UM ENCONTRO AO POR DO SOL

Quis o destino que terminasse assim: os dois rivais frente-a-frente no exato momento em que o sol vai caindo à oeste e beija o horizonte, como que se despedindo do dia com ternura.

Da posição que observo, Juarez está à minha direita e Cláudio à esquerda. Juarez tem uma reputação invejável. Jamais errou. Eu mesmo já o vi executar muitas vítimas desta distância, mas nunca estive assim tão perto. Observo a sua frieza, tentando penetrar no seu íntimo. Sentir o que ele sente. Pensar o que ele pensa. Mais cedo ou mais tarde eu poderei estar em situação semelhante. Não com tantos assistentes, não em um lugar tão belo, mas com as mesmas sensações e a mesma oportunidade do golpe fatal.

Cláudio tenta intimidá-lo com aparente tranqüilidade. Ambos demonstram autoconfiança impressionante. Olham-se nos olhos, sabendo que num átimo um deles sucumbirá para a glória do outro.

Saúdam-se como cavalheiros e Juarez começa a contar os passos. Estão agora em suas marcas. Pouco mais de nove metros os separam. Cláudio tem os dois braços caídos ao lado do corpo, mas guarda para si o movimento que fará a seguir. O mediador do duelo lembra-os das regras e ordena que comecem.

Ao levantar os olhos novamente em direção ao inimigo, Juarez vê o corpo de Cláudio tombando para a direita. Oferece-se a ele todo o lado oposto. E é lá, exatamente, que Juarez coloca a bola. Inapelável. Próxima da junção das traves...

“Vvrrrum”

O barulho do couro contra o barbante e a explosão da torcida são a sentença final. Não há tempo para mais nada. Abatido ao solo, Cláudio assiste à corrida de Juarez em direção aos companheiros. Diante de um estádio lotado, vejo-o acenar em minha direção. Ela, a bola, está lá. Ainda presa às redes, repousa sobre a grama verde.