A morte da musa das sombras

Um carro estacionou nas proximidades da casa de Esther e Oscar. Era um vw Golf GTI preto modelo de 4 anos atrás e placa adulterada. Em seu interior haviam três homens sendo dois jovens com aparentemente trinta anos cada e o terceiro com cerca de 60 anos. Os três saíram do carro atentos a todos os movimentos.

A noite parecia ter sido cuidadosamente escolhida. Ventava e caia uma chuva fina e fria. O mal tempo provavelmente afastara todos daquela localidade e o deixara completamente ermo.

Mas para aqueles homens, seria a noite perfeita para cometer um crime.

Os dois mais novos tinham a função de localizar e destruir câmeras de segurança, arrombar o portão central e a porta de entrada o restante do trabalho seria feito pelo homem mais velho, que era um velho conhecido de Esther.

Os olhos dele, destilavam um ódio quase palpável. Alfredo não tinha mais aquela aparência cadavérica e mendiga como nos anos em passou observando atentamente Esther. Trabalhando agora para Ferdinando Panterro poderia finalmente orquestrar sua vingança.

Os dois Jovens agiram com rapidez. Localizaram todas as câmeras expostas e as neutralizaram, tudo sob o olhar frio de Alfredo. Em seguida foram até o portão principal. Um deles injetou um tipo de massa no buraco da maçaneta do portão, se afastou por cerca de um metro, houve um estalido agudo, e o portão se abriu. Nada de alarmes ou cães.

Afredo assumiu uma expressão aturdida. Estava tudo muito fácil. Ele sabia que Esther era muito perspicaz, e tantas vezes maquiavélica. Não poderia ser tão simples acabar com ela.

Os dois homens empunharam uma pistola e encaixaram silenciadores. Alfredo tomou uma postura defensiva se posicionando atrás dos dois. Caminharam sorrateiramente até a porta secundária da casa. Um dos homens retirou do embornal algumas ferramentas, e com a propriedade de quem tem experiência no assunto, arrombou com facilidade a porta. Quando se preparavam para entrar, Alfredo falou usando tom baixo de voz.

— Vocês ficam! Eu vou sozinho.

Os dois homens se olharam sem entender, e um deles questionou.

— Esse foi o combinado?

Alfredo fitou-o com uma expressão esquisita.

— Essa missão é minha! Me pertence muito mais do que a qualquer outro. Vocês foram enviado para colaborar, e não para dizer como deve ser feito.

Os dois sabiam que ele tinha razão no que dizia. Panterro havia convocado eles somente para ajudarem Alfredo. Seria suicídio desobedecer suas ordens.

— Tudo bem, vamos lhe esperar próximos ao portão. É melhor que não vacile, pois sabe o que acontecerá se não cumprir as ordens!

Alfredo ergueu uma das mãos, e recebeu a pistola. Ele então arrancou o silenciador e o devolveu.

— O que pensa que está fazendo? Não devemos chamar atenção!

Alfredo sorriu e retrucou.

— Chamar atenção de quem? esse lugar parece deserto! Se minha vontade não fosse tão grande, eu iria esperar no carro por vocês dois, e ainda assim apostaria nela. Eu quero que ela ouça e se aterrorize com o som dessa arma.

Os dois se olharam, e posteriormente para Alfredo.

— Vamos te esperar no carro. Se demorar muito, nós entramos.

— Vou demorar um pouco. Quero brincar!

Ele sorriu e entrou no casarão. Acionou uma pequena lanterna pois aparentemente o lugar estava só. Ele sabia porém que não estava, havia a vigiado todo o tempo naquele dia. Ainda tinha algumas desconfianças por achar tudo tão fácil e por saber que a filha dela não lhe acompanhara naquele dia. Esther estava só em casa. Ele percorreu alguns quartos, e outros ambientes da casa sem sucesso. Uma sensação gélida começou a lhe tomar o corpo e a cada momento tinha mais certeza de que era vítima de uma cilada.

Enfim ao se aproximar de uma dos quartos, avistou um feixe de luz na lateral da porta que estava semiaberta. Ergueu a arma e suavemente forçou a porta. Foi surpreendido com a bela mulher que estava sentada de costas na frente de um computador sobre uma mesa escalavrada em estilo dinamarquês. Na parede logo acima da cabeça de Esther, havia uma TV gigante ligada ao computador. Ele imaginou que ela ainda não o notara. Um rápido dejavu, ela continuava linda, mesmo de costas.

— Esther!

Ela ainda continuava a digitar algo no teclado do computador, ignorando sua presença.

— Esther! Olha para mim. Gostaria de lhe olhar de frente uma última vez — havia um prazer quase deliberado nos seus movimentos.

Ela então se virou lentamente, e lhe encarou de frente. Vários pensamentos lhe consumiam ao avistar aquela mesma boca de lábios polpudos, nariz aquilino e feições delicadas. Ela ainda era a mulher mais bonita que ele já havia conhecido na vida. Seria um grande desperdício ter que matá-la.

Mas ela havia acabado com sua família, com sua vida. Lhe afastara os filhos que nunca mais teve contato, perdera sua boa vida, ela lhe destruiu, e ele precisava se vingar. Seu coração se encheu de ódio, dor, vazio .... Ele queria mais que tudo vê-la morta.

Ela ainda sem pronunciar uma única palavra ou esboçar sentimento algum. Ergueu uma das mãos sobre o teclado do computador.

— Parada! Não tente nada. Tire as mãos do computador!

Ela sorriu, e teclou ENTER.

***

Um dos assassinos olhou o colega, apontou para o relógio.

— Já se passaram meia hora. Vamos entrar!

— Ele disse que gostaria de se divertir um pouco — relembrou o outro.

— Eu estou cheio de receber ordens desse cara. Se ele não tiver feito ainda, nós vamos fazer e cair fora daqui — O outro assentiu com a cabeça. Abriram a porta do Veículo.

Ouviram dois tiros seguidos. Um curto espaço de tempo e outro tiro. Instantaneamente os dois retornaram ao veículo e acionaram o botão de abertura do porta malas.

— Eu teria feito com único tiro no coração para não estragar aquele rosto maravilhoso — comentou com desdém.

Aguardaram ainda por cerca de dez minutos, e finalmente Alfredo apareceu carregando um corpo embrulhado num saco plástico. Ajeitou rapidamente no porta malas como se a idade não fosse empecilho para o peso. Retornou ao carro que já estava ligado, entrou, e pronunciou ofegante.

— Vamos embora logo.

O carro acelerou até as margens de um rio. O próprio Alfredo não aceitou ajuda dos comparsas. Ele mesmo se encarregou da desova. Ao retornar, foi questionado pela prova que Panterro exigira.

Então ele enfiou a mão no bolso, retirou um pequeno embrulho, e o abriu expondo uma orelha com brinco que Esther usava.

***

Trecho do livro "A imponderável Rainha do Rio"