Encontro Inadiável

Naquele Domingo à noite, Altamiro, destemido e implacável matador de aluguel, desmaiou após sofrer um grave acidente com seu automóvel. Homem acostumado a lidar com a morte, porém descontrolou-se nesse momento, pois sem saber se sonhava ou não, ao voltar a si, experimentou uma desagradável experiência. A verdade é que de repente via-se diante dele mesmo no meio de todas aquelas pessoas que tentavam ajudá-lo e conferiam se ele ainda estava vivo após ter sofrido tal acidente.
Ainda atordoado pensou: “o que é que eu estou fazendo ali?”
E muito apavorado perguntou:
- Quem é você? O que faz aí?
- Não conhece mais a morte? Estou fazendo o que sempre fiz; agora o esperando, podemos ir? – Respondeu sorrindo.
Altamiro não acreditava no que via e ouvia, mas logo entendeu o que estava acontecendo e numa derradeira tentativa de escapar da morte, com muito custo respondeu:
- Assim que eu terminar uns compromissos que tenho para realizar. Espere um pouco mais que eu já volto.
Morrendo de medo e mesmo com muita dificuldade, pois estava bem machucado Altamiro saiu do local do acidente sem esperar o socorro médico e procurou um velho amigo seu.
Ainda estava descontrolado quando o encontrou.
- Augusto! – Balbuciou assim que viu seu amigo.
- O que está havendo?
- Descobri algo do qual desconhecia.
- Do que você está falando? Está pálido e muito machucado homem, você precisa ir ao hospital.
- Não dá para lhe explicar agora e nem ir para o posto médico. Eu preciso que você me ajude o mais rápido possível, pode fazer isso?
- Eu nunca lhe vi desse jeito tão apavorado! Posso saber pelo menos o que está acontecendo?
- Já disse que não posso explicar. Dá para me ajudar? – Insistiu com o amigo.
- Está bem, diga lá o que você quer.
- Preciso que você me esconda por uns dias num lugar em que nem mesmo eu o conheça. Pode fazer isso?
- Estou pensando neste local, mas porque tudo isso?
- Depois te explico tudo com calma, mas preciso que você faça isso agora, imediatamente.
Pedido estranho e difícil de atender. – Pensou Augusto.
Para onde o levaria? Qual seria o lugar que ele não conhecia? A mente de Augusto fervilhava em busca de tal local. Foi quando lembrou que seu amigo nunca tinha visitado-o no seu trabalho e sem saber o porquê daquele pedido, Augusto vendou-lhe os olhos e resolveu que o levaria para lá, pois esse era o único lugar que ele não conhecia. Porém antes perguntou.
- Altamiro. Você tem certeza de que não quer ir a um hospital? Perdeste muito sangue.
- Tenho. Nada de hospital. Terei tempo depois para isso.
Diante da negativa do amigo, Augusto não teve mais dúvida e o levou para onde trabalhava.
- Aqui com toda certeza você não conhece e vai estar seguro. – Garantiu ao amigo.
- Que lugar é esse? – Quis saber Altamiro.
- Você não disse que tinha que ser um local que não conhecesse?
- Disse. Mas que lugar é esse afinal?
- Se quer realmente saber tire a venda e descubra você mesmo.
- Nossa! É uma Santa? Onde estou?
- Vá até a entrada e olhe lá fora. Descubra você mesmo.
Ainda dentro da pequena gruta Altamiro avistou lá fora os vários túmulos do cemitério e não acreditou no que via. Era demais para os seus nervos. Apavorado por saber onde estava, Altamiro não resistiu e caiu fulminado.
Nesse exato momento Augusto, que também olhava para a porta da gruta, viu quando o corpo do amigo caia pesadamente ao solo. Constatou que ele morrera, mas no mesmo instante também avistava lá na entrada, a imagem do seu amigo Altamiro sorrindo e vestido com o tradicional traje da morte. Fato que o deixou completamente apavorado e sem voz. Não conseguia entender tudo aquilo, mas ainda pode ouvir a voz do amigo soar ironicamente.
- Nós dois passamos a vida lidando com a morte. Então por que o motivo desse espanto?
Augusto tentava a todo custo falar, mas não conseguia nem balbuciar, porém continuava ouvindo a voz de Altamiro.
- Olha só que ironia. O meu melhor amigo não poderá me enterrar.
O pobre Augusto ainda não tinha entendido o que estava acontecendo.
- Perdeu a fala homem?
Com muito esforço Augusto conseguiu perguntar.
- Se morreste, o que você está fazendo ainda aí? E vestido dessa maneira?
Matar, sempre foi a sua maior diversão, e mais uma vez como estivesse se divertindo com aquela situação Altamiro respondeu.
- Estou aqui para levá-lo Augusto, afinal para que servem os amigos?
- Mas eu ainda estou vivo!
- Tem certeza?
Augusto, diante de tal revelação, não resistindo, faleceu.
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 20/10/2019
Código do texto: T6774438
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