Boneca de Trapo

Cada detalhe.

Cada gesto.

Cada olhar.

Me lembro de tudo.

Me lembro da louça suja na pia, e dos copos sujos de vinho, dos cinzeiros cheios de guimbas. Dos restos.

Me lembro dos cheiros. De todos.

Do jantar, do desinfetante do banheiro, do perfume do seu pescoço. O cheiro de suor e de batom.

E toda a dor volta com essas lembranças. Todo o ódio.

Ainda vejo o reflexo do seu corpo no espelho do quarto, despida com a luz acesa, sem pudor. Displicente. Sensual. Arrogante.

Ainda vejo o seu corpo de gata no cio, curvilíneo, respiração ofegante, língua inquieta, saliva quente. Umidade que evapora ao toque, temperada com sangue. O gosto ainda está nos meus dedos. Íntimo. Único.

Mais um conhaque, vinho me dá enjôo.

Só um estalo rápido. Um olhar perdido. Um grito congelado.

Agora, Boneca de Trapo, você vai para o armário, se juntar às outras.

Roberta Nunes

31/05/2005

Roberta Nunes
Enviado por Roberta Nunes em 31/05/2005
Código do texto: T21117
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