...DEPOIS DO CONTRA-GOLPE !

... .DEPOIS DO CONTRA-GOLPE !

A cidadezinha ficara pequena para os dois ex-amigos de infância e o inventor, professor "y otras cositas más" Paracelsius Benigno Ferraz decidira "sumir do mapa", ao menos para ficar longe do parasita Marcélio "de tal", que nem pai certo tivera. O malandro desocupado vivia achacando o "famosinho" doutor Celsius, figura de conceito na sociedade local e que o desprezaria caso soubesse de alguns deslizes de seu Passado,coisas comuns que, "no frigir dos ovos", metamorfosearam-se em delitos graves.

"Célito" pedia-lhe empréstimos que não quitava, roupas e não as devolvia, utilizava-se do prestígio do professor, "filava bóia" na casa dele e. INCOMODAVA ! Como tudo na Vida tem limite -- exceto para presidentes da República -- e o de Celsius fôra ultrapassado "há séculos", o inventor "armou sua trouxa" e sumiu da noite pro dia. Nem sua adorada tia ficou sabendo para onde mudara. Deixou quitadas suas contas e prestações no lugarejo, informou aos Correios sobre a mudança, encerrou até a conta telefônica. Amanheceu certo dia na "Nova York" abaixo da linha do Equador, ou seja, findou em São Paulo. Recomeçou a vida quase "do zero", conseguiu emprego de gabarito com ótimo salário e prosperou, enricou, "encheu os bolsos", bamburrou. Ano e meio se passaram rápidos até que, em plena feira do bairro -- numa bela manhã de sábado -- "se esbarram" o inútil "Célito" e o bem-sucedido professor Ferraz.

Pensou em esconder seu local de moradia mas o instinto alertou-o que inimigos a gente mantém por perto, para não perder o controle da situação. (Perito em Eletrônica, instalara sistema que registrava quem o visitasse, enviando cópia da imagem para 1 notebook oculto num armário de seu quarto.)

Recomeçaram as chantagens... agora o cinetista tinha muito a perder ! Decidiu "dar um basta" na exploração. Foi numa praça com feira-livre atrás de "lunfas", "descuidistas", malandros "batedores de carteira". Achou 2 deles, pois não eram poucos na feira e naquela hora. Consultou-os... pediram "mixaria", até porque a missão era bem simples: "dar uma tunda", "uma sova", "quebrar no pau" o ex-amigo impertinente. Mostrou a êles foto do traste, em seu celular e informou-lhes onde encontrar a "peça". Pagou adiantado e, se não cumprissem o trato, perderia "uma miséria".

O sábado findou maravilhoso, já se via livre daquele "encôsto"! Raiou um domingo esplêndido, manhã de paraíso na cidade e um inacreditável sol na "terra da garoa". Como "tudo o que é bom dura pouco", por volta "da meia hora", 12,30 hs, tocaram a campainha da casinhola no bairro da italianada, o Brás ou o "Bixiga". Celsius conferiu as imagens do PC na sala e sorriu... com um braço enfaixado, metade do rosto com esparadrapos, olheiras azuladas e ar de choro, estava na porta o Marcélio. Contedo o riso, Ferraz fez cara de espanto:

-- "Célito", o que houve ?! Por acaso, foste atropelado" ?

-- "Deixa de ser cínico, miserável... sei que estás por trás disso, seu desgraçado" !

-- "Eeeuuu ?! De onde você tirou essa idéia ? E o que eu ganharia com isso" ?!

-- "Te conheço muito bem, Celsius, mas vai "ter troco" !

Saiu batendo a porta e xingando barbaridades. Pronto, lá se fôra o belo domingo, contudo Celsius sabia que Marcélio era incompetente para qualquer vingança de peso. Calculou mal... 2 dias depois, à noitinha, tornam a bater na porta, mal chegara do trabalho numa Universidade. Consultou a telinha do computador: um trio agora, a dupla de vagabundos e Marcélio. "MERDA", praguejou Ferraz e concluiu que estavam unidos contra êle. Era mau sinal... não tinha armas e uma faca contra 3 seria suicídio. Sabiam que estava em casa, se não abrisse a porta, a derrubariam.

-- "Ora, ora, que surpresa... 1 patife e dois "vermes" ! Vieram para o jantar ?! Quanto vocês estão recebendo ?! Este pilantra não tem onde cair morto" !

-- "Quem vai nos pagar É VOCÊ, "professoréco" ! O otário aqui disse que você tem "grana pra cacete" escondida por aí" !

O professor engasgou, tossiu descontrolado... confirmou com sua razão a verdade. Marcélio soubera do hábito antigo de Celsius, "dedurado" com certeza pela velha tia, que "dera com a língua nos dentes", expressão das mais ridículas. Na realidade, lá como cá, havia dinheiro a rodo pela casa inteira, os trastes levariam uma semana para localizar tudo.

-- "Bem, "doutor Riquinho", vai "abrindo o bico"... ou apanha" !

-- "Quebrem logo êle, 'tá me devendo essa" !

"Meteram a mão" no pobre professor... um "uppercut" no estômago o dobrou ao meio e uma tapona o jogou ao chão. Um chute "nos documentos" o fez "ver estrelas", embora o céu naquela noite prometesse chuva. O berro foi de assustar !

-- "Se gritar mais uma vez, MORRE... agora, passa logo a grana, a gente não veio fazer graça" !

Ali na mesinha de centro da saleta surgiram dos pés metálicos ocos uns 3 ou 4 maços de notas e do vaso sobre ela, rosqueado o fundo falso, mais dinheiro. Atrás de um quadro, entre a tela e o fundo de fórmica, outro tanto.

-- "É só o que tenho... sou professor, não sou bicheiro" !

-- "MENTIROSO... vamos voltar outro dia, esse grito pode ter alertado algum vizinho. Nos aguarde, professor Pardal" !

***** ***** *****

O professor "passou a noite em claro"... nem foi trabalhar, a situação exigia solução urgente e definitiva. "Escarafunchou" todos os locais onde ocultara algum centavo e dirigiu-se a "Cracolândia", perto de seu local de trabalho. Contactou um viciado... queria um "serviço" rápido, aliás 3, de uma só vez.

-- "QUINZE MIL, é o preço (disse o dependente), vou precisar de parceiro ! Paga 20% antes e o restante depois, debaixo do viaduto próximo da praça central do "Bixiga"... se não pagar, morre em seguida" !

Negócio fechado, os jornais da manhã seguinte noticiavam a estranha morte de 3 malandros chinfrins, encontrados juntos num banco da praça na noite anterior. Restava cumprir o combinado... o professor fez hora extra na Universidade particular, no setor de xerocópia. Saiu tarde, bem tarde... nem foi em casa ! Vestiu um casacão, chapéu de detetive, a maleta com a grana que faltava e, nas costas, um 32 bem seguro pelo cinto largo. Chegou antes dos viciados ao local combinado. Piscaram os faróis, êle acenou, aproximou-se do carro com a maleta na mão direita e o celular (no modo lanterna) na outra mão. Frente à janela do motorista, poz o celular na boca, iluminando a maleta. Abriu-a, exibindo a dinheirama... o motorista pegou-a com ambas as mãos, ainda aberta, encobrindo sua visão do professor, que puxou das costas o 32 e o disparou através da tampa da maleta.

Isso deu tempo para o comparsa reagir... 2 petardos vararam o peito de Ferraz. Nem sentiu ! Virou a lanterna para os olhos do bandido e liquidou-o ! Chegou em casa muito depois da meia-noite com a sensação de "dever cumprido", pois eram bandidos, assassinos, além de tudo. Tirou a roupa. a camisa furada foi cortada em pedacinhos e incinerada e a placa de metal acrescida de madeira rija -- que usara como escudo, no peito, sustentada por alças -- foi transformada num quadro bem artístico, lembrança indelével daquela noite. Voltou na manhã seguinte ao trabalho, mas optou por dormir num apart-hotel. O "sumiço" dos viciados poderia levar ao seu nome, alguns o viram conversando com um deles.

Nova manhã raiou na Avenida São João e nas demais regiões que fazem de São Paulo esse gigante. Nos jornais, a novidade: "BRIGA DE GANGS NO BIXIGA - após 3 mortes estranhas, outros dois foram fuzilados ontem de madrugada" e citava o fato de estar com êles maleta com 12 mil reais... notas de 20, 50 e 100 TODAS FALSAS, feitas de papel-ofício A4, numa Xerox qualquer.

-- "Ah, a Vida é bela, com bolinhas amarelas"... o professor decidiu mudar-se o mais breve possível da casinhola, talvez até saia de São Paulo !

"NATO" AZEVEDO (em 13-14 de junho 2022, 19hs)