O misterioso passageiro

Diariamente entre meia-noite e meia-noite e dez, lá estava a misteriosa figura no sombrio ponto de ônibus, a esperar o último coletivo.

Ele magro, alto, pálido, sério, usava uma calça preta e uma camiseta branca e um tênis preto.

Ficava embaixo da passarela, onde havia um velho pé de goiabeira, e também uma estrada movimentada.

Nesse horário as pessoas evitavam ficar ali provavelmente por medo da escuridão, ou qualquer tipo de violência.Porém quem tinha de ficar nem o notava.

Ele no entanto não se intimidava.Ficava a esperar calmamente, e quando o último carro chegava dava sinal para parar, cumprimentava com a cabeça o motorista, pagava o cobrador e sentava-se ao fundo do ônibus.

Observava pela janela o caminho de volta para sua casa, enquanto o vento batia forte em seus cabelos.

As vezes lia um livro, ou ouvia músicas no seu celular.

Ao chegar ao seu destino, embarcava na estação de trem, a fim de pegar o último trem.

Ninguém imaginava quem ele era.

Certa noite o curioso motorista do ônibus resolveu falar com o intrigante rapaz.

- Oi! - disse o motorista.

Ele olhou seriamente e disse:

- Sim.

- Você não tem medo de ficar naquele ponto sozinho?

- Não. Por que?

- Dizem que há um fantasma lá. - responde o motorista.

- Não tenho medo de fantasmas. Eles não existem.

O motorista olhou para o cobrador e disse ao rapaz:

- Se precisar da gente é só avisar.

- Obrigado. - respondeu o rapaz.

Depois de alguns meses tanto o motorista quanto o cobrador, se acostumaram com a presença do rapaz, e não perguntaram mais nada a ele.

Um dia numa roda de conversa, entre vários motoristas e cobradores daquela linha, o motorista comentou seu diálogo com os colegas de trabalho.

Um deles disse:

- Pessoal há uma lenda urbana de um homem assim, que pega toda noite, no mesmo horário o ônibus para ir para sua casa.

- Vai ver é ele! - disse um dos cobradores.

- Deus nos livre de assombração! - disse o cobrador do ônibus que o rapaz pegava.

- Eu não quero pegar passageiro fantasma. - disse o motorista aflito.

- São só estórias desse povo que não tem o que inventar. - disse outro motorista.

- Por via das dúvidas eu vou é rezar o terço todos os dias. - disse o motorista do ônibus do rapaz.

Após haver passado um ano, tempo para a estória já ter sido esquecida, os trabalhadores e passageiros ficam sabendo da morte de um estudante, que ocorrera três anos antes e costumava pegar aquele ônibus sempre no mesmo horário, e era exatamente como descreviam.

- Será ele mesmo? - indaga o cobrador.

- Sei não cara, mas o fulano já tinha morrido há mais de três anos. - disse o motorista.

O cobrador ficou branco como um papel e o motorista se arrepiou todo.

E a estória continua até hoje circulando, entre os trabalhadores, e passageiros que pegam ônibus neste lugar.

Kunti

Kunti
Enviado por Kunti em 17/03/2017
Reeditado em 24/02/2022
Código do texto: T5943651
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.