MEU AMOR É UM VAMPIRO (cap. 14)

(Leia os capítulos anteriores de Meu Amor é um Vampiro no blog www.vampirespati.blogspot.com.br)

No primeiro feriado que surgiu, Kassandra, Rafael e Aline foram para a casa de campo do prefeito, há uns 100 quilômetros de Rosas. Quem sugeriu a viagem foi Kassandra, pois achava que seu namorado andava muito nervoso e estressado nos últimos tempos. A princípio, iria apenas o casal, mas na última hora Kassandra decidiu levar a irmã, cuja situação em casa não era das melhores. O pastor fôra chamado pela direção da escola e ficara espantado com a lista de reclamações contra a filha. Logo Aline que sempre fôra um modelo de aluna. Havia queixas de todos os tipos, desde a queda no rendimento escolar até a ameaça da sua exclusão definitiva do time de vôlei da escola por brigas com os professores e com os próprios colegas. Inclusive, o pastor também havia sido informado que a permanência de Aline no colégio estava quase por um fio.

Preocupados, o Pastor e Laura tentaram de todas as formas fazer com que a filha mais nova contasse o que estava acontecendo. Aline, no entanto, não revelou o que lhe atormentava e não dava a menor importância para a sua situação na escola. A única coisa que realmente lhe importava era encontrar o homem desconhecido.

Kassandra observava o desenrolar dos acontecimentos de longe. Não quis se intrometer para não repetir a forte discussão de dias atrás com a irmã e por achar que aquilo era uma fase pela qual Aline tinha que atravessar.

Por isto tudo, Kassandra resolveu levar a irmã para passar cinco dias bem longe de casa, da escola e do tal homem misterioso. Ela tinha esperança que em outro ambiente Aline finalmente colocasse os pés no chão. E, mais que tudo, Kassandra desejava que Rafael se acalmasse um pouco e diminuísse a quantidade de bebida que passara a ingerir diariamente.

*

Na casa de campo entregue aos três jovens, tudo saiu perfeitamente bem - na visão de Kassandra. No entanto, Aline e Rafael viviam um inferno interior. Aline, para espantar a angústia e a saudade do seu amor desconhecido, saía todos os dias a cavalo ou dava longos passeios a pé, sozinha. Para evitar pensar nele, inventava uma porção de coisas para fazer e, quando se deu conta, já estava auxiliando os próprios empregados na arrumação da casa. Quando a noite chegava, Aline se encontrava exausta. E, quando conseguia dormir, depois de alguns momentos de agitação, sonhava a noite toda com ele.

Com Rafael não era diferente. A vantagem dele sobre Aline, porém, era que o rapaz tinha Kassandra, que raras vezes saía do seu lado. Sabia que o namorado estava estressado e cuidava dele como um bebê. Toda vez que Rafael se sentia impelido a pegar as chaves do carro e voltar correndo para aquela maldita mansão, ele praticamente se atirava nos braços de Kassandra como se procurasse proteção. Ele não bebeu álcool uma única vez porque não tinha vontade. Não tentou convencer Kassandra nenhuma vez para fazer amor porque também não tinha vontade disso. A única coisa que queria era esquecer aquela mulher sinistra que comandava seus desejos, sua razão, seu espírito.

Na véspera de voltarem para casa, Rafael deixou Kassandra dormindo no quarto e foi para a varanda respirar. Sentia-se nervoso, mas não quis acordar a namorada como já fizera outras vezes. Arrastou-se até lá fora e ficou surpreso ao encontrar Aline.

Espantado com o olhar angustiado da cunhada, Rafael perguntou:

- Está sem sono também? Você está estranha...

Aline ficou ligeiramente constrangida ao se deparar com Rafael àquela hora da noite, início da madrugada. Vestindo apenas uma camisola, ela murmurou:

- Estou com calor. Acho que é febre.

Notando o constrangimento da moça, Rafael afastou-se um pouco, sentando-se na amurada da varanda. Também ele se sentia com febre. Na verdade, já havia algum tempo que Rafael reparara que tanto ele como Aline pareciam sofrer dos mesmos sintomas. A faculdade fora praticamente abandonada. Seus pais reclamavam do descaso nos negócios e seus amigos viviam a lhe indagar por que ele estava se isolando tanto do convívio social. Mas não havia como explicar que estava obcecado por uma mulher que mal vira o rosto. E que lhe causava tanta infelicidade.

Ouviu a voz frágil de Aline murmurar, como se fosse uma desculpa para estar ali:

- O sono não me tem sido bom companheiro.

- Nem para mim.

Ficaram em silêncio por alguns instantes até Rafael confessar:

- Sinto meu coração palpitar, como se há qualquer momento ele fosse explodir no meu peito. E uma agonia me consome e…

Subitamente ele se calou, sob os olhos espantados de Aline. Rafael descrevera exatamente a mesma coisa que ela estava sentindo naquele momento.

- Preciso voltar para Rosas, Rafael. Acho… acho que vou enlouquecer aqui.

O rapaz voltou seu rosto para a cunhada, talvez um pouco surpreso com a sua declaração. Mesmo assim, disse:

- Isto aqui é um paraíso quando se está em paz. Quer dizer, há paz por todos os lados e… a agonia está dentro de mim.

- De mim também - sussurrou ela.

- Também não vejo a hora de retornar para casa, mesmo sabendo que o inferno me espera.

Aline empalideceu e se aproximou um pouco de Rafael, penalizada. Encostou sua mão no rosto do rapaz. Ele estava ardendo em febre!

- Rafael, você está queimando!

Ele sacudiu os ombros como se o fato de estar com febre não o preocupasse nem um pouco.

- Já me sinto assim há algum tempo.

- Rafael – e Aline segurou seu rosto com as duas mãos – O que você quis dizer quando falou que o inferno está lhe esperando?

- Não sei ao certo – ele pensou um pouco e disse – É como se fosse acontecer algo que não poderei escapar.

Aline ficou gelada. Retrucou:

- O inferno também me espera se eu não encontrar quem procuro.

- E eu encontrei alguém que nunca procurei. E não sei se a quero.

Aline e Rafael trocaram um olhar cúmplice. Mas cúmplice de quê? Nem eles sabiam.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 14/04/2013
Reeditado em 14/04/2013
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