O bicho papão
A chuva fazia barulhos na janela. Abriu os olhos e não enxergou nada.
Como poderia ter dormido tanto? Anoitecera? Sentou na cama e ouviu passos. Eram passos pesados, cansados e firmes.
Deitou novamente e se cobriu na esperança de aumentar a escuridão sobre si e camuflar-se com as cobertas. Os passos cada vez mais perto. O vento zunia e parecia carregar todas as latas de tinta que estavam no quintal.
A casa rangia e aqueles passos a faziam parecer mais frágil. Assim como ele. Quase não respirava. Não pelo silêncio, mas porque estava sufocando de calor. O suor pingava de seu cabelo bagunçado e os passos se tornaram uma mão que abriu a porta do quarto.
Viu uma lamparina curiosa clarear o mundo acima do cobertor. Arriscou respirar e ouviu:“Está com medo? Sou feio, mas não como um bicho papão. Faltou luz e vim trazer uma vela para o meu netinho”.
Emanuelle Querino
Enviado por Emanuelle Querino em 24/10/2007
Código do texto: T708657