O OUTRO

O Outro

(As narrativas e personagens deste texto são fictícios, qualquer semelhança com casos ou pessoas reais, terá sido coincidência).

- Venha brincar comigo- disse o garoto

- Não posso, estou brincado com o meu passarinho- respondeu.

- Venha que eu estou mandando, largue esta caturrita para lá e vamos brincar.

- Não seja bobo, não quero brincar com você.

- Então veja o que vai acontecer com o teu passarinho de estimação.

- Você está matando ele, veja o que você fez, ele está morto.

Agora vou matar você seu desgraçado. Largue esse martelo, não, não!...

- veja o que você fez em seu irmão, atingiu-o com um martelo e ele está morto. Por que fez isso? Seu desgraçado, assassino, vou lhe aplicar a maior surra de sua vida.

- Não me bata, mais, chega...

- Silêncio! Disse o oficial de justiça

- Damos inicio a audiência de julgamento do réu Pedro Mortati. Presidindo o Meritíssimo Juiz Carlos Edmundo Blauzer, que instruirá a audiência de instrução.

O magistrado adentra na sala do júri, senta a tribuna e dá início à sessão.

- O povo contra Pedro Mortati, brasileiro, solteiro, 28 anos de profissão, escriturário, filho de Gustavo Mortati e de Belarmina Arruda Mortati.

- Este juízo chama para oitiva o psiquatra Doutor Alfonso Nogueira Fernandes, que tendo seus arquivos, referente ao réu, requisitado por este tribunal, fará de viva voz a narrativa de tudo o que tomou conhecimento, sobre o acusado, que consta em seus arquivos.

Nesse momento o rosto de Mortati fechou-se numa expressão de pedra, que de repente se transformou em surpresa e temor.

O Juiz bate com o malhete e diz:

- O Doutor Alfonso Nogueira Fernandes, será ouvido por este tribunal não como testemunha, e sim, como informante deste juízo e prestará todos os esclarecimentos necessários para a intelecção dos senhores jurados. Com a palavra o Doutor Afonso.

O médico começou:

- O réu, segundo os seus próprios relatos, mostrou o seguinte quadro psiquiátrico.

Dês de pequeno, tinha certa diferença, com relação aos garotos da mesma idade.

Parecia dócil e quieto em alguns momentos, noutros, se apresentava com inquietude e até grotesco parecia.

Suas mãos que postas rezavam, eram as mesmas que em dado momento estrangulavam o passarinho, que tanto estimava, até matá-lo.

Sua tez, serena e tranqüila, assumia em outros momentos um aspecto sinistro e sisudo como um verdugo ao executar uma sentença.

Assim, ele se tornava cada vez mais contraditório no aspecto emocional.

Quando pequeno disse que tinha um menino igual a ele, que brincavam sozinhos e, às vezes com algum amiguinho. Em sua mente tudo o que fizera de errado atribuía ao amigo imaginário. A morte do passarinho e a agressões a amigos de infância.

Quando de sua adolescência, nos bancos da universidade, ao frequentar aulas presenciais, abria um livro sobre a classe ou um jornal e ficava lendo enquanto o professor ministrava a aula. Poderia ser perguntado o porquê que os mestres admitiam tal atitude desrespeitosa. Respondo, ele conseguia acompanhar a aula e ler um livro ou um jornal ao mesmo tempo. Por inúmeras vezes os professores após haverem terminado uma explicação, estando ele lendo atentamente o jornal, o questionaram sobre o conteúdo ministrado, fazendo-lhes perguntas. Ele dava as respostas com acerto total, como fosse o mais atento dos alunos.

Ao fazer-se homem feito, procurou-me para uma consulta. Ele parecia inseguro, mas aparentemente calmo e tímido, seu semblante era sereno, seus movimentos eram tranqüilos. Disse que me procurava como psiquiatra:

- Doutor! Tenho outro dentro de mim, que me faz travar uma luta constante entre o bem e o mal. As pessoas me dizem que em certos momentos, tenho um desejo incontido de fazer de qualquer um, que há minha frente esteja uma vítima de um ataque furioso e exterminador. Parece, que a fera que dentro de mim carrego, a qual até então, consegui dominar, está próximo a se tornar dominadora. O que quero é simplesmente determinar a origem desse desenvolvimento de perversidade. Temo pelos meus semelhantes, e tenho certeza de que este é o momento para identificá-la e expurgá-la de dentro de mim.

Passamos ao consultório, ele se deitou no divã. Adiantei-lhe que talvez não fosse o momento de narrar coisa alguma, que deveria se descontrair, para que tivesse a naturalidade necessária à narrativa que estava prestes a iniciar.

De pronto disse que necessitava desabafar, que já esperara o máximo que poderia tolerar. E, assim, ele iniciou a sua narrativa:

- Há qualquer coisa sobrenatural, horrível, indizível, acontecendo comigo. Tenho lapsos de tempo em que não registro as ações que desenvolvo, como que nesse tempo meu corpo estivesse habitado por outro ser, outra pessoa, que não eu. Por isso não sei o que sou realmente, nos momentos de perca de lucidez.

- Diga-me! Esses lapsos de tempo que grandeza tem? Horas, minutos ou segundos- perguntei.

- Pessoas me contam que pratiquei atos inomináveis, e eu deles não me lembro. Estes momentos não foram vividos por mim. Por isso fui levado a acreditar que a criatura que há dentro de mim está querendo dominar os meus atos, tomando conta do meu corpo.

Quando tinha dezessete anos, conheci uma garota na escola secundaria e começamos um namoro.

Certo dia eu a fui procurar e ela me disse que não queria mais me ver depois do que havia feito. Pergunte-lhe o que fizera. Ela me respondeu que eu não me fizesse de idiota, que eu a havia espancado, sem motivo algum.

Logo vi que teria sido o outro quem a atacara, pois eu não me recordava de nada.

Contemplei-o durante alguns momentos, ele estava trêmulo e convulso. O meu cérebro girava sob a ação de mil pensamentos incoerentes, o que deveria fazer em caso tão sutil e estranho?

Para concatenar os meus pensamentos, pedi-lhe que narrasse dês do início, quando notara pela primeira vez anomalia em seu estado emocional.

Ele contou que quando tinha tenra idade, um dia, brincava com um menino igual, a ele e, em certo momento, o menino queria que ele brincasse com ele e largasse o papagaio, como não o fizera o menino asfixiou o papagaio de estimação.

Quando tinha dez anos o outro atacou um amigo como uma fera fosse, sem qualquer provocação, pois estavam jogando conversa fora. O amigo lhe disse que ele ficara estranho, branco como uma cera e com cara de alucinado e o teria atacado inesperadamente.

Aos doze anos, fora acometido de uma doença grave e quando se recuperou nunca mais viu o outro menino que com ele brincava.

Obviamente que concluí que seria um menino imaginário a quem ele atribuía todo à culpa dos seus transtornos.

A narrativa continuou até o momento atual. O tempo destinado a consulta havia acabado, confesso que estava ansioso que o tempo passasse, pois até aquele momento não sabia como qualificá-lo psicologicamente.

Ao marcar a consulta para a semana seguinte, ele pareceu receoso e disse:

- Será possível para a amanhã, e se eu matar alguém nesse tempo, não vou me perdoar e o senhor, poderá ter uma parcela de culpa.

Expliquei-lhe que o recesso fazia parte do sistema, assim o paciente colocava as idéias em ordem para a próxima sessão. Mas reconsiderei e marquei para o dia seguinte. Ele pegou a senha de horário, e se despediu saindo.

No dia seguinte Pedro Mortati, assim se apresentara a mim como cliente, foi ao meu consultório envergava uma gabardina cinza-clara e folheava nervosamente um jornal enquanto aguardava na sala de espera. Via-se nitidamente que lhe faltava o ar. Passara os trinta minutos anteriores a caminhar de um lado para outro no corredor que ficava do lado de fora do consultório.

Fui à sala de espera para cumprimentá-lo e apertei-lhe a mão. Notei que tinha a mão fria e úmida, o que confirmava a sua ansiedade.

Ao entrar no consultório, nervoso, não parecia o mesmo que tivera na primeira vez, foi logo dizendo nervosamente:

- Agora tenho provas de haver outro ser encerrado em mim, que deseja, sem cessar, invadir-me, agir à minha revelia, um ser que se move que me rói, que me possui. Quem é ele? Nada sei, mas somos dois em meu pobre corpo, e é ele, o outro, que é o mais forte, e terminará subjugando a minha vontade, tomando posse do meu corpo, como aconteceu esta noite.

Seu corpo transpirava, suas pernas sacudiam em espasmos descontrolados, seu peito arfava em respirações ofegantes.

Embora não estivesse quente, liguei o ar condicionado para arejá-lo, deixei-o se acalmar, e lhe disse com voz mansa.

- Diga-me de quais provas está falando?

- À noite, fui dormir e em poucos minutos havia conciliado o sono, surpreso acordei no dia seguinte e ao sair para comprar pão para o dejejum, o guarda do prédio me disse sorrindo que a noite fora grande, pois chegara às quatro horas da manhã. Lembrava apenas que havia deitado de pijama e que acordara pela manhã para fazer o desjejum, não me lembrava de ter saído durante a noite. O que tinha feito ao sair, era uma incógnita, poderia ter matado alguém, violado a lei, eu nada sabia.

Disse-lhe que poderia ter sido um simples episódio de sonambulismo, coisa muito comum de acontecer com qualquer que sofresse desse distúrbio.

- Não, não é isso, alguém, alguma coisa está se apossando do meu corpo e saindo por ai, sei lá para fazer o que.

Foi quando lhe sugeri que fizéssemos uma regressão, com possibilidade de entender o que com ele estava se passando. Mas, apenas um senão, eu não era especialista em regressão hipnótica, teríamos de procurar outro profissional. Sugeri-lhe um velho professor, que conhecera nos banco da universidade. Ele aquiesceu ao sugerido e eu fiquei de procurar o professor.

Na semana seguinte tudo estava arranjado, eu havia narrado ao professor tudo o que sabia sobre o caso. O professor comprometeu-se a ir ao meu consultório no período de sua terapia para se entrevistar com Mortati.

Estávamos os três no consultório, o professor Marcilio Sobrinho, após se apresentar ao meu cliente, iniciou uma longa explicação sobre a hipnose, dizendo:

- A hipnose é uma técnica que uso para ajudar os meus pacientes a terem acesso às vidas passadas, ou até mesmo a parte de sua vida presente. Há muitas pessoas que tem dúvidas do que é a hipnose e o que acontece com uma pessoa em um transe hipnótico, mas na realidade não existe qualquer mistério a esse respeito. A hipnose é um estado de concentração focada, semelhante aos que muitos de nós experimentamos todos os dias. Quando nos encontramos descontraídos e a nossa concentração não é distraída por ruídos exteriores ou outros estímulos, podemos dizer que nos encontramos num estado de hipnose ligeira. Toda a hipnose é na realidade uma auto-hipnose em que o paciente controla o processo. O terapeuta e simplesmente um guia. Grande parte de nós entra em estado hipnótico todos os dias – quando nos encontramos absorvidos por um livro que estamos lendo ou por um bom filme, quando conduzimos o nosso automóvel a caminho de casa, durante um período de tempo considerável sem entendermos como é que chagamos até ali.

Uma das metas da hipnose, de modo análogo ao que se passa com a meditação, é a de ter acesso ao subconsciente. É esta a parte da nossa mente que se encontra logo abaixo da consciência normal de pensamentos, estímulos exteriores e outras interferências ao nosso estado de vigília.

Após sua fala o professor passou a aplicar a técnica hipnótica de regressão.

Ele toma consciência estando no apartamento, à última lembrança que tivera era que havia se deitado de pijama para dormir e adormecera.

Continuando a regressão, ele se encontra preparando-se para dormir. Na sua memória não havia registro de haver saído à noite.

Ao final da sessão, após o meu cliente haver saído o professor me disse:

Ele resistiu e nada revelou na hipnose, ou no seu subconsciente nada há registrado, explico isso da seguinte forma:

Quando você está hipnotizado não está dormindo. A sua mente consciente sabe sempre o que está a experimentar durante todo o tempo em que se encontra hipnotizado. Apesar do contato subconsciente a nível profundo, a sua mente continua a ser capaz de comentar, criticar e censurar. Tem um controle constante de tudo aquilo que diz. A hipnose não “pode ser considerada um soro da verdade, nem tampouco é uma máquina do tempo que seja capaz de levá-lo para outro tempo sem que haja consciência disso. Há pessoas que sob um estado de hipnose observam o passado como se estivessem assistindo um filme. Outras se envolvem de um modo mais acentuado, com reações mais emocionais. E há ainda outros que sentem mais as coisas do que as vêem.

No caso do seu cliente ele deixou-se hipnotizar, mas teve o controle do que queria revelar ou não por todo o tempo de hipnose, malogrando assim a nossa expectativa.

* Nota do autor: Este comentário feito pelo professor Márcio Sobrinho, personagem deste conto, foram baseados no livro de Briam L. Weiss “O PASSADO CURA”. E, adaptado para este conto.

Aquela possibilidade havia sido inútil. O professor e o meu cliente haviam ido, e eu estava sozinho, raciocinando o problema. Não sei quantas horas estive pensando no caso, sem obter uma solução que nos levasse, a saber, o que meu cliente fazia quando estava fora de sua consciência. Resolvi que teria de fazer uma sessão com os pais de meu cliente, telefonei a ele e solicitei que convidasse seus pais para uma visita ao meu consultório. A resposta dele foi um silêncio completo, por algum tempo, e, ele disse que ambos estavam mortos. Perguntei-lhe quando ocorreram as mortes, que idade tinha nas épocas. Mais uma vez o silêncio reinou, tive de insistir se ele ainda estava ouvindo. Respondeu que falaria na próxima sessão e desligou o telefone.

Fiquei imaginando que algo de anormal teria havido com a morte de seus pais.

Na próxima sessão, voltei ao assunto, ele me pareceu calmo, como em alguma das vezes anteriores e disse:

- Meu pai foi o primeiro que morreu, isso aconteceu quando eu tinha tenra idade. Minha mãe morreu, treze anos depois, quando eu completara dezoito anos.

Perguntei-lhe de que tipo de doenças seus pais haviam morrido. Ele se mexeu no divã, com sinal de inquietude e disse:

- Meu pai morreu em um acidente e minha mãe... Perguntei-lhe se não queria falar sobre os casos. Ele respondeu que preferia esquecer que aquilo havia acontecido. Sua última frase soou estranha, o que me levou a mudar o rumo da sessão.

A terapia não avançava, eu tinha de fazer alguma coisa, resolvi procurar ajuda, mais uma vez, desta feita de um detetive, o plano que armara, seria que o meu cliente não deveria saber que o detetive não o estava perdendo de vista. Como ele morava sozinho em um apartamento, o detetive o seguiria sempre que fora do apartamento, não o deixando cometer algum desatino, sob a influência do ser que tomava conta do seu corpo. Liguei para ele e lhe disse que me procurasse assim que houvesse um novo lapso temporal de memória.

Procurei nos pequenos classificado:

HERCULAN – O Detetive.

Especialista em desaparecidos.

Investigações de adultério.

Informações confidenciais.

Telefone 011.525.3333

-Alo é Herculan Decrois, as suas ordens.

- Senhor detetive! Eu sou psiquatra e necessito do seu trabalho para um cliente. Tem de ser trabalho confidencial. O senhor pode vir ao meu consultório?

- Imediatamente doutor, basta que me dê o seu endereço e logo estarei ai.

- Como pagarei seus honorários.

- Meus honorários são de R$300,00 reais por dia mais despesas.

O detetive compareceu ao meu consultório na parte da tarde para acertarmos os detalhes da investigação. Forneci-lhe o endereço do meu cliente e lhe disse:

-Veja bem, ele em hipótese alguma deve perceber que o senhor o está investigando. Seu trabalho terá inicio buscando informações detalhadas da morte de seu pai e de sua mãe...

Uma semana depois o detetive me procurou e me entregou um envelope pardo e disse:

- Aqui tem o relatório sobre o meu trabalho investigatório, relativo à morte dos pais do meu investigado.

RELATÓRIO DE DECROIS:

“O pai morreu em circunstâncias estranhas, o menino, seu filho, estava junto com ele quando ocorreu o acidente, ele caiu na cova dos leões no zoológico e foi trucidado por um casal de leões. O menino correu chamando por socorro, e dizendo que ele tinha sido empurrado, mas quando as pessoas chegaram para lhe prestar socorro, ele estava totalmente despedaçado, os animais o haviam esquartejado e comiam seus pedaços.

A polícia interrogou varias pessoas que estavam no local, que disseram que não havia ninguém junto com a vítima e seu filho quando ocorreu o sinistro. O caso foi encerrado.

A mãe quando limpava a janela do apartamento em que moravam, se desequilibrou e despencou do décimo quarto andar teve morte instantânea, o rapaz, seu filho, estava na cozinha naquele momento e somente notou que sua mãe havia caído quando chegou à sala onde ela estava fazendo a limpeza, não a viu, a janela estava aberta, e lá embaixo, havia uma aglomeração de pessoas olhando para o apartamento

Fechei o relatório e o coloquei sobre a escrivanhia e disse:

- Muito bem, bem resumido, mas está dentro do que eu esperava. Agora sua diligência será no sentido de verificar o que o meu cliente faz quando deixa o apartamento. Quando entender necessário use uma câmara digital para registrar o caso em fotos ou em vídeo.

Importante ele costuma sair à noite, por isso sua vigilância deve ser à noite, uma vez que ele trabalha diuturnamente.

Embora o dispêndio econômico fosse muito e certamente não teria o retorno. Mesmo assim, concordei com o pagamento.

SEGUNDO RELATÓRIO DE DECROIS:

No dia 24 de junho, quarta feira, por volta das vinte e três horas, Mortati deixou o edifício onde mora e dirigiu-se para um ponto de taxi. Ao vê-lo sair em um taxi, peguei outro e o segui. O taxi tomou rumo à estrada principal que dá acesso a cidade. Perguntei ao motorista, se sabia para onde o taxi que estávamos seguindo estava indo. Ele sem nada dizer, pegou o rádio e se comunicou com o motorista que estava conduzindo o investigado. Perguntou-lhe onde estava e para onde iria. A vos no receptor disse que estava indo para o cabaré da Letícia. O motorista lhe respondeu que estava muito longe, que buscaria outro taxi que estivesse mais perto do chamado. Virou-se para mim e disse:

- Ele está indo para um cabaré, que fica na saída da cidade pela BR.

Logo chegou a BR e ele tomou-a pela direita e seguiu. Há mais de um quilômetro o taxi entrou em um portão de ferro que estava aberto e sumiu entre as arvores. Pedi que parasse e dispensei o taxi. Adentrei no portão. Onde um guarda me recepcionou, dizendo: Hoje está bem concorrido o show, há uma nova cantora muito graciosa. O senhor irá adorar.

Respondi-lhe que com toda a certeza me agradaria. Segui pelo passeio circundado por grandes arvores.

Dentro do estabelecimento, dado a pouca iluminação, demorei a localizar o nosso homem, que se encontrava em uma mesa, com uma garrafa de wiski e duas mulheres, que se esparramavam em um dos sofás. Coloquei-me em um canto discretamente, pedi uma cerveja e fiquei ali a observá-lo. Ele dançou e bebeu por quase uma hora. De repente entra um homem e se coloca sob a luz que iluminava o bar. Seus membros eram enormes, mostravam que possuía uma força física e um caráter fora do vulgar. A sua barba emaranhada, o seu cabelo grisalho, despenteado e as sobrancelhas inclinadas combinavam-se, dando-lhe um aspecto de dignidade e poder. Falou com um dos garçons e passou a olhar para todos até encontrar Mortati. Dirigiu-se a ele, logo as mulheres se afastaram, estiveram conversando por alguns instantes. De onde estava parecia-me que a conversa não era nada amistosa, gesticulavam, em certo momento o homem levantou e apontando-lhe o dedo proferiu algumas palavras, que me pareceu ser uma ameaça e saiu. Logo as mulheres voltaram ao seu encontro, ele pegou as duas mulheres e subiu para o andar superior. Chamei um dos garçons e lhe perguntei o que havia no andar superior. Respondeu-me que era lá que as mulheres faziam massagem nos clientes. Entendi e permaneci ali a esperar até que retornaram e seguiram dançando e bebendo. Quando o cabaré fechou, ele saiu, estava completamente bêbado, mal se sustentava de pé. Foi ajudado pelo guarda que chamou um taxi para levá-lo para casa.

O pessoal começava a fazer a limpeza, e eu estava na saideira, tomava os últimos goles de cerveja. Um dos garçons se aproximou e eu lhe disse:

- Sente-se! Posso lhe fazer uma pergunta?

- Sim, pode.

- Eu estive conversando com aquele homem que chegou, ele vestia um sobretudo escuro e ficou ali naquela mesa, me parece que eu o conheço de algum lugar, mas não estou lembrado dele.

- Há! O senhor Antônio, vulgo bicheiro, ele é um negociante, como se diz por ai negocia dinheiro e banca o jogo do bicho.

- Eu entendo, é agiota e bicheiro?

- Isso ai.

- Bem a conversa está boa, mas estou importunando os que querem fazer a limpeza.

Até mais ver.

Eu estava exausto, fui para a casa descansar. Quando retornei ao posto de observação, nas cercanias do prédio, por volta das dezoito horas. Naquela noite ele não saiu do edifício.

No dia seguinte, peguei a lista telefônica e procurei Antônio, havia tantos Antônios que desisti da lista e pensei:

Quem poderá me informar sobre um agiota e bicheiro?

- Claro qualquer um que faça jogo do bicho.

Fui à procura de um arrecadador de jogo de bicho. Foi no mercado municipal que encontrei um homem de meia idade, sentado em um dos bancos, pessoas o cercavam e ele registrava as apostas em um caderninho e dava uma copia do registro da aposta ao apostador. Aproximei-me e disse:

- Um real no cachorro de primeiro ao quinto, mais dois reais nesta centena, também de primeiro ao quinto. Ele escreveu no bloquinho, destacou a copia e me entregou, paguei e sentei do outro lado da mesa e lhe disse:

- Mire senhor eu conheci o senhor Antônio para quem o senhor trabalha só que não sei como posso encontrá-lo. Mal acabara de dizer isso e ele recolheu sua maleta e disparou deixando-me a falar sozinho.

Eu estava na pista certa, só que nada poderia fazer naquele momento. Chamei o meu ajudante Tipiu e ele foi ao mercado, com a finalidade de seguir o homem no final da manhã, ou a alguém a quem ele passasse as apostas. O que de fato aconteceu, por volta das treze e trinta, um arrecadador recebeu as apostas e o numerário e Tipiu o seguiu até a casa do bicheiro. Após as dezesseis horas, eu fui ter com o bicheiro.

- Bom dia. – disse a um homem que atendeu a porta – O senhor Antônio se encontra?

- Quem deseja falar com o senhor Antônio?

- Pode dizer que é da parte do senhor Mortati.

Alguns instantes de espera na porta e fui levado ao escritório do senhor Antônio.

Recebeu-me de pé e disse:

- Senhor se for um novo prazo, esqueça, minha paciência se esgotou com o senhor Mortati.

- Não se trata disso- disse-lhe fazendo uma mesura. Estou fazendo um levantamento da situação do senhor Mortati para um cliente meu a quem ele espera contrair um empréstimo para pagar uma conta que tem com o senhor, só que o meu cliente deseja saber, de quanto e esta conta, antes de emprestar o dinheiro que ele está pedindo.

O senhor Antônio, mandou-me sentar e sentou-se, passou a mão no cabelo, jogou-se para traz na cadeira, e disse:

- Mas, me diga quem é o senhor?

- Desculpe não me haver apresentado- Sou Herculan Decrois, detetive particular.

- Pode provar o que está dizendo senhor Herculan?

Puxei minhas credenciais e lhe alcancei. Examinou e me devolveu, dizendo:

- Muito bem, diga ao seu cliente, que ele tem uma divida de jogo de mais de 100.000 reais. E, mais não de jogo de bicho, mas de jogo de cartas.

- Colocarei isso no meu relatório, fico grato pela sua atenção.

Estava mesmo saindo da casa do senhor Antônio, quando Tipiu chamou pelo celular:

- Alo! Pode falar Tipiu estou ouvindo.

- Senhor Herculan, o senhor Mortati acaba de sair e eu o estou seguindo.

- Siga-o e quando ele parar seja lá onde for me comunique que eu irei ao seu encontro.

Após alguns minutos, o telefone de Herculan toca e ele atende:

- Alo, fala Tipiu.

- Seu Herculan, o homem que estou seguindo acaba de entrar em uma joalheria do centro comercial.

- Entre atrás dele e veja o que está fazendo. Já estou indo para aí.

Alguns minutos após:

- Alo, fala Tipiu!

- Seu Decrois, o homem assaltou a joalheria e fugiu a pé levando um saco com jóias.

O grande detetive olhou o relógio e mentalmente gravou a hora da ocorrência e disse:

- Mire! Tipiu siga o homem e não o percas de vista, logo que ele estiver parado em algum lugar me liga para que eu vá ao seu encontro.

Na fuga o fugitivo pegou um taxi, Tipiu pegou outro e continuou a perseguição. Após uma longa corrida de taxi, Mortati desceu do taxi e o dispensou. Tipiu fez o mesmo e de longe passou a observá-lo. Caminhou por várias quadras até chagar a uma casa velha e abandonada. Olhou para todos os lados e entrou na casa. Poucos minutos depois saiu, havia deixado o saco. Tipiu puxou o seu caderninho de anotações e escreveu a rua e o número ao lado da casa abandonada. Mortati fez sinal a um ônibus que passava, este diminuiu a marcha e ele saltou para o seu interior. Tipiu nada pode fazer. Resolveu telefonar para mim e narrar o acontecido.

- Mire! Tipiu fique ai que eu já estou indo ao seu encontro.

Vasculhamos toda a casa e nada encontramos em seu interior. Fomos para o pátio, lá encontramos, sob uns destroços de madeira, uma escavação recente.

Coloquei um par de luvas e comecei a cavar com as mãos a terra revolta e disse:

- Mire! Tipiu, aqui está o saco com as jóias! Vamos deixá-lo aqui mesmo, certamente ele deixará esfriar as investigações da polícia para retirá-lo.

Deixamos tudo como estava e partimos.

No dia seguinte:

- Bom-dia Doutor, aqui tem um relatório parcial de tudo o que aconteceu até aqui com o seu cliente.

Após ler o relatório, coloquei-o sobre a escrivanhia, olhei profundamente para o detetive, e pensei – “Terá ele feito tal ação estando em um surto psicótico? Saberei disso na próxima sessão”

Senhor Detetive! O que pretende fazer nessas circunstâncias?

- Mire Doutor, devo fazer o que é certo levar a policia até o local e relatar tudo o que sei, salvo se o senhor entender o contrário e assumir as responsabilidades sobre o caso.

- Vamos nos reunir com o delegado de polícia, o senhor pode providenciar a audiência com ele?

- Sim, e assim que tiver a hora marcada, iremos à delegacia. Enquanto isso Tipiu está de olho no seu cliente, que nesse momento está em seu apartamento.

Ambos na presença do delegado de polícia, após Decrois haver relatado nos mínimos detalhes tudo o que acontecera até o presente momento. O doutor Afonso disse:

- Senhor Delegado! Sugiro que permaneça tudo como está até a próxima sessão de terapia que terei com o meu cliente na quarta feira da próxima semana. A finalidade é de eu saber se ele, no momento da ação estava num surto psicótico, se ele sabe o que fez.

- Doutor- disse o delegado fazendo uma pausa para pensar – Eu concordo, mas colocarei uma vigilância severa no local onde está o produto do roubo e se ele o for buscar, será preso em flagrante.

Essa é a única concessão que posso fazer.

- Aceito as condições e espero que ele retorne a me procurar antes de tentar reaver o produto do delito.

A quarta-feira chegou e lá estava Mortati a andar de um lado para outro no corredor, como estivesse ansioso pela próxima sessão. Tinha um aspecto transtornado, esfregava as mãos uma na outra e proferia palavras em um tom murmurantes.

A porta se abriu e nela aparece o doutor Alfonso, que lhe diz:

- Como está senhor Mortati, queira entrar, por favor.

Mortati entrou e logo procurou se acomodar no divã, e antes que algo lhe fosse perguntado disse:

- Foi ontem, estava em casa, quando apaguei e não me lembro o que fiz por diversas horas, tendo dado conta de mim, quando novamente estava em casa, e notei que a última consciência que tivera fora de manhã e já estava entrando a noite quando dei conta de mim.

- Não sabe nada do que aconteceu, nesse lapso de tempo senhor Mortati?

- Com toda a certeza doutor Alfonso.

- E antes dessa ausência, houve outras, digamos, teria saído à noite, ido a uma boate?

- Não, não lembro nada assim, nunca fui de sair à noite e ir a boates.

- Não devo lhe perguntar mais nada, se ele estiver mentindo, pode causar suspeita- pensou o médico.

- Muito bem. Tente lembrar o que fez nas últimas vinte e quatro horas, senhor Mortati?

- Levantei cedo e fiquei por casa, lendo algumas revistas e jornais. Não me lembro de haver almoçado, quando dei conta de mim devia ser por volta das dezenove horas.

- E na noite anterior o que fez?

- Apenas dormi por volta das vinte e uma horas. E acordei no outro dia, devia ser por volta das dez horas.

- Costuma dormir tanto assim, senhor Mortati?

- Não, sempre, mas às vezes costumo a perder a hora.

- Parece que tudo está coerente, ou ele é muito esperto. - pensou o médico.

- Alo senhor Herculan? – Tipiu falando, o homem acaba de deixar o prédio eu o estou seguindo.

- Mire! Tipiu, não o percas de vista e quando ele estiver chegado a algum lugar me liga que irei logo para ai.

- Onde ele estará indo a esta hora, passa de uma hora da madrugada?

- Não o percas de vista, já estou me arrumando para ir ao teu encontro, assim que ligares.

- Alo! Senhor Herculan aqui é o Tipiu, o homem deixou o taxi e está na frente da casa na Rua das Hortênsias 345.

- Mire! Tipiu, esse e a casa do bicheiro sei onde é já estou indo.

O grande detetive para o carro, chegando a arrastar os pneus e sai do carro quando é ouvido um tiro dentro da casa do bicheiro.

- Tipiu! O que está acontecendo?

- Não sei seu Decrois, o homem bateu à porta que foi atendida por outro homem ele entrou e nada mais eu pude ver ou ouvir.

Nesse momento sai Mortati, passou por nós sem sequer olhar-nos. Adentramos na casa e lá no escritório do bicheiro estava o corpo do mesmo estendido no tapete com um tiro no coração.

Decrois liga para a delegacia pedindo ajuda. Chega o inspetor de plantão acompanhado de um fotografo.

- Mire inspetor, o homem saiu da casa, passou por nós e se foi.

- E porque os senhores estava aqui exatamente neste momento?

- O delegado poderá lhe dar as explicações necessárias.

E assim ele foi preso em sua residência, sob a acusação de matar com três tiros o banqueiro de jogo do bicho.

Nada mais disse, nem lhe foi perguntado.

A promotoria pública chama o acusado para prestar depoimento.

Neste momento Mortati, levantou a cabeça, olhou para o seu advogado, para o promotor, logo para o juiz, levantou e calmamente se dirigiu ao banco de testemunhas.

Juiz:

- O senhor sabe que não está obrigado a dizer a verdade, mas que o que disser poderá ser usado contra você por este tribunal. Com a palavra o representante do povo.

- O promotor, olhou para o réu, levantou e caminhou até onde ele estava, fitou-o demoradamente e disse:

- Por tudo que nos foi apresentado até o momento, o senhor é vitima do outro, que tenta dominar e tomar conta do seu corpo e da sua mente.

Diga para nos outros, como é que isso acontece?

Mortati parecia que estava completamente calmo, olhando para o promotor começou a responder:

- Tudo o que o meu médico disse é a mais pura verdade. Quando eu era pequeno tinha alguém que me fazia companhia, ele desapareceu quando estive enfermo e nunca mais o vi. Ele sempre fazia maldades, as quais eu levava a culpa. Esse alguém, com o passar do tempo passou a dominar o meu ser, sem que eu o percebesse, apenas as pessoas diziam o que eu havia feito, inclusive quando estava dormindo. Eu de nada recordava. Esses fatos ficaram recorrentes, e eu resolvi procurar ajuda psiquiátrica, foi quando procurei o doutor Afonso. Daí tudo está dentro do que o próprio informou a este tribunal, nada mais tenho a acrescentar.

Nada mais foi dito nem perguntado

- A defesa chama como testemunha o detetive Herculan Decrois.

Qualificada a testemunha, que prestou o compromisso de dizer a verdade nada mais que a verdade, teve inicio o interrogatório.

Fala o Juiz:

- Senhor Herculan, o senhor foi contratado para seguir o acusado e fornecer um relatório ao seu medico psiquatra doutor Afonso?

- Sim meritíssimo – respondeu Decrois com voz clara em um tom moderado.

- Em suas diligências, teve conhecimento de algo que pudesse levar a suspeitar que o réu, tinha conhecimento do que estava fazendo, ou seja, que a alegada possessão pelo outro, seria uma armação premeditada?

- Iniciei o meu trabalho para o Doutor Afonso fazendo uma investigação sobre os seus pais. Como haviam morrido em situações não normais, mas que na época não nos levou a uma investigação severa, pois esse não era o objetivo do trabalho. Após a prisão do réu, entendi que deveria aprofundar tais investigações, iniciei em procurar por pessoas que de alguma forma ou outra estivessem envolvidas no dia do acidente. Tendo chegado a um senhor que estava próximo ao local onde o pai do acusado caíra no poço. Disse-me o entrevistado que estranhou muito quando o garoto saiu correndo e dizendo que seu pai havia sido empurrado e caíra no poço, ninguém deu ouvidos ao garoto, pois no local somente estava ele e o pai. Fui ao local onde houvera a queda e constatei que o homem jamais poderia ter caído, salvo se fosso empurrado, pois no local havia uma guarda de concreto, de trinta centímetros de altura, com cinquenta centímetros de afastamento da beirada do poço.

Na investigação que fiz sobre a morte de sua mãe, desta feita parece que ficou mais evidente que ela teria sido empurrada ao cair pela janela. Pois nas investigações policiais e nas fotos que a especializada tirou do acidente, não foram visto panos de limpeza, como também nenhum sinal de que ela estivesse limpando a janela, se fosse o caso ela teria caído com um pano na mão, ou este teria caído ao lado do corpo, ou próximo a este, não houve nenhum registro de tal ocorrência.

Nesse momento Mortati, começa a mudar sua expressão facial e num surto paranóico começa esbravejar dizendo:

- Sim eu empurrei o meu pai no fosso para ser devorado pelos leões, ele nunca me dava atenção, apenas tinha olhos para o meu irmão panaca. Também empurrei minha mãe ela não gostava de mim, preferia o panaca do meu irmão.

Também eliminei o agiota que me estava pressionando.

O Juiz bate no sinete por diversas vezes e diz:

- Silêncio, o senhor não pode interromper um depoimento, mas o alerto que será anotado nos autos tudo o que disse será levado em conta por este júri.

Nesse momento Mortati começa a mudar novamente a expressão do rosto, voltando a ficar calmo.

- Senhor Decrois, queira retornar ao seu depoimento.

- Meritíssimo apenas fiz o que fora contratado pelo meu cliente, poderia ter me aprofundado nas investigações se esse fosse o objetivo do contrato.

Nisso o promotor público pede para se aproximar do juízo. O juiz manda o advogado de defesa e o promotor se aproximarem. Quando próximo o promotor disse:

- Peço um recesso de no mínimo duas semanas, pelas razões que posso explicar a este tribunal sob sigilo.

O juiz pergunta ao advogado de defesa se concorda com o recesso solicitado pela promotoria pública. Relutou mas terminou aquiescendo ao pedido.

As duas semanas se passaram e teve prosseguimento o julgamento.

- A promotoria chama a testemunha Herculan Decrois, para prosseguir com o seu depoimento.

O promotor se adianta e diz ao magistrado:

- Meritíssimo o senhor Herculan Decrois durante o recesso, foi contratado pelo Ministério Público para proceder a diligência, que entendemos que seja da mais absoluta relevância para o deslinde desse caso.

Aqui está o relatório do Detetive, o qual passo ao meritíssimo para que o examine e que o mesmo passe a fazer parte dos autos do processo.

RELATÓRIO DE HERCULAN DECROIS:

As informações colhidas na circunvizinhança dos pais o réu, deram conta de que estes teriam vindo de uma cidade do interior acompanhado de um filho que chamado Pedro Mortati. Havia desconfiança de que o menino seria anormal, pois os pais o guardavam, não o deixando brincar com a gurizada da vizinhança. Falava-se, na vizinhança, a boca pequena, que o menino era esquizofrênico.

Busquei no registro de nascimento de Pedro Mortati a cidade em que ele havia nascido. Através de uma incessante busca da residência onde o casal havia morado, o que me levou ao cartório onde ele havia sido registrado. Ao examinar os registros, constatai que tinham sido registradas duas crianças que eram gêmeos univitelinos. Um se chamou Pedro Mortati e o outro Ricardo Mortati. Os gêmeos haviam nascido no hospital da cidade.

No hospital busquei o registro da internação da parturiente e obtive o endereço procurado.

Uma senhora chamada Etelvina, me disse que morava, havia dez anos naquele endereço e, que nunca havia visto falar no casal Gustavo Mortati e de Belarmina Arruda Mortati.

Procurei pela circunvizinhança até encontrar uma moradora antiga que havia conhecido a família Mortati. Confirmou o nascimento dos gêmeos e que haviam morado na vila até que as crianças tinham doze anos, quando uma tragédia ocorreu, um dos meninos morrera acidentalmente. O outro ficou traumatizado e teve de ser internado para tratamento dos nervos. Dizia-se, na época, veladamente, que os meninos haviam brigado e que um deles havia sido morto pelo outro. O que fez com que o casal se mudasse, sem dizer para onde.

Busquei registro policial a respeito havia registro de um acidente fatal, que teria sido registrado pelo pai.

Nesse momento o réu, levanta-se e diz:

- Sim, sim, eu matei aquele desgraçado, ele era um panaca, todo certinho, o pai e a mãe gostavam mais dele do que de mim, por isso eu o matei. Logo passou a quebrar tudo o que lhe vinha pela frente. Contido por policiais, foi levado para fora do tribunal e colocado em uma camisa de força.

O juiz bate com o malhete na mesa e diz:

Por tudo o que consta no processo e pelo descontrole do réu diante deste tribunal, eu o considero incapaz e ficara recluso em um hospital psiquiátrico por prazo indeterminado.

rocado
Enviado por rocado em 20/11/2018
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