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O NAMORADOR
 
            O dia amanheceu bonito naquele primeiro de janeiro de mil, novecentos e sessenta. Alguns foguetes que foram queimados na noite anterior, ou seja, na virada do ano estavam jogados na estrada. Roseno preparava o cavalo para ir almoçar na casa de uma das namoradas. A distância era longa e teria que sair cedo para não perder o churrasco. Mas o safado quando ia até Sodade na casa da Nida, voltava logo depois do almoço para passar em Buruti onde morava Zoca, a outra. Duas ao mesmo tempo. Tinha que se dividir em dois para dar conta.
         
           O rapaz além das duas namoradas parecia querer todas as mulheres do mundo. Gabava-se que era o maior garanhão que existia. Contava e dava gostosas gargalhadas. Aproveitava esses passeios dos finais de semanas para adestrar cavalos que os outros lhes confiavam. Esse era a sua principal renda.
        
           Ninguém suportava ouvi-lo, com exceção do seu amigo Lizeu.
          - Melhor ouvir isso do que ser surdo. – Brincava o amigo.
         
           Um dia Roseno disse:
          - “Óia” Lizeu. Gosto “munto” da Zoca. Da “ôtra tamém”, mas essa Zoca “fiia” da nhá Zezé, acho que amo. “Vô robá” essa guria. “Ansim” que “nóis vortá”, “vô” no cartório “apregoá” o casamento e quero que você seja meu padrinho.
               - Combinado, guri. – Disse Lizeu dando risadas.
    
           Roseno também contava muitas histórias e jurava que eram verdadeiras. Disse que numa certa feita estava voltando de um baile. O cavalo todo assustado. De repente perto do cemitério dos protestantes sentiu um arrepio e uma coisa estranha. Deu uma olhadinha para trás e viu uma mulher toda de branco na sua garupa. Naquele momento se benzeu e rezou um Padre Nosso e a tal de visagem desapareceu, mas ficou no ar um cheiro de enxofre. Além dessa, contava outras como a de um tal gritador.
          - Mas isso é o medo que faz você ver coisas. – Disse o amigo.
          - Não é... juro que vi mesmo. – Disse o moço erguendo o chapéu acima da cabeça e colocando de volta na posição anterior.
          
          Um belo dia alguém o dedou para a Nida que seu namorado estava lhe traindo. Enquanto namorava uma, em seguida ficava com a outra. Ao mesmo tempo falaram a mesma coisa para a Zoca. As duas ficaram sabendo. Encontraram-se e combinaram aprontar uma para o namorador safado.
          Zoca propôs à sua rival que daquele dia em diante seriam boas amigas.
          - Vou dizer a ele que eu gostaria de me casar, mas minha mãe não tem condições de pagar a festa. O que ele acha de a gente fugir, depois tem só o cartório pra pagar quando voltarmos.
          - Uma boa ideia amiga. – Respondeu Nida. - Faz essa proposta depois me conta. Eu vou propor a ele o mesmo. Aí vou ver a reação do desgraçado.
         
           Os dias se passaram. As moças fizeram o combinado. Primeiro fingiriam de muito apaixonadas. Depois falariam sobre as propostas de fugirem com o Roseno. Seria uma de cada vez. 
          
          Zoca encontrou-se com o namorador. Depois de algum tempo lhe disse:
          - Amor, gostaria de falar uma coisa mas... tenho vergonha.
          - Pode “falá” pro teu amado, guria. – Falou Roseno todo labioso.
          - Queria muito me casar com você mas...
          - Mas o quê?
          - Minha mãe...
          - O que tem tua mãe?
          - É o contrário, amor. Ela não tem. Não tem condições de pagar o casamento. A festa. Não tem donde tirar o dinheiro.

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Continua...