Borboletas no estômago?

Foi a muito tempo, baby.

Mas me deixe-lhe contar uma história.

Loira. Alta.

Comia salada no café da manhã, alface com alecrim, uma letra por dia. No fim do dia ela sempre falhava e voltava a recomeçar o alfabeto.

-La vie est comme ça - ela dizia em francês, sua segunda língua, sua profissão, foi assim que nos conhecemos, enquanto eu dava aulas de escrita criativa e ela de francês.

Odiava a torre Eiffel. Odiava o cabelo cacheado que caía sobre seus olhos, odiava muitas coisas.

E estavam piores naquela quinta.

Quinta quente de verão no meio do inverno.

Isso é um inferno, dizia ela.

A mesma quinta que ela levou uma multa enquanto vinha à escola.

Dizia colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

Odeio esse maldito chocolate que estou comendo, ela sabia que no dia seguinte teria que recontar o 'A' novamente.

E assim reiniciaria o Alfabeto naquela sexta.

Sobre o vento, ela perguntava, queria ouvir uma poesia sobre, queria saber sobre aquilo que sentia, mas não podia ver.

Sobre o amor, ela pedia, uma explicação do por que ele ser tão parecido com o vento.

Enquanto eu falava, ela bocejava, mas não era ofensivo.

Era possível sentir seu hálito de café, dava para ver seus olhos apertando-se ao ponto de lacrimejarem. Suas bochechas logo ficavam vermelhas, ela passava a língua entre os lábios e esticava os braços espreguiçando-se.

- E o mar? - voltava a perguntar, queria saber por que ele parecia tanto com o amor - Sempre tão gostoso, mas tão perigoso, o que há com ele? - continuava a perguntar - Não posso pensar em me jogar que já saio toda bagunçada.

- Tente usar umas boias ou vá com calma - eu a aconselhara.

- De você não posso confiar, suas palavras nascem para confortar coisas que são feitas de agulhas.

E eram essas conversas que me mantinham no emprego, conversas sem mais nem menos, simples conversas sobre uma realidade duvidosa.

Ainda era sexta quando ela perguntou:

- Já sentiu borboletas no estômago? - comia alguma coisa com a letra "A".

Borboletas no estômago, quando batem suas asas pela primeira vez o Japão passa um grande sufoco.

- Sim, borboletas - Ela confirmou sem eu abrir a boca, enquanto no canto da sua, ela passava a língua para pegar o resto do que comia.

Na sexta as primeiras aulas não eram nossas como de costume, então naqueles minutos de ócio, ela esperava uma resposta bem-feita sobre sentir aquelas palpitações na barriga.

Em meu silêncio ela deduziu:

- Você nunca sentiu? - perguntou sem hesitar - não vá me dizer isso, você tão romântico, nunca sentiu o oceano em seu ouvido, as pernas tremerem, as mãos soarem e a brisa fazer as borboletas no estômago causarem enormes tufões no Japão?

Enquanto sua boca mexia, seus olhos piscavam, suas mãos dançavam no ar e seu cabelo voava com o ventilador.

Os alunos gostavam dela, sabia explicar, era descontraída e leve, de um modo que parecia fazer a coisa mais fácil do mundo.

- Vamos responda-me! - ela insistiu.

Foi num sábado que saímos pela primeira vez. Ela vinte e oito, eu vinte e quatro.

Chovia muito. A busquei às sete num bairro difícil de encontrar, a chuva quase impossibilitava minha visão, apertei a buzina duas vezes, não demorou muito para ela sair por um pequeno portão branco, veio correndo segurando uma jaqueta jeans sobre a cabeça, com a porta do carro já aberta, ela se jogou dentro.

Ria por estar molhada, ria sem jeito, sem maquiagem e agora com o cabelo que estava solto preso num coque bagunçado, mechas cacheadas fugiam do enorme coque sobre sua cabeça, era como se a medusa fizesse um coque enrolando suas cobras.

Mas a professora de francês por algum motivo divino, ficara linda daquele jeito.

No carro ela olhava para frente, depois para mim, e então voltava para frente. As vezes no caminho eu olhava para aquele belo ser. Com grandes pernas sob uma calça jeans escura, olhava para aqueles longos braços magros, braços que na altura do ombro sumiam dentro de uma camiseta listrada.

Seus pés balançam escondidos dentro de sapatos Oxford.

Era a primeira vez que eu via uma mulher se vestir assim para um encontro e foi a coisa mais linda que já vi.

- Vamos comer o que? - ela perguntava, estava impaciente, as vezes batucava sobre o porta-luvas o ritmo da música que tocava no rádio.

Era uma garota agitada, longe de si, uma mulher feliz.

- O que vamos comer?

Usava um perfume doce, o cheiro misturava-se com o cheiro do seu cabelo.

Cabelo o que ainda lutava bravamente para ficar preso, algumas mechas fugitivas caiam-lhe ao olho, o que a irritava de início, mas logo começou a enrola-lo no dedo.

- Diga o que vamos com- Assim que o carro parou o letreiro chamou sua atenção, seus olhos brilhavam o reflexo roxo das luzes, então eu disse:

- Já que vai recomeçar o alfabeto, que tal um Açaí?

Desci do carro, dei a volta e abri a porta para ela sair, a chuva havia dado trégua, caíam apenas uma fina garoa.

Ela estava com a boca levemente aberta, um sorriso nascia timidamente ali. Seus braços em um movimento rápido, enrolaram-se no meu pescoço, então ganhei um demorado e quente beijo na bochecha.

Ela sorria, um sorriso que me dava certeza que aquele era o lugar certo pra um encontro.

Sentada no banco de madeira olhando para algo que deveria ser uma imitação de um bar vintage, ela limpa o canto da boca e diz sobre essa bela escolha que fiz, diz estar cansada desses caras que levam garotas em lugares chiques, o que as força a comer pouco e saudável.

- É só não comer, comam o que quiserem. - Eu disse.

- Vocês homens nunca vão entender.

Ela era linda, demorei um tempo para vê-la além de colega de trabalho, sua pele mesmo com algumas acnes era perfeita, seu sorriso com os caninos levemente elevados davam um ar vampiresco à minha bela medusa de olhos castanhos escuros.

- Você não acha estranho ficar me olhando assim? - Eu a encarava, sabia disso, mas mesmo assim virei meu rosto disfarçadamente, ela sorriu, e continuou sorrindo, um sorriso roxo. Colocava a mão na frente da boca evitando que eu visse, mas falhava drasticamente.

Passamos algum tempo falando sobre sonhos mortos.

Um noivado que não deu certo, por que seu noivo queria que ela fosse dona de casa.

Morar na França.

Ser escritor.

- Mas você É escritor - ela afirmou levantando a sobrancelha direita.

- Eu só escrevo.

A noite ia se afastando aos poucos rumo ao entardecer.

A lua admirava-nos enquanto nossos passos lentos se estendiam por uma praça rodeada de food trucks.

Ela comia um churros quando parou, olhou para mim, fez uma face de dúvida e disse com a boca cheia:

-Droga, churros é com "C".

Mesmo com todos estes detalhes posso dizer que ela não era uma pessoa transparente, eu não consigo dizer o que ela pensava, aquela garota que caminhava fazendo barulho ao pisar, a mesma que parava frequentemente para apreciar as gotas de chuva.

Ela se virava para mim e sorria, com o sorriso amarelado, mas encantador, com olhos enormes e escuros, olhos que pareciam penetrar em minha alma, ela rodopiava no meio da praça, com os braços abertos, dava alguns pulinhos e colocava-se a gargalhar.

Ela era tão linda e naquele momento tudo parecia mesmo fazer sentido, as cores, a brisa, o toque, nossa existência naquele mesmo momento.

Como alguém como ela poderia estar solteira?

Como alguém como eu estava ali?

Ela então correu em minha direção e segurou minha mão. Suas mãos estavam quentes e molhadas, não tinha esmalte nas unhas, e usava algumas pulseiras no pulso direito.

Meu cabelo estava molhado ao ponto de começar a cair sobre meu rosto. Então num suave movimento ela retirou as mechas que caíam sobre meus olhos.

Naquele momento eu sentia.

E então estávamos no carro.

Minha mão estava pousada sobre sua coxa, ela cantava junto com o rádio.

- A noite foi maravilhosa, como você pode estar solteiro? - ela perguntou enquanto balançava os ombros com o ritmo da música.

Fiquei em silêncio enquanto o pop tocava.

- Por que não me responde? - ela me olhava, havia baixado o som, sentia seu olhar sobre mim, estava perto ao ponto de eu poder sentir sua respiração.

Imaginava os lábios dela tão próximos, eu queria muito beija-la, desejava isso, almejava, estava ansioso para aquilo.

- Quer parar em algum lugar? - Ela falou ao pé do meu ouvido, meu corpo arrepiou, a chuva voltou a cair mais forte, as gotas se atiravam com força em direção ao para-brisa.

Onde eu iria parar?

O caminho estava cheio de árvores, passávamos por um bairro chique, o guarda acabara de passar por nós.

Ela passava a mão em minha coxa, olhei para ela algumas vezes, e a vi tirar os sapatos, pude ver seus pés delicados e pequenos, ela abaixou e fez massagem neles, olhei para suas costas e vi o vislumbre do fim delas, e o início de sua calcinha rosa de renda. Ela notou.

- Você viu?? Seu sem vergonha - disse ela puxando a camiseta para esconder, ficara vermelha, me deu um soquinho no ombro e começou a rir.

Cortávamos a noite, ainda chovia, cada vez mais forte.

O rádio agora tocava algum sertanejo do momento, era uma música ruim, mas provavelmente fazia muito sucesso, ela sabia toda a letra, cantava sem erro, no ritmo e ainda arriscava umas batidas na janela.

Em momentos anteriores ela tinha sido meu GPS.

-Vire à esquerda, agora direita, vá reto toda vida.

Estava indo em direção à algum lugar que ela dissera ser bem tranquilo, um lugar para ficarmos a sós, e era isso que eu desejava, já não aguentava mais sentir aquilo, aquela sensação subia pela minha espinha.

- Vire à direita, agora vá reto, é logo ali na frente.

Chegamos à um parque com quadras de esportes, rampas de skate e uma ciclovia.

- Minha mãe me trazia aqui quando eu era pequena - Ela começou a dizer olhando para as quadras - Eram Campos lindos na época, repleto de flores, fazíamos piqueniques frequentemente - Ela continuava.

Como a chuva, ela não parava, continuava falando sobre sua infância, começou pelas suas aventuras, depois sobre seus pais, que se divorciaram e como aquilo foi horrível.

Notei que o encontro havia chegado num momento chato.

Ela me olhava nos olhos quando começou a falar de sua mãe, dos últimos seis meses de dor que ela passou cuidando da coroa, até os últimos minutos, aqueles em que ela ouvia os bipes irem se distanciando e a mão de sua mãe ficar sem forças, até ficar mole e sem vida.

Contou tudo isso sem chorar.

Eu não sabia o que fazer, ou o que dizer, então a beijei.

Um beijo demorado, um beijo estalado, nossas línguas se cumprimentavam e dançavam juntas.

Passei a mão sobre seu rosto, estava gelado, era macio, pude sentir algumas espinhas.

Nos beijamos até acabar o fôlego e na pausa para respirar ela saltou do banco do carona para meu colo.

Segurou meu rosto com as duas mãos e voltou a me beijar.

Numa outra pausa tirou a camiseta.

Não estava de sutiã, seus fartos seios estavam soltos, seus mamilos endurecidos pelo frio me convidavam a esquenta-los, seus seios eram macios e pesados, gostaria de ficar segurando eles para sempre, apertei e brinquei com seus mamilos, ela esfregava seu corpo no meu, eu já estava tendo uma ereção, então ela começou a abrir minha calça enquanto nos beijávamos.

Numa terceira pausa tirei minha camiseta.

Ela se esfregava cada vez mais, eu podia sentir seu quadril se elevar um pouco e então voltar a sentar no meu colo, ela estava gostando disso e eu também.

Após abrir minhas calças, abaixar minha cueca e deixar meu pau de fora, ela soltou o cabelo, ele estava molhado, mas com enormes cachos que chegam na altura dos seios.

Desci minhas mãos pelo seu corpo, cheguei em sua cintura e passei a beijar seu pescoço, ela gemia.

- Você está sentindo?—ela perguntou entre gemidos—Sente elas em seu estômago, sente elas voando até sua garganta?

As borboletas, as malditas borboletas, era sobre isso que ela estava falando, e eu as sentia, sentia as malditas brincando com meus órgãos e indo direto pra boca do meu estômago, num voo rápido elas paravam na minha garganta.

- Sim, eu sinto

- Então vamos deixa-las sair, ela disse com um enorme sorriso nos lábios.

Então desci em direção aos seus seios, enquanto eu beijava seus mamilos, vi o sangue escorrer.

Ele brotava em enorme quantidade, escorria pela barriga e continua escorrendo, voltei meus olhos para ela, que me beijos e depois mordeu o próprio lábio inferior, levantou as mãos e entre elas havia um canivete que desceu diversas vezes em direção ao meu tórax, seus seios saltavam a cada movimento.

Ela continua a me furar sem cessar, o corte em meu pescoço naquela altura já havia me matado, os legistas no dia seguinte diriam que aquele corte foi o motivo da minha morte.

Mas ela não parava, continuava me furando, saltitando os belos seios, esfregando, gerando atrito entre suas pernas.

O sangue continua escorrendo de vários buracos em meu corpo, ela se esfregava violentamente sobre meu despido pau, de repente seu corpo se contorceu e ela gemeu, tão alto que até eu morto pude ouvir, parou de me furar e se esfregar quando gozou.

Eu já não estava mais ali e ela nunca esteve.

Maicon Moura
Enviado por Maicon Moura em 09/02/2019
Reeditado em 05/04/2019
Código do texto: T6570693
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