Lua Azul. Conto IV "Cláudia"

Conto IV – Cláudia

Ilhina estava sentada dentro da sorveteria, numa mesa pequena para duas pessoas. A cadeira a sua frente estava vazia. Ela tinha seu óculos de sol como arquinho na cabeça. Olhava para o sorvete que começa a derreter a sua frente, mexia com um pauzinho verde de plástico de vez enquanto. Seu semblante era de sério, dando para perceber apenas fitando seus olhos castanhos. Já se passava das três da tarde, a nuvem cinza cobria aquele bairro, permitindo a ela ficar sem o óculos. Uma garoa fina e gelada começava a cair. Olhou para a entrada da sorveteria, como se esperasse alguém chegar. Mantendo sua atenção no sorvete, começou a lembrar de como gostava dele nos momentos de calor, de como tomava escondido do marido, de como dividia um tope a colherada com as amigas. Mas agora, ela não precisava mais dele, pois o mesmo não fazia parte de sua nova natureza. Ela não precisava comer, beber ou dormir. No começo incomodava, devido ao fato que o tempo de sua vida era integral.

- Demorei? – Disse uma voz ao seu lado.

Ilhina se virou para poder reconhecer aquela mulher a sua frente. Os olhos verdes, um sorriso branco e encantador, pele clara como neve, cabelos lisos num tom castanho escuro e claro, vestindo um sobretudo de poliéster cinza com gola, de botões brancos, indo até pouco acima do joelho. Tendo como complemento uma calça capre de algodão preta. Sobre o pescoço um cacheou curto preto, calçando uma sandália de salto.

- Até que em fim você chegou – respondeu improvisando um sorriso tímido.

- Desculpa miga, passei numa loja para comprar esse sobretudo, gosto?

A mulher a sua frente moveu o quadril para os lados com leveza, permitindo a Ilhina analisar melhor o modelito.

- Caiu bem em você.

- Eu sei – disse num de brincadeira. – ah sem estilo aqui é você.

- Ora, como pode? – retrucou tentando ficar seria.

- Confessa Josi, dês que te conheço não a vejo se produzindo para você mesma, e sim, por seus afazeres.

Ilhina teve que engolir as palavras, coisa que não foi fácil. A amiga estava completa de razão, pois ela não se sentia bem se produzindo para si mesmo. Faltava algo nela, que não sabia ao certo, impedindo de se valorizar como mulher. E as poucas vezes que se produzia, era para caçar vampiros ou criminosos. Abaixou a cabeça olhando para o sorvete, que já virava um poço no copinho de plástico. Sua amiga acabava de sentar a sua frente, não precisando ser um vampiro ou um sábio para saber que ela a olhava preocupada.

- Ei amiga – falou postando sua mão sobre a dela. – sabe que falo pro seu bem, não sabe?

- Sei sim, Cláudia. Estou bem.

- Que ótimo, porque hoje tem baladinha.

Ilhina não conseguiu manter o olhar triste, tinha que rir. Cláudia era uma mulher mais velha, solteira, bonita e sensual. Gostava de provocar os homens e não perdia uma balada. Poucas vezes conseguia arrastar, mas quando tinha sucesso a encontrava no canto fingindo tomar seu drinque.

Cláudia tomou suas mãos com as dela olhando nos olhos castanhos da amiga. Ilhina tentou desviar o olhar, mas liberou um sorriso a encarando. Cláudio explodiu em alegria enquanto sua amiga sorria agitando a cabeça.

- É assim que se fala.

- Não prometo nada! – Disse séria.

Cláudia sorriu ignorando a teimosia de Josi. Ajeitou seu corpo de curvas perfeitas observando ao redor.

- Nossa Josi, que lugar chatinho. Nem tem gato aqui.

- Eu gosto desse lugar.

- Que seja. Vou pedir uma bebida, vai querer?

- Pra quê?

- Pra que o quê?

- Pra que uma bebida?

- Para acompanhar seu sorvete derretido – disse sorridente.

Ilhina ignorou o sorvete na mesma hora. Observando sua amiga ir até o balcão. Em pouco instante ela voltava com dois refrigerantes. Colocou um a sua frente e abriu o seu fingindo tomar um gole.

- Descobriu quem fez aquilo com a Verônica? – Perguntou Cláudia.

- Ainda não, mas ela não foi a única.

- Sério? Você encontrou outros?

- Sim, são outras duas mulheres.

- Estranho. Só mulheres.

- Bastante.

- Onde elas estão?

- Ainda não sei bem. Mas vou precisar da sua ajuda.

- Quando você quiser.

- Ótimo.

Ilhina retribuiu o sorriso da amiga, mas não a felicidade dela no momento. Estava preocupada, em temer que as coisas piorassem ainda mais do que já estavam. Olhou pensativa para os quadros com fotos de sorvetes. Precisava resolver esse mistério, antes que o apartamento lotasse de vampiro-visitante.