A Noite Passada - Parte 2 - Raquel

Minha cabeça ainda doía, e era madrugada.

Pensei o que meus pais estavam pensando.. Sentiam minha falta?

Olhei para todo o quarto e não havia ninguém.

O Felipe desapareceu.

Mas não estava preocupada comigo, e sim com a Raquel.

Alguma coisa me dizia que ela não estava bem.

Senti vontade de fugir. Mas não sabia onde estava, resolvi esperar amanhecer.

Conheci a Raquel quando eu tinha 13 anos, ansiosa para chegar no ensino médio, achando que o paraíso estava lá.

Menina metida, orgulhosa, o tipo de menina que eu odiava.

Mal sabia eu que um ano depois estávamos conversando sobre tudo, desde signos, ela Leão e eu Gêmeos, até sobre sexo.

Se transformou na minha amiga-irmã. Apesar de ser apenas um ano mais velha, ela sempre foi madura e parecia ter experiência de tudo.

A primeira vez que passei uma noite na rua foi com ela.

Mas que aventura!!

Um dia vou lembrar com detalhes daquele dia.

Foi pra ela que contei sobre minha primeira vez com o Felipe. Mas, apesar de ser como toda leonina, fechada, nós tínhamos uma relação tão forte que ela me contou algo particular.

Sua primeira vez.

Ela me contou chorando.

Foi o momento mais emocionante da minha vida.

Eu chorei junto com minha amiga.

Depois do que ela me contou, senti um pouco de nojo de homem, mas depois coloquei na minha cabeça que nem todo homem é igual. Não posso generalizar.

Sim, ela havia sido estuprada. Mas não foi num beco, ou bêbada numa festa.

Foi em casa pelo próprio pai.

Ela já tinha 17 anos quando me contou esse fato que havia acontecido quando tinha 10 anos.

E ela lembrava cada detalhe daqueles dias.

Ela sentia curiosidade como qualquer criança, mas sentia que aquilo era errado, e depois veio as ameaças para não contar para sua mãe. Até que um dia simplesmente ele parou.

Aquilo deve ter durado algumas semanas.

Mas a Raquel nunca esqueceu.

E depois de algum tempo ele saiu de casa para ficar com outra mulher. Ela também se sentiu traída e odiou o pai por isso. E decidiu nunca mais ve-lo, e guardou seu segredo até agora.

Fiquei tão revoltada que senti vontade de virar um vingador igual uma série que assistia na época. Dexter.

Matar lixos.

Mas o pai da Raquel já tinha pago pelos seus erros. Havia se separado da esposa e havia sofrido um acidente no caminhão que trabalhava. E vivia longe da filha há muito tempo. Quem sabe a Raquel tome coragem e leva o caso à polícia um dia.

Há poucos dias estávamos planejando morar juntas, pois ela começou a trabalhar num mercado perto de casa.

Mas primeiro eu precisava arrumar um emprego. Não queria depender dela.

Mas tínhamos receio de ser confundidas por lésbicas, coisa que nunca fomos. Pelo menos eu não.

Mas também faltava o mais importante. A permissão dos meus pais.

Apesar de já ter 18 anos, morar fora da casa dos pais é um caminho sem volta. Mas era um passo que precisava dar.

Lembrando tudo isso, percebi que o dia amanheceu e o Felipe entrou no quarto daquela casa desconhecida e disse.

-Lembrou de alguma coisa?

Eu respondi:

-Sim.

Minha cabeça não doía mais.

Tayna King
Enviado por Tayna King em 05/03/2019
Código do texto: T6590314
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