Um incidente na Biblioteca

O ambiente era repleto de colunas altas, arquitetura medieval. Por fora predominava as linhas verticais, as janelas ogivais compridas e muitos ornatos. Era a Biblioteca Machado. Local onde leitores navegavam em páginas e escritores davam autógrafos. Era ali que Nuno Luiz, escritor novato, ficava boa parte do seu dia. Sabia que escrever não é fácil e além disso viver da escrita é muito mais difícil.

Ele adorava aquele ambiente gótico e com livros, fez-o sua casa diurna por um longo período de tempo. Afinal, ele havia decidido parar tudo somente pela literatura, não é de admirar que tenha consumido sua infância nos livros e dissipado sua juventude também neles. Havia perdido sua mulher - não para a morte, mas - para outro homem que tinha por amigo desde a infância. Esse acontecimento foi algo abafado, refiro-me a dor vinda dele, abafado pela paixão pelos livros mormente os seus. Trabalhava em uma obra, já beirando os 37 anos de idade ele finalizava seu primeiro livro.

O livro girava em torno das ruínas negras de sua memória que manifestavam-se toda vez que ele sentia falta da ex-mulher. Sentia-se muito ansioso por ter finalizado seu livro e em breve iria lançá-lo ali mesmo na Biblioteca Machado. Mal sabia ele que era política da Biblioteca Machado não aceitar livros que remotassem à coisas sombrias. Ele tratou de publicar, a tiragem foi que queria era numerosa.

Aproximava-se, enfim, o período de lançamento do livro Memórias de Sangue, esse era o título do livro de Nuno Luiz. Tinha em mente a esperança de que seria bem recebido e lido, pobre Nuno, nem imaginava o que estava por vir, o que mais queria era não ser rejeitado como a mulher lhe rejeitara.

Foi até Gilarde Pena, diretor da Biblioteca, falar sobre seu livro. Entrou na sala e sentou-se e antes mesmo de começar a relatar seu intento e sonho foi interrompido por uma mulher que chamou o diretor.

- Aguarde-me aqui, senhor Nuno Luiz. - Foi a resposta do diretor.

Minutos depois ouviu o ranger da porta que assustou-o, ergueu a vista, viu o diretor caminhando em sua direção.

- O que desejas, Nuno Luiz?

Ele sentiu um calafrio e em seguida contou-lhe sobre seu projeto. A resposta do diretor foi imediata e curta.

- Em suma, senhor Nuno, não aceitamos esse tipo de obra, sinto muito e boa sorte.

As palavras do diretor Gilarde Pena causaram alvoroço em Nuno, pensamentos absurdos de uma pessoa rejeitada. Anoiteceu por completo. Retirou-se calmamente da biblioteca, seu semblante não revelava nada do que se passava em sua mente. Dia seguinte tornou a visitar a biblioteca como de costume, o diretor viu-o e acenou com um sorriso amigável e ele respondeu de igual forma. Mas naquele dia Nuno escrevia, ou melhor, desenhava alguns símbolos em uma folha de papel e não parava de fitar a esposa do diretor, que trabalhava também no mesmo local.

Ele continuou sentado, ora desenhava, ora fitava a mulher. Ela estava organizando uns livros em uma parte um pouco distante de onde os leitores ficavam navegando nas páginas dos livros. A Biblioteca Machado ainda não tinha câmeras de segurança, se tivesse teria sido de grande ajuda para solucionar o assasinato da bibliotecária e capturar o assassino que fugiu da cena do crime sem deixar vestígios. A única coisa deixada foi um pedaço de papel com um desenho semelhante a um símbolo. A polícia achou o papel com a letra M. Porém não conseguiu entender a ligação do símbolo com o crime frio.

Nuno foi visitar o diretor em luto, falou coisas agradáveis, tentou consolá-lo de todas as formas que eram-lhe possíveis. A casa estava repleta de familiares e amigos. O viúvo ao subir até seu quarto com um amigo notou ao aproximar-se da cama que havia um papel com um coração desenhado com um traço sublinhando-o, estava pintado de vermelho e contornado de preto. Foram imediatamente à polícia. Nuno sugeriu efetuar uma ligação, mas eles preferiram ir na delegacia. Estavam assustados, o assassino da bibliotecária estava entre eles ou apenas veio dizer algo através do papel que estava sobre a cama. Nuno acompanhou-os.

O delegado começou a suspeitar de Nuno pois Gilarde, enfim, contou que havia acontecido algo insignificante entre os dois, mas que então já não podia ser. Havia suspeita de que por ter rejeitado o lançamento da obra dele na Biblioteca Machado ele poderia querer vingança de alguma forma. Foram muitas perguntas e outras tantas repostas até voltarem para casa. Nuno era suspeito e sabia muito bem disso. O carro em movimento dirigido pelo amigo de Gilarde perdeu o controle quando Nuno atacou Gilarde e injetou nele uma substância que fez o homem contorcer-se até não esboçar mais nenhum sinal vital. Como estava no acento traseiro do carro e mesmo no alvoroço dentro dele não foi difícil para Nuno Luiz fazer o mesmo com o condutor e após com ele mesmo.

Leandro Ferreira Braga
Enviado por Leandro Ferreira Braga em 07/03/2018
Reeditado em 07/03/2018
Código do texto: T6273221
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