A velha Casa

Passeava no meio de uma floresta escura, não enxergava nada, nem mesmo os meus pés, muito menos onde eles estavam pisando. Conseguia apenas ouvir o barulho do vento que assoprava as árvores ao redor. O assovio do vento parecia uma melodia para meus ouvidos, pena que estava em um local inabitável. Lembro que no meio desta floresta havia um buraco profundo. Olhando-o de cima, era praticamente sem fim. Se houvesse um fim, não seria eu que gostaria de conhecer!

Caminhando um pouco mais, comecei a ouvir uns barulhos, parecia ser de muitos animais. Estava muito escuro naquele local e não reconhecia se os gemidos poderiam ser de lobos, cachorros ou algo do gênero. A escuridão deixava-me sem nenhuma noção espaço-temporal. A única coisa que conseguia ver naquele penumbre era uma pequena luz que no topo de uma árvore.

A caminhada parecia não ter mais fim, estava com uma sensação de que andava em círculos e que a cada passo que dava, me distanciava do início da minha caminhada. O vento assoviava cada vez mais, tinha a impressão de que ele estava vindo do chão. Areias batiam em meus olhos me deixava com dificuldades de seguir a diante. Ardendo cada vez mais meus olhos, não conseguindo limpar, acabei por tropeçar em uma pedra que se apresentava em meu caminho, o meu destino foi com o rosto no chão.

Engoli muita terra neste momento, senti como se estivesse mastigando rochas. Minha boca parecia um formigueiro, sentia alguns tipos de vermes saindo por aquela terra toda em minha garganta.

Em seguida, com muito esforço, foquei o meu olhar para frente com a expectativa de ver algo, minha visão estava perturbada, torcia que alguma “alma” pudesse me ajudar naquele momento extremo.

Para minha surpresa, percebi um vulto de uma ave gigantesca em minha frente. Meu coração estava quase saindo pela minha boca, a ave mastigava algo que na hora eu não reconheci, mas conseguia ouvir o seu estralar de dentes mastigando. Um grito perturbado saiu de minhas cordas vocais. Juntei as últimas forças que havia em mim, levantei e sai correndo sem saber para onde, o desespero era tanto que corri sem olhar para trás e sem, nem ao menos, me preocupar para onde estava indo.

Após correr, correr e correr, com a sensação de não ter saído do lugar, acabei por olhar para trás e avistei um pinheiro caindo. Com sorte, consegui dar dois passos para o lado e sentir como se a floresta despencasse ao meu lado. Minha respiração era ofegante e meu coração palpitava sobre meu peito. Agradecia por poder ouvir meus batimentos, tinha certeza que estava vivo.

Neste momento saiu várias cobras, lagartos, vermes e morcegos que abitavam aquele tronco. Fechei meus olhos e como num passe de mágica fui parar em uma casa de madeira muito antiga. Percebi que era muito pequena, abafada, tive falta de ar. Não havia espaço naquela espelunca. Se existe demônio, ali deveria ser a casa dele.

Notei uma senhora sentada em uma cadeira de ferro no meio da cozinha. Tinha o corpo desconfigurado, sua respiração era densa. Procurava por uma simples porta ou uma janela onde poderia escapar daquele lugar coberto de sangue no chão e vermes na parede.

Olhei para todos os lugares e não via nada, nem janelas e muito menos portas, apenas eu e a senhora sentada. A única luz que cobria aquele espaço era de um buraco da parede da casa.

Naquele momento resolvi perguntar quem era aquela inquilina e o que ela estava fazendo ali. Após a minha pergunta, a senhora não falou se quer uma palavra. Dava apenas para ouvir a sua respiração que estava muito forte. Novamente tornei a chamá-la, mais uma vez foi em vão. A velha maltrapilha não me escutava.

Naquela hora ouço um som que identificava como um toque de telefone. Pensei: Como poderia haver um telefone naquele lugar? Seu toque era muito alto. Seu barulho era estridente. O seu som me parecia conhecido, como se fosse uma música a qual escutava diariamente.

Em meio a este som, tentava raciocinar de onde poderia estar vindo. Me parecia que vinha dos “céus”, pois daquela casa que não poderia sair. Por fim a velha que estava o tempo todo parada no mesmo lugar e da mesma maneira se levantou, deu dois passos em minha direção. Sua boca escorria terra, em seu nariz saiam vermes e seus enormes olhos pretos penetravam profundamente nos meus, ela começa a gritar e a cuspir na minha cara:

-Acorda já está na hora.

-Acorda já está na hora.

-Acorda!!!

Foi neste momento em que vi o meu despertador tocar e minha esposa me chamar, pois estava atrasado para o enterro da minha adorada avó.

Francis Betim e Jéssica Souza
Enviado por Francis Betim em 18/10/2018
Reeditado em 18/10/2018
Código do texto: T6480013
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