente lamentável. Você tem noção de quantos de nossos valorosos soldados tombaram naquele país? Uma verdadeira carnificina. E você não é capaz de se importar com isso.

Essas últimas palavras soaram ao jovem como bombas de napalm. Ele enfiou a mão na mochila entreaberta, que estava sobre a carteira.

— Seu velho imbecil. Você sabe o que é uma carnificina? Já viu alguma na vida?

— Como? Que petulância é...

Mas o mestre não teve tempo de concluir o raciocínio. Sua voz foi abafada por uma saraivada de tiros de metralhadora. No dia seguinte, os jornais estamparam na primeira página: professor e turma aprenderam, na prática, o significado de massacre – um daqueles cujo terror não ficaria nada a dever a qualquer Saigon.