microconto O CÃO DO MATAGAL

As pedaladas de bicicleta eram duras.

(Duas horas até chegar em casa pra dormir, meu Deus, o que faço aqui nesse fim de mundo, Senhor!)

Quase que André se arrependeu de ter saído da casa da mae, na cidade, pra vir morar com a jovem esposa naquele fim de mundo.

Teria que enfrentar a escuridão total mais uma vez e só de olhar para o matagal quase era derrubado de pavor.

Ele tremia.

Silêncio na mata.

Pareceu-lhe , por um átimo, que até o som da catraca da bicicleta havia sumido.

Seria mesmo possível?

Enquanto pensava nisso seus olhos viram outros olhos no escuro brilhantes.

Havia olhos brilhantes no matagal.

Ele não olhou mais.

Pedalou forte e forte e mais forte

Suas pernas doíam, ele estaria longe dos olhos brilhantes?

Garganta fechada, chegou à pista, atravessou-a e viu pessoas do bairro.

Tudo tinha sido um sonho.

Mas existiriam sonhos acordados?

Ele não contaria à esposa.

Escreveria simplesmente.

Alguém leria e decidiria se a escuridão ainda observa.

Alexandre Scarpa
Enviado por Alexandre Scarpa em 15/10/2018
Reeditado em 15/10/2018
Código do texto: T6476446
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