MEU SURFISTA MISTERIOSO - Cap. 5

A apresentação de Joana foi um sucesso e bem concorrida. Depois que superou a timidez inicial, o restante transcorreu sem problemas. No final, enquanto recebia os aplausos, Joana se perguntou se o surfista não estaria no auditório, assistindo-a. Procurou-o, então, por todas as pessoas que ali estavam presentes, mas sua busca foi em vão. Com a apresentação de Joana, o seminário praticamente chegou ao fim. Um dos organizadores subiu ao palco para agradecer aos participantes, enquanto Joana saía apressada mais uma vez. Mais tarde haveria um luau de despedida e então ela teria chance de ser mais simpática com os colegas. Naquele momento, a única coisa que queria era tirar as sandálias apertadas dos pés e, quem sabe, dar uma voltinha na praia e procurar o surfista. De novo.

Porém, quando chegou ao quarto o cansaço chegou forte e Joana se viu obrigada a se deitar um pouco. Simone levou algum tempo para voltar e quando se deparou com a amiga atirada na cama, perguntou apreensiva:

— Não está se sentindo bem?

— Só um pouco cansada — respondeu, omitindo que estava desanimada também.

— Sua apresentação foi um enorme sucesso. Pena que não ficou para receber os cumprimentos.

— Deixo isto para o luau. Não estou muito disposta a ser paparicada. E Pedro?

— O que foi? Está interessada nele?

— Interessada em fugir. Você já pensou o quanto ele vai ficar no meu pé hoje à noite?

— Ora, Joana. Talvez Pedro não seja um cara ruim. Ele só está errando na abordagem.

— Não acredito. Ele é um porre mesmo.

— E o seu surfista? Vai procurá-lo hoje à noite?

— Sim, com certeza. Minha última chance será hoje.

— Eu ajudo você. Mas primeiro eu preciso tomar um banho.

— Certo. Enquanto isto eu descanso um pouco. Algo me diz que vou precisar de bastante energia para logo mais.

Enquanto Simone cantarolava no chuveiro, Joana ficou pensando na vida. Nem ela sabia o motivo por se sentir tão conectada com uma pessoa com quem mal trocara algumas palavras. Era difícil explicar. Às vezes era como se o surfista fizesse parte de um sonho. Um sonho bom. E o pior de tudo é que a conexão parecia ser somente dela. Se o rapaz tivesse sentido alguma coisa por Joana, certamente estaria rondando o resort. Ela suspirou. Não queria ir embora sem ao menos saber o seu nome.

*

Quando Joana e Simone desceram para o luau, as conversas já estavam bem animadas. Alguns grupinhos se formaram e dois ou três casais também. Muitos colegas a cercaram, parabenizando-a pelo sucesso da apresentação. Apesar da satisfação em estar sendo reconhecida profissionalmente, seus pensamentos estavam longe. A todos Joana agradecia como se estivesse no automático: um sorriso sem graça no rosto e as mesmas palavras. De repente ela sentiu alguém pegar no seu cotovelo e levou um susto. Era Pedro.

— Você está tensa. Vou pegar algo para bebermos.

— Não bebo álcool — foi logo avisando ela, tentando quebrar um pouco da disposição de Pedro em conquistá-la.

Pedro foi em direção ao bar e Simone aproveitou a ocasião em que a colega estava sozinha para se aproximar dela.

— Onde ele foi?

— Pegar algo para bebermos. Segundo ele estou muito tensa.

— E está mesmo — observou Simone. — Está estampado no seu rosto.

Joana olhou na direção do mar e areia. Havia algumas pessoas passeando pela praia, próximo ao luau. As conversas e as risadas altas começaram a irritá-la. Gostaria de poder dar uma volta pela orla.

— Vai passar — disse ela mais para si mesma. — Eu juro que vai.

— Seu pretendente vem vindo — cochichou Simone, afastando-se. — Nos vemos depois.

Joana quase pediu para que a amiga ficasse. Mas não deu tempo. Pedro retornou com um copo de guaraná para Joana e um coquetel de frutas para si. Disse:

— Está aqui. Relaxe. Você devia estar mais feliz hoje. Sua palestra foi incrível.

— Obrigada — ela respondeu, desconfortável.

— Sua amiga foi conversar com outras pessoas — esclareceu ele. — Acho que ela quer nos deixar a sós.

Joana riu, totalmente sem graça, e bebericou um gole de guaraná. A bebida desceu gelada garganta abaixo, o que lhe fez muito bem.

— A que horas você vai embora amanhã?— ele perguntou bem interessado.

— Meu avião sai às duas da tarde. Preciso chegar ao aeroporto por volta do meio dia.

Pedro colocou a mão no bolso, pegou um cartão e entregou a ela.

— Este é o meu cartão. Podemos continuar mantendo contato.

Ela ficou em silêncio. Pôs o cartão no bolso da saia jeans que vestia e bebeu mais um gole da bebida.

— Você tem alguém?

— Como? — indagou ela sem entender a pergunta.

— Vou reformular minha pergunta — retrucou ele, um pouco impaciente. — Você tem algum namorado ou coisa parecida? Casada eu sei que você não é, já que não usa aliança.

— Não costumo falar sobre minha vida pessoal com desconhecidos — Joana revidou um pouco grosseira demais.

— Ei, desculpe — pediu ele. — Estou interessado em você. Acho que é justo que eu saiba seu estado civil.

— Não saio divulgando meu estado civil para pessoas que eu não conheço.

Joana não conseguia controlar seus modos grosseiros. A ansiedade em rever o surfista estava mexendo com suas emoções.

— Vou pedir desculpas novamente, então — falou Pedro. — Mas não pretendo desistir de você tão fácil.

Ela suspirou e bebeu o que restava do guaraná de um gole só. Naquele momento duas colegas chegaram para conversar com Pedro. Era nítido que ambas estavam interessadas nele e praticamente deixaram Joana de fora da rodinha que se formara. Aproveitando-se da situação, Joana saiu de perto e afastou-se da aglomeração do luau. Uma leve dor de cabeça começou a se instalar e Joana achou que iria melhorar se lavasse um pouco um rosto com água fria. Em menos de cinco minutos ela já estava no quarto. Procurou na bolsa um comprimido para aliviar a dor e foi até o banheiro onde passou uma toalha molhada na testa. Um ventinho fresco entrou pela janela aberta e Joana foi até a sacada observar as ondas. A noite estava linda demais. O céu estrelado e o cheirinho da maresia fez com que ela se sentisse um pouco melhor. De olhos fechados, Joana respirou fundo. Aquele lugar era lindo demais para passar tão pouco tempo. Decidiu que quando conseguisse alguma folga voltaria para lá para descansar e procurar o surfista. Não devia perder as esperanças, mesmo que fossem mínimas.

Joana novamente abriu os olhos. O luar iluminava as ondas, era uma visão muito bonita. Dali era possível escutar o som das vozes animadas do luau. Bem, era preciso voltar para lá, antes que a fama de antipática aumentasse. Contudo, antes que se afastasse da sacada, um movimento no mar lhe chamou a atenção.

Alguém surfava. Um homem jovem desafiava as ondas sem medo. Joana se debruçou na sacada, o coração subitamente acelerado. Não era possível, murmurou ela para si mesma. Depois de tanta procura, será que…

— É ele! — praticamente gritou Joana, dando meia volta. Não podia perder tempo.

Ela correu pelos corredores do resort, surpreendendo outros hóspedes. Escolheu sair por uma ala que dava direto na areia da praia. Correu alguns metros para o lado oposto onde ocorria o luau. Alguns casais passeavam pela orla quase deserta. Fora isto, não havia mais ninguém por ali. Nem mesmo nas ondas. Joana ficou por algum tempo parada, perscrutando o mar, ansiosa. Talvez ele tivesse caído durante alguma manobra e por isto não estava tão visível. Ela ficou por cerca de 10 minutos parada na areia, torcendo as mãos nervosamente. O surfista poderia ter se afogado! Contudo, depois de algum tempo, Joana desistiu de ficar ali. Sentia-se uma idiota. Provavelmente sua imaginação lhe havia pregado uma peça. Era melhor voltar ao luau e tentar assentar os pensamentos.

Simone a viu de longe e se aproximou. Pela cara de Joana percebeu que algo não ía muito bem.

— O que houve? De repente você sumiu.

Elas estavam um pouco afastadas dos outros. Joana respondeu, desanimada:

— Aproveitei que Pedro foi cercado por duas vadias e saí de perto. Comecei a sentir dor de cabeça e fui até o quarto tomar um remédio. Você nem sabe o que aconteceu...

— O quê? Pedro foi atrás de você?

— Não. Fui até a sacada respirar um pouco de ar puro e vi o surfista no mar.

— Não é possível! — Simone olhou na direção onde Joana apontava e também não viu nada além das ondas. — Mas onde ele está?

— Não sei! Quando percebi que era o cara, corri feito uma maluca até aqui e não o vi mais! Será que estou imaginando coisas? Puxa, eu só tomei um refrigerante inocente!

— Calma — pediu Simone. — Vamos procurá-lo. Ele não deve estar longe.

As duas iniciaram uma caminhada pela areia. O mar molhava os pés de ambas, mas nenhuma se importava. Sem tirar os olhos da água, Joana murmurou:

— Não estou vendo nada...

— Nem eu.

Depois de dez minutos à procura, Joana se sentou na areia. Não estava cansada, era puro desanimo.

— Será que estou ficando doida?

— Claro que não. Mas é um mistério este cara. Vamos voltar ao luau. Se ele esteve por aqui, certamente irá retornar. Já percebi que seu surfista gosta da noite.

— Você tem razão. Ele prefere surfar à luz das estrelas. Por que será? Acho tão perigoso...

— Vai saber... Deve ter seus motivos — disse Simone, enquanto ambas voltavam ao divertido luau. — Talvez ele ache mais emocionante. Ou não tem tanta gente para atrapalhar as manobras.

— Pode ser — concordou Joana, olhando para trás. Nada. O mar continuava vazio.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 07/08/2015
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