A escuridão

Em vão agucei o olhar na tentativa de atravessar a densa escuridão que me cercava. Apenas uma ilha de luz, estreita e circular, me protegia. Uma voz me chamou:

- Não me escutas? Vem por aqui antes que seja tarde!

- Não consigo! É muito escuro o caminho e apenas esta pequena luz me protege!

- Guia-te pela minha voz! É tudo que te resta!

Segurando o pranto, respondi:

- É muito difícil... A escuridão me confunde! Acaso não podeis falar mais alto?

A voz gargalhou:

- Infelizmente não será possível! Só eu te resto...

Meu peito se contraiu na agonia do pânico:

- Mas... se eu sair da luz esta treva me afogará e eu jamais encontrarei a saída!

- Silêncio! – disse a voz – Não escutas um som que se aproxima?

Por um instante eu nada escutei, até que um som indistinto fez-se ouvir:

- Sim! Sim! Um tambor se aproxima!

E realmente, esse terrível presságio estava vindo em minha direção; chegando-se em movimentos que descreviam uma espiral ao meu redor. Meus ouvidos, contudo, não distinguiam a sua origem, de modo que esse feroz predador poderia estar onde lhe aprouvesse.

- Não reconheces o que bate o tambor? – perguntou-me a voz.

Arregalei meus olhos, indefeso, subjugado pelo medo e pelo esmagamento de espírito:

-... A marcha fúnebre...

Ajoelhado, pranteei o meu pavor... e a escuridão me abraçou para sempre.

Henrique de Castro Silva Junior
Enviado por Henrique de Castro Silva Junior em 03/05/2010
Código do texto: T2234221
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