A Casa Assombrada

Em um pequeno vilarejo no interior do nordeste, havia chegado um casal de novos moradores. Era um casal jovem, tinham apenas uma filha de sete anos de idade. Eram ciganos, e as pessoas não gostaram nada da presença deles ali. Existia na cidade um boato que ciganos, além de roubarem, trazia má sorte e azar para o lugar. Logo no segundo dia começaram as discriminações. Por onde iam, eram olhados com desconfiança, sempre tinha alguém a espreita-los.

Sentiram que as coisas não ficariam bem para eles. 

Não estavam conseguindo comprar o básico. Sentiam-se perseguidos sem saber exatamente porquê. Ninguém queria vender nem ter contato com eles. Onde chegavam todos saiam. Apenas Suzy, a garotinha, ainda não estava sendo rejeitada. Não tendo outra opção, começaram a coloca-la para efetuar as compras. Isso funcionou, por pouco tempo. 

Numa manhã Vanda foi à escola efetuar a matrícula de Suzy. 

Assim que entrou no pátio da escola as pessoas a olharam, e se afastaram, cochichando umas com as outras. Sentiu uma sensação horrível, mas prosseguiu. 

Entrou na fila dentro da secretaria. Imediatamente um homem se aproximou e pediu para que ela saísse dali, dizendo que não era bem-vinda ali.

Vanda quis saber porque, mas ele irritou-se dizendo, sou o diretor e se não sair, chamarei o segurança para retira-la à força.

  Ela justificou... quero apenas matricular minha filha, ela precisa estudar... Por favor!

Nada convenceu aquele homem. Então ela abaixou a cabeça e foi embora. 

Chegou em casa aos prantos, e contou o ocorrido ao marido. Raul ficou indignado foi a delegacia denunciar. 

O delegado mandou que retornassem a escola após dois dias, para tentar matricular a garota novamente. E assim ele fez... Ficou assustado, quando chegou na escola ninguém demonstrou nenhuma hostilidade, ele matriculou a filha sem problemas. Voltou para casa feliz, Suzy ficou saltitante de alegria, afinal daí dois dias começariam as aulas. No dia seguinte foram comprar os materiais escolares, e tudo transcorreu normalmente. Não havia ninguém, na única papelaria do lugar. No primeiro dia de aula, Vanda preparou a filha, e acompanhou-a até a escola, era bem próxima e chegaram em poucos minutos. 

Vanda não percebeu nada de anormal, deixou a filha e retornou. Quando chegou em casa seu marido estava com visita, tinha uma viatura estacionada na calçada, literalmente não parecia nem um pouco tranquilo. Um moço alto e de bigodes falava com tom ameaçador... Vanda adentrou e sondou a conversa. Ele exigia que abandonassem a cidade, dizendo que lá não seria lugar apropriado para criar Suzy. 

Raul perguntou porque estavam sendo tratados com tanta hostilidade, o homem disse, então você não sabe? ... Raul balançou a cabeça negativamente, ele então começou a explicar... Alguns anos atrás havia passado por lá duas famílias de ciganos. Eles roubaram muito no vilarejo. E a última família fez bem pior , mataram um menino de quatro anos para sacrifício religioso. O garotinho era filho de um sitiante da região, e foi encontrado em uma esquina do vilarejo morto, sem os olhos, e na boquinha tinha um sapo vivo, com as patinhas amarradas. O menino tinha sofrido muito, pois fizeram um corte no formato de uma cruz em seu peito, que ia até o final da barriga. No abdômen da criança foram colocados muitos escorpiões... Em depoimento, os criminosos confessaram que muitas das atrocidades foram praticadas com o garotinho ainda vivo. Foi um ritual macabro, impossível de ser esquecido. Por este motivo, ciganos jamais seriam bem vindos naquele lugar. Raul ficou surpreso e muito comovido, disse que jamais fariam algo horrível ou semelhante,disse que poderiam ficar tranquilos. Mas aquele homem era o delegado, e não quis saber de flexibilizar, exigiu que fossem embora. Raul explicou que não tinham para onde ir. 

Então o delegado disse que não podiam ficar lá, porque corriam risco de morte, a população estava toda se mobilizada para os expulsarem à pauladas e pedradas. Raul ficou arrasado e pediu ajuda, então o delegado informou de uma casa velha abandonada a dez quilômetros da cidade, disse que à anos ninguém ia lá. Ficariam seguros. O próprio delegado foi buscar Suzy na escola, enquanto o casal terminavam de ajeitar tudo para a retirada brusca. O delegado voltou com suzi, ela chorava muito, estava toda machucada, sua boca e o nariz sangravam. Vanda correu para saber o que tinha acontecido, mas o delegado disse, vamos! Estava apavorado... Peguem tudo e coloque na viatura, rápido... Rápido, antes que seja tarde. 

Sem saber o que estava acontecendo obedeceram, e o delegado saiu em disparada na viatura. 

Raul e Vanda estavam assustados,  Suzy chorava e seu olhinho direito, já estava roxo e quase fechado, o edema causado pelo espancamento era grave. Ela reclamava de dores internas. Vanda perguntou como fariam para leva-la a um médico... 

O delegado os levou a cidade mais próxima. Chegando lá suzy foi atendida no pronto-socorro, antes de fazerem qualquer exame mais detalhado, já constataram duas fraturas na perna, e uma na clavícula. A gravidade exigia um bom ortopedista, e não existia este profissional na cidade. O delegado já estava muito envolvido, não poderia deixar aquela garotinha naquele estado lastimável. Seguiram para a capital. Suzy foi atendida e foi engessada imediatamente, o sofrimento da garotinha era visível. Seus pais estavam desolados. O delegado pensou em retornar à cidade, mas temia ser morto por ter ajudado a família sair antes de serem alcançados, Mas aquele delegado era um bom homem, e não concordava em julgar aquela família por um passado criminoso que não participaram. Resolveu dormir na capital, talvez até levaria a família e seus pertences para a casa abandonada. Ainda não sabia se devia avisar sobre os comentários que rondavam aquela casa, poderiam ficar temerosos. No momento era a única chance de sobreviverem a fúria da população. Foi para uma pensão, e adormeceu. Acordou cedo e foi direto para o hospital. Encontrou Raul ainda adormecido no sofá da recepção. Chamou atenção dele, que acordou assustado. Sim senhor delegado... O delegado perguntou qual o estado de Suzy, e Raul falou da possibilidade de ter alta hospitalar ainda de manhã. 

O delegado confessou o receio de ser morto quando chegar na cidade, pois a população sedenta de sangue sabia do envolvimento dele, na fuga daquela família.

A volta foi silenciosa... viajavam a duas horas quando o delegado deixou a BR e entrou em uma estradinha vicinal. Era muito deserta estreita e cheia de pedras, mal passava a viatura. Desceram o morro até chegar em uma casa escondida entre pedras o mato a cobria quase completamente, pouco se via dela. 

O delegado parou e disse, chegamos, este é o novo lar de vocês, fiquem à vontade, é de graça, e posso garantir que aqui jamais alguém vai encontra -los, quando for para casa no final da semana trarei os suprimentos necessários. A casa era assustadora, abandonada a anos, e não cheirava bem. Tinha cheiro de morte ali. Raul empurrou a porta e saiu uma revoada de morcegos enormes, o cheiro de urina dos animais inundou todo o espaço, foi horrível. Suzy começou a chorar de medo. Vanda explicou que não precisava ter medo, aqueles animais só estavam lá porquê não havia moradores, certamente não voltariam mais garantiu. Tiraram as coisas da viatura e o delegado seguiu sua viagem, levando uma encomenda das coisas básicas para seu retorno. 

Raul começou uma faxina ao redor da casa, em alguns momentos sentia um arrepio estranho. Parava, olhava, voltava a 

trabalhar... não estava tranquilo como deveria. Vanda começou a organizar às coisas, e Suzy observava tudo sentada na poltrona rosa que sua mãe forrou para ela. De repente Suzy deu um grito e disse, cuidado mamãe! Vanda virou rápido mas não viu nada, perguntou, o quê é isso filha? Susy estava pálida gritando... ele ia te matar, você não viu o tamanho da faca? Não filha, ele quem? A menina mostrava na sua direção, mas ela não via nada, foi até ela e abraçou-a dizendo, meu amor você deve estar febril...Está vendo coisas. Susy deu um empurrão em Vanda , jogando-a longe, uma força descomunal havia tomado conta daquela menina. Vanda beteu fortemente na parede e desmaiou, não soube quanto tempo ficou desacordada. Acordou com Susy travando uma luta terrível com algo invisível e desconhecido. A menina era jogada contra a parede, contra o teto, e no piso como se fosse uma boneca. Ao mesmo tempo ela o acertava, ele fazia barulhos assombradores. Vanda saiu correndo para pedir socorro a Raul, mas não o encontrou. Seu facão estava jogado no chão junto aos galhos cortados. 

Vanda pegou o facão e voltou para defender a filha, a luta continuava, ela percebeu que algo de outro mundo estava acontecendo ali. Sua filha tinha mais força do que qualquer homem, e quando atingia o invisível ele urrava, seus urros eram ouvidos ao longe. Não sabia o que fazer, começou a rezar. Em pouco tempo sua filha caiu no chão desacordada... Ela correu ao seu encontro, o gesso estava todo sujo de sangue. Raul apareceu sentado próximo da mesa, também todo sujo de sangue e cansado. 

Vanda não sabia o que pensar... Não queria acreditar naquelas coisas, mas aquilo foi muito assustador. Perguntou onde ele estava, e Raul disse que estava tentando defender a filha de um cachorro muito esquisito e valente. A menina acordou chorando dizendo que estava doendo muito o machucado. Parecia não lembrar-se de nada. 

Vanda não sabia se contava o que tinha presenciado ou se esperava outra oportunidade. Dias depois o delegado voltou a casa com os suprimentos para entregar a família. 

Bateu palmas, já que não avistava ninguém. Não apareceu nenhum dos três integrantes da família, resolveu entrar e deixar tudo em cima da mesa.

Vanda saiu correndo para pedir socorro a Raul, mas não o encontrou. Seu facão estava jogado no chão junto aos galhos cortados. 

Vanda pegou o facão e voltou para defender a filha, a luta continuava, ela percebeu que algo de outro mundo estava acontecendo ali. Sua filha tinha mais força do que qualquer homem, e quando atingia o invisível ele urrava, seus urros eram ouvidos de longe. Não sabia o que fazer, começou a rezar. Em pouco tempo sua filha caiu no chão desacordad... Ela correu ao seu encontro o gesso estava todo sujo de sangue. Raul apareceu sentado próximo da mesa, também todo sujo de sangue e cansado. 

Vanda não sabia o que pensar... Não queria acreditar naquelas coisas, mas aquilo foi muito assustador. Perguntou onde ele estava, e Raul disse que estava tentando defender a filha de um cachorro muito esquisito e valente. A menina acordou chorando dizendo que estava doendo muito o machucado. Parecia não lembrar-se de nada. 

Vanda não sabia se contava o que tinha presenciado ou se esperava outra oportunidade. Dias depois o delegado voltou a casa com os suprimentos para entregar a família. 

Bateu palmas, já que não avistava ninguém. Não apareceu nenhum dos três integrantes da família, resolveu entrar e deixar tudo em cima da mesa. Estava terminando de deixar as coisas quando uma cobra imensa preta de olhos vermelhos caiu em cima da mesa. Uma parte muito grande estava esticada no chão, ela encarou o delegado nos olhos, ele ficou apavorado estático, sem mover um músculo. Ela ficou quieta, não parecia ameaça-lo. Experimentou afastar-se bem devagar quando estava em uma distância segura pensou em sair correndo mas um macaco com dentes afiados o ameaçou com um pau, logo atrás dele estava um animal muito estranho, não era macaco nem cachorro, tinha presas muito grande e pontiagudas, suas unhas eram navalhas curvadas prontas a cortar qualquer coisa, mas também não ameaçava-o, chegou perto daquele macaco feroz e falou algo incompreensível, o macaco saiu e foi para fora. O Delegado começa a entender... Percebeu que jamais lhe fariam mal.

Saiu de dentro da casa e encontro Raul com aparência cansada, ele foi encontra-lo sorrindo dizendo, delegado que bom que veio, já estava atrasado, estamos com pouca comida. Entre... vou pedir Vanda para fazer um café. O delegado ficou indeciso, e Raul insistiu, ele o acompanhou, quando entraram Vanda estava já próxima do fogão, dando início ao café. Na poltrona rosa estava Susy, sua perna ainda engessada estava cheia de pelos escuros como daquele animal estranho , seus dentes estavam quase voltando ao normal, parece que aquela família não tinha conhecimento do que acontecia ali, não sabiam que sofriam aquela transformação... O café ficou pronto e o delegado tomou. Entregou as compras, recebeu e foi embora com a promessa de voltar na semana seguinte. Vinte anos se passaram, o delegado hoje tem 59 anos, continua a cuidar daquela família em segredo, eles continuam naquela casa. A cobra está assustadoramente grande, o macaco já está velho e anda um pouco debilitado, aquela animal estranho agora tem dois filhos já grandes. Todos vivem ali em paz, longe daqueles que queriam, extermina-los sem nenhum motivo. Vez em quando dizem na cidade que alguma pessoa desapareceu, sem deixar nenhum rastro. O delegado sabe muito bem o que acontece ali. Tem consciência,que a vingança é um prato que se come frio. Este segredo ele jamais revelará, e os crimes nunca serão desvendados.

Fim.

Pérola Guimarães
Enviado por Pérola Guimarães em 27/04/2019
Reeditado em 28/04/2019
Código do texto: T6633529
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