O Esquartejador (Décimo primeiro Capítulo)

Não quero me recordar onde eu desovei o corpo da Rose e muito menos o que eu fiz antes com ele. Depois que esse pesadelo acabar irei atrás de tratamento, um psiquiatra talvez seja a melhor escolha. Descobrir quem é o filho da puta que mata e coloca os corpos em meu caminho era a meta do momento. Há se eu pegar o desgraçado. O faria em picadinho, cortaria cada pedacinho dele igual os açougueiros fazem com os bifes no açougue.

Estava transpirando, ansioso, preocupado. No escritório todos estavam preocupados pelo atraso da Rose que era sempre uma das primeiras a chegar e a iniciar seus trabalhos. Além de pontual era bastante prestativa e atenciosa com todos. Quando comecei na empresa, a Rose me ensinou muita coisa importante e isso tem me ajudado até hoje. Pobre mulher. Assassinada de forma cruel por um louco, e esquartejada por outro, pior ainda. Tirar a vida de alguém é algo muito ruim, mas destrinchar o corpo é muito pior Mas por via das dúvidas o melhor era permanecer em silêncio.

Estava decidido. Sairia na caça do verdadeiro assassino e acabaria com ele, mas para isso teria que pedir afastamento das minhas funções. Levantei-me da cadeira e fui caminhando até a sala do doutor Bernardo. Girei a maçaneta e a porta se abriu com um estalo, com certeza era falta de óleo, pois o barulho se parecia muito com caixões se abrindo naqueles filmes de terror com vampiros.

- Posso falar um minuto com o senhor?

Sentado em sua poltrona giratória, Bernardo levantou a cabeça o suficiente para notar a minha presença em sua sala.

- Se for pra pedir aumento, esqueça.

A sala era grande e lotada de quadros. Diplomas, fotos de família, viagens, certificados de bons serviços. O chão era todo acarpetado e as paredes pintadas na cor creme. Os móveis eram escuros e muito bem cuidados. Todos os dias, a dona Marli limpava cada canto daquele lugar como se ali fosse à casa de um santo.

- Não senhor. Gostaria de me afastar da empresa por um tempo. – Disse.

Os olhos do velho brilharam de surpresa e de espanto:

- Qual o motivo? Posso saber?

Pensei em várias desculpas durante meu breve trajeto entre a minha mesa e a fortaleza que era sala do grande chefão, mas na hora inventei outra, provavelmente a mais convincente.

- Minha mãe está muito doente, pode morrer a qualquer momento.

- Sinto muito. – Ele falou. – O que ela tem, posso saber?

Ele não poderia saber, pois ela não tinha nada e gozava de boa saúde. Oxalá eu tivesse a sorte da dona Antônia. Nunca ficou doente na vida, a não ser uma pneumonia forte na infância, mas depois dessa nunca teve mais nada. Aos sessenta e cinco de idade ela toma vitaminas, e faz caminhada todos os dias. Já eu, vivo o meu sedentarismo diário, prestes a ter um ataque do coração a qualquer momento.

- Câncer, ela tem câncer, senhor.

- Meu Deus.

Lágrimas mentirosas começaram a brotar dos meus olhos. E como um ator experiente, iniciei uma das maiores encenações da minha breve carreira. Falei de todo o sofrimento dela, das dores, das trocas de hospitais, da cirurgia que por pouco deu errado e até clamei a Deus pedindo uma intervenção divina. A minha interpretação era perfeita, e isso convenceu o doutor Bernardo a me liberar pelo tempo que eu precisasse. Na saída do escritório ele me deu um abraço, me desejou força e pronto restabelecimento a minha pobre mãezinha.

Peguei minhas coisas e fui embora. Precisa chegar a casa, sentar e pensar em uma forma de pegar o desgraçado. Ninguém, nem mesmo o Ruan meu melhor amigo saberia disso, seria um segredo só meu.

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 20/03/2019
Código do texto: T6602590
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