A garota sem alma
Era uma vez uma garota sem alma.
Tinha olhos — mas não choravam.
Contemplavam as mais belas paisagens,
e, ainda assim, nenhum brilho nascia em seu olhar.
Seus ouvidos colhiam sons do mundo,
mas nem os sussurros mais sombrios a assustavam —
ao contrário, encantavam-na.
Seus lábios?
Selados pela ausência de um coração.
Jamais diziam o que ela, talvez, nem soubesse sentir.
As mãos, tão delicadas, tocavam…
mas ansiavam por profundezas
e só encontravam o vazio da superfície.
E os pés?
Ah, seus pés dançavam…
dançavam sobre o sangue dos dias mortos.
E eu?
Sou a garota sem alma.
Não choro.
Não sorrio.
Não grito.
Não suplico.
Às vezes, danço sobre a minha própria cova —
como se a morte fosse o único lugar
onde ainda sou inteira.