A Companhia

[Continuação de "O Sindicato do Crime"]

Giacomo Balistreri, o Sr. J., tinha como residência registrada uma casa de dois pavimentos em Astoria, no Queens. Obviamente, ele não retornara para lá depois do fracasso do seu plano original envolvendo a bela Srta. H., mas eu imaginei que para descobrir seu paradeiro atual, era o melhor lugar para começar a procurar. Na manhã seguinte à minha reunião com a cúpula da Família Cannizzaro no clube Copacabana, coloquei um uniforme da companhia de gás, e carregando meus instrumentos de trabalho numa inocente caixa de ferramentas, dirigi-me ao local. Antes, eu tomara o cuidado de telefonar para o número de J., ver se alguém atendia, e aparentemente o local estava deserto; a impressão foi reforçada quando cheguei lá e deparei-me com as janelas fechadas e cortinas corridas, jornais de alguns dias atirados diante da porta da frente. Abri o cadeado do portão com uma chave-mestra, e depois me dirigi aos fundos da casa. Colei o ouvido contra a porta da cozinha e escutei cuidadosamente, antes de enfiar uma gazua na fechadura. Instantes depois, a porta abriu-se com um clique.

A cozinha estava bem iluminada e limpa, apesar das cortinas cerradas. J., muito provavelmente, não aparecia por ali há dias. Abri a geladeira e vi ovos, uma garrafa de leite pela metade e manteiga, além de algumas verduras; dieta estranha para um gângster. Dirigi-me então para a sala, e apanhei a agenda ao lado do telefone. Eu não esperava nada tão óbvio quanto um número identificado como "Sindicato" ou coisa semelhante, até porque a localização física do mesmo ficava além de Nova Iorque - ou Jérsei, a propósito. Mas eles teriam que ter algum ponto de encontro na cidade, que servisse como base de operações.

Uma das entradas da agenda, na letra "C", havia sido marcada apenas como "Companhia". Como estava com o telefone de J. à minha disposição, sentei-me na poltrona em frente ao aparelho e liguei para Informações.

- Informações, em que posso ajudar? - Indagou uma simpática voz de contralto.

- Informações, preciso que me confirme o endereço de um telefone...

Li o número e aguardei que a telefonista pesquisasse em seu catálogo.

- Queira anotar, por favor - disse ela em seguida.

Eu já estava com lápis e bloco de anotações na mão, e tomei nota do endereço. Era perto dali, nas vizinhanças do cemitério de St. Michael. Um local estranho para sediar uma companhia... embora eu não soubesse ainda com que tipo de negócios lidavam.

Após desligar, subi para o andar superior e dei uma olhada nos dois quartos. No principal, de frente para a rua, e onde J. devia dormir, estavam faltando roupas no armário e nas gavetas, bem como havia um retângulo descolorido no chão, indicando o local onde muito provavelmente, estivera uma mala. J., devia estar agora bem longe da cidade, e era pouco provável que voltasse antes de cumprir a missão que lhe fora confiada.

Na última gaveta da cômoda ao lado cama, encontrei algo que reforçou minhas suspeitas sobre o número na agenda: uma pequena cartela vermelha de fósforos, intacta, do tipo oferecido por restaurantes e hotéis como brinde. Nela, gravado em ouro, um hexagrama inscrito num círculo, sob o título "SIGILUM SANCTUM". Abaixo do círculo, o número do telefone da Companhia.

[Continua]

[28-05-2019]