Ele tinha que se livrar do corpo
Ele tinha que se livrar do corpo. Não poderia deixar que o pânico tomasse as decisões. Tentou acalmar-se, com a mão trêmula pegou a garrafa de água que estava sobre a bancada e bebeu um gole. Sentiu o pulsar do coração acelerado, respirou fundo para aliviar a tensão.
Olhou para o corpo estendido no chão. O golpe foi certeiro sem qualquer possibilidade de vida. Há momentos em que perdemos a razão e o sentido das coisas. Nessas horas surgem as vozes em discordância apontando o errado e nunca o certo. O silêncio da madrugada traz tantas lembranças.
Foi um invasor, não havia motivos para tanta preocupação, foi legítima defesa. Mas uma coisa não saía da sua mente: o que ele queria? Como pode uma criatura astuta invadir o espaço alheio?
Não há grades na janela, mas entrar por ela sorrateiramente não foi uma boa ideia.
O apartamento fica no segundo andar de um prédio de classe média com ruas bem cuidadas e arborizadas. Nas manhãs se ouve o canto dos pássaros e o som de carros e pessoas.
John teve experiências traumáticas na infância, mas agora ele tinha que se livrar do corpo. Vivendo uma vida discreta, chamar a atenção de vizinhos era o que ele menos queria. Sem amigos e nem parentes por perto, teria que se virar sozinho.
O seu medo intenso e irracional tinha que ser superado. Quem nunca sentiu desespero? Quem nunca sentiu trauma diante do inimigo aparecendo do nada?
Tentando superar o pânico foi até a cozinha, colocou as luvas de limpeza, com o corpo trêmulo e com muita dificuldade se desfez do corpo o jogando pela janela. Sem sono, ouviu o canto dos pássaros anunciando o amanhecer.
John sofria de Catzifobia.
"O pânico de baratas, chamado de catzifobia ( do grego katsífa, que significa barata) é uma forma comum de fobia específica. Mesmo pessoas que não tem outras fobias podem sentir um medo irracional ao ver uma barata viva ou morta."