.SUBVERSIVO.

Ouço muitas lendas relacionadas a horários desgraçados, que por sua vez, abrem portais para outros mundos e até mesmo para o inferno, um desses horários é às três da manhã, justamente no horário em que, geralmente levando para tomar meu remédio, em dezenove anos de minha vida, nunca tinha me ocorrido um só fato sobrenatural ou de dar calafrios, por este motivo, nunca temi nada que não entendi, apenas ignoro o fato, até que, após tomar o remédio, fecho a torneira e após guardar o copo, de maneira repentina a torneira se abre, eu, cético ou medroso, logo arrumo uma desculpa esfarrapada, provavelmente a deixei meio aberta e por este motivo a pressão do encanamento a fez abrir novamente, e após fecha-la novamente, sigo-me diante e ao adentrar no corredor, que leva até a escada e a outros cômodos velhos, sinto o ar pesado, mas ainda assim, era como se correntes de ar passassem por mim, mesmo estando tudo fechado, caminho em meio ao escuro apenas com receio de tropeçar em algo, a porta do quarto de meus pais se abre, e logo me preparo para dar boa noite, mesmo não vendo nada, sinto alguém saindo do quarto e passando por mim não em meu lado, mas sim, literalmente por dentro de mim, como se me atravessasse e ao fazer, senti, não apenas toda a alegria, mas também toda a vontade de viver se esvaindo, era como se a esperança e minhas virtudes fossem migalhas perto dos sentimentos obscuros e sombrios e obscuros que passaram por mim, o que mais se destacava era o ódio, mas também senti rancor e sede de vingança, não entendi bem o que se passou, mas mesmo sendo apenas segundos, era como se eu vivesse a minha vida inteira com aqueles sentimentos.

Ao chegar à frente do meu quarto, simplesmente não me recordo de ter entrado e deitado para dormir, era quase como se eu tivesse desmaiado e acordado em minha cama, ao abrir os olhos, me sinto diferente, encarando o teto e se perguntando, se ele era realmente branco ou era azul escuro, eu particularmente não me lembro por ter sido a vida toda observador, deparo que a objetos ocupando lugares de outros, mas o que realmente me intrigava era que eu nunca tinha visto estes objetos antes, e eu não sei exatamente por quanto tempo dormi, mas pelo que me lembro bem, nunca tive um ventilador de teto ou um baú aos pés de minha cama, que por sinal agora é uma cama de solteiro, mas ainda sim com o mesmo conforto, me sento na cama e olho ao redor, era como se tudo estivesse diferente, mas ainda sim, eu conhecia tudo aquilo, BAM BAM BAM, alguém bate à porta, de maneira que quase a derruba, BAM BAM BAM, sem entender oque se passa, levanto-me e sigo em direção à porta, BAM BAM BAM, mas que coisa, o que está acontecendo, BAM BAM BAM, BAM BAM BAM, está cada vez mais alto e forte, não entendo o porquê da porta não ter caído ainda, BAM BAM BAM, BAM BAM BAM, BAM BAM BAM, finalmente chego em frente à porta e ao encostar na maçaneta côncava e gelada, de repente ao tentar abrir vagarosamente a porta, que por sinal aparenta estar emperrada, sinto algo a segurando, não entendo o porquê, mas continuo a puxa-la, e então ela se abre de maneira repentina me empurrando para trás, ao cair não consigo ver o que a lá fora apenas o teto, e ao voltar minha atenção para a porta ela se fecha antes de eu matar minha curiosidade, me sinto extremamente cansado e acabo por desmaiar, acordo em pé na frente de minha porta com meu pensamentos se perguntando o que tinha ocorrido e se aquilo foi real, bom, eu acredito que sim, já que ao lembrar das batidas na porta eu acabo com o coração acelerado e com tremores pelo corpo, sem contar na minha cabeça que doí, ao encostar na minha porta para abrir, ouço alguém dentro do meu quarto, e ao ouvir cochichos tento abrir a porta rapidamente, mas parece estar trancada então bato na porta, acreditando que é uma possível brincadeira de mau gosto de um dos meus pais, bato de novo e de novo, cada vez mais forte, cada vez mais rápido, então vejo o trinco se mexendo e ao olhar me lembro da porta do quarto dos meus pais se abrindo, mas se me lembro bem eles foram viajar e por esta e pelas próximas cinco noites a casa é minha, e ao reconhecer que algo sobre natural pode estar acontecendo comigo, fico perplexo e seguro a porta, algo está puxando e não desiste a puxando cada vez mais forte, então a solto para que com o impacto a porta se abra rapidamente, mas a única coisa que vejo dentro de meu quarto é um breu, uma escuridão, era quase como se eu pudesse pega-la e então fecho a porta com temor, abro a novamente, mas desta vez vagarosamente, e vejo tudo como se não houvesse, deito em minha cama e ao olhar no relógio digital em meu pulso, 30:h05 não é possível, tudo isso aconteceu em menos de dez minutos, esse remédio deve tá me deixando maluco só pode, 03:55 e eu ainda não consegui dormir, olho ao redor de minha cama, e vejo tudo tão escuro quando antes, há algo no canto de meu quarto que me atraí a atenção, onde a parede de frente e a do lado se encontram, bem no centro, aparenta estar tremendo, “Ora essa, como é possível”, meus olhos se cansam e doem ao olhar aquela imagem sinistra, então ao esfregar os olhos e abri-los, era como se as paredes passassem por dentro uma da outra, fazendo duas linhas se cruzarem e deixando um enorme espaço entre aberto, como se isso tivesse lógica, mas é ai que tá, não tem lógica nem explicação, vejo uma figura negra saindo por entre as linhas, ele me aparenta ser borrado ou algo do tipo, era como se ele ficasse vibrando, mas de uma maneira muito intensa, uma criatura encorpada e alta, sem rosto nem feição, sem conseguir para de encara-lo, levanto e o sigo, entrando naquele lugar onde o espaço tempo provavelmente não existe, onde os anos são eternos e o sofrimento é árduo, e tudo isso, por que provavelmente eu sempre desacreditei que seria julgado por todos os meus pecados, mas aqui estou eu, encarando uma chama extensa e extrema, onde muitos queimam sem saber o porquê e onde a única coisa que ouço além dos gritos e pedidos de misericórdia são o ranger de seus dentes, e então por curiosidade, olho o relógio, 02:59, olho para frente sem entender nada e sinto uma mão me encostando no intuito de me empurrar para o fogo, ela queima minhas costas e então eu caio, sinto o ar quente e o cheiro do enxofre, a única coisa que consigo pensar é como tudo isso foi acontecer e o que irá acontecer a partir de agora, ao chegar bem perto do fogo, eu simplesmente acordo com meu relógio despertando, 03:00, abro os olhos e olho ao redor, era como se tudo aquilo fosse um sonho, mas ainda assim era como se fosse real, me levanto desconfiado para tomar o remédio e não sei como nem por que, minhas costas ardem.