A esposa da Morte
O senhor Carlos Santana era conhecido na pequena cidade de Bela Raposa do Sol — com seus nove mil habitantes — por levar uma vida materialista e ostentadora. Aos 66 anos de idade, acumulava uma fortuna de aproximadamente dois milhões de reais, fruto de seus anos como bancário e político. Durante três décadas de vida pública, atuou como vereador e depois prefeito, entre os 42 e 50 anos.
Ao longo da carreira, teve inúmeros casos extra conjugais. Traía abertamente a esposa, mãe de dois filhos e uma filha, com várias mulheres. Duas dessas amantes chegaram a ter um filho cada uma. Após a morte da esposa, quando ele tinha 59 anos, o velho patife passou a ser ainda mais descarado em suas conquistas.
Foi então que conheceu a jovem e deslumbrante Catarina Vasconcelos: 23 anos, loira, de olhos verdes, corpo esguio, coxas delineadas e seios fartos. Estudante de Direito e tabeliã no cartório da cidade, mantinha hábitos saudáveis e corria entre cinco e seis quilômetros várias vezes por semana.
Carlos, tomado pela luxúria, reacendeu sua vaidade e desejo. Após algumas semanas de conversas por celular e encontros discretos em sorveterias e restaurantes, os dois decidiram se casar. Sete meses depois, estavam oficialmente unidos. Mal sabia ele quem realmente era Catarina.
Desde a infância, Catarina nutria uma fascinação mórbida por Química e venenos. Lia compulsivamente romances policiais — seus favoritos eram os casos onde o assassino se escondia até o último capítulo. À medida que o casamento avançava, ela começou a preparar o jantar nos dias úteis, familiarizando-se com a rotina do velho.
Numa noite de domingo, a armadilha estava montada. Ela misturou um veneno líquido à taça de cristal e despejou vinho tinto. Carlos, como de costume, bebeu despreocupadamente. Ao terminar, levantou-se da poltrona para ir ao banheiro, mas caiu fulminado no chão da sala. Estava morto.
Com frieza, Catarina guardou a taça envenenada dentro de uma caixa escondida no quarto. A investigação foi superficial. O veneno era quase indetectável, e o histórico de dois ataques cardíacos facilitou o arquivamento do caso como "morte natural".
Dois anos depois, Catarina casou-se com Cassio Alencar, um jovem policial federal. O que os moradores da cidade ignoravam era que Cassio era o filho ilegítimo de Carlos com uma antiga empregada. O casamento, longe de ser um acaso, fazia parte de um plano frio e meticuloso de vingança — arquitetado por ambos.
Na noite de núpcias, no mesmo quarto que outrora pertencera ao velho Carlos, Catarina surgiu na porta vestindo uma lingerie rosa transparente. O casal se entregou a uma noite selvagem de prazer, enquanto a foto emoldurada de Carlos — fixada sobre o criado-mudo — parecia observa-los em silêncio, como uma sombra do passado.
Na escuridão do quarto, enquanto a respiração ofegante dava lugar ao silêncio, Cassio pensou, sem remorso:
“Eu me vinguei de ti, maldito bastardo.”