Sob suspeita

Já fazia alguns minutos em que o indivíduo a minha frente apresentava atitudes estranhas. Ele seguia pela calçada em zigue-zague, sempre olhando para trás (e para mim), mudando até de direção, mas continuando pelo mesmo caminho que o meu.

As ruas estavam desertas, muito devido a tardia hora que já era. Não havia nada aberto por ali, nem uma lanchonete sequer. Andavámos de forma compassada e acelerada, e eu observava suas ações, já pensando em uma rápida reação.

Aquele cara agia de forma suspeita, em certos momentos achei que ele estava me guiando para alguma emboscada, ou algo do tipo.

Eu seguia com as mãos dentro do meu casaco, e tentava não apresentar pânico, mesmo com o aumento da tensão ali.

O sujeito virou e me encarou. Seu olhar era intenso, parecia que ele estava sob efeito de alguma substância, ou seja lá o que fosse. Senti um leve tremor pelo meu corpo, mas logo passou. Não podia ceder ao pânico, longe disso. Atribui meus tremores à temperatura que caía conforme a noite se prolongava.

Percebi que ele acelerou o passo, bem no instante em que nossa distância reduzia. Não sei se isso era bom ou ruim. Meus pensamentos não sincronizavam para que eu tomasse a melhor atitude ou decisão naquele momento.

Minhas mãos estavam suando dentro do casaco e isso não era nada bom, com certeza não. O indivíduo virou uma esquina e eu o perdi por alguns instantes. Meu coração disparou, eu não esperava por aquilo, não podia perdê-lo, já que essa era a melhor oportunidade para ele agir contra mim.

Comecei a observar todos os cantos mais escuros da rua, esperando encontrá-lo escondido em uma sombra com algum objeto para me atacar. Meu coração estava disparado, suor escorria pelo meu rosto. Com certeza aquela situação era delicada.

Fui seguindo pela calçada, até que escutei um som de respiração bem acelerada. Ele estava ali, escondido em um beco ao lado da calçada em que me encontrava. Cheguei bem perto da parede e fiquei ali. Qualuer ação minha tinha que ser muito bem pensada agora, já que ele podia estar pronto para me atacar.

Enquanto eu esperava ao lado da parede, ele saiu em disparada pela calçada, me obrigando a correr atrás dele. Agora sem dúvida nenhuma, eu sabia que tinha algo errado ali.

Comecei a correr, mas o sujeito era bem rápido, e mais jovem que eu também, fato que poderia explicar minha desvantagem, somada com a falta de atividades físicas. Ele tentava em todas as direções, mas eu conseguia o manter sob minha vista. Em determinado momento, percebi que ele reduziu a passada e consegui me aproximar, ficando apenas uns sete metros de distância.

Antes que ele virasse a próxima esquina, enfiei a mão no casaco e peguei o revólver. Mesmo sobre movimento, fiz a mira em suas costas e disparei uma vez. O tiro o acertou e ele foi arremessado ao chão. Cheguei o mais próximo dele e fiz um segundo disparo na cabeça, acabando com as possibilidades de reação dele.

Em meio aquilo e vendo o corpo estirado em minha frente, entrei em pânico e saí correndo. Mesmo com a rua deserta, não levaria muito tempo para os primeiros curiosos aparecerem. Meu coração queria sair pela minha boca, minhas pernas estavam vacilando, mas a única coisa que eu queria era me locomover para bem longe dali.

Otávio Chagas
Enviado por Otávio Chagas em 29/09/2018
Reeditado em 25/03/2019
Código do texto: T6463143
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