35°

(Carlos espero que você goste...)

Minhas reminiscências estão confusas agora, a minha idade, não me permite fazer mais grandes exigências ao me cérebro.Porém a lembrança daquela noite jamais se apagou de minha memória. Em janeiro mês caracterizado por chuvas e frio em minha região, a cidade toda se assombrou com aquela noite em que a temperatura passava dos 35°, quando em outros anos não passaria de 19°, efeito estufa? Acho que não....

Dezenas de pessoas desapareceram naquela noite, entre elas minha irmã Jan, mas como provar que ouve um desaparecimento em massa em uma cidade perdida no interior de uma província se isso aconteceu apenas por algumas horas? A estória cheira a lenda ou mesmo a folclore aqui na região, apenas as famílias que passaram por aquela experiência podem comprovar a veracidade dos fatos, mas todos preferem esquecer que aquilo aconteceu.

Na manhã seguinte a essa estranha noite minha irmã, tinha em sua nuca, uma estranha marca que desapareceu depois de exatos 21 dias, esses 21 dias foram de muita tristeza e dor em nossa família, minha irmã sempre tão comunicativa e alegre mal conversava com meus pais e comigo, murmurava pelos cantos coisas sem sentido, apresentava um olhar vidrado, uma apatia enorme e adquiriu ainda um fascínio inexplicável pela água, passava horas e horas no banho de rio mesmo com a temperatura que já mencionei acima, meus pais ficavam cada dia mais preocupados e não sabiam o que fazer.

Outras pessoas na cidade apresentavam mudança de comportamento similar e sem nenhuma explicação, algumas características variavam de acordo com a personalidade das pessoas, mas o fascínio pela água podia ser notado em todas elas pessoas. Médicos foram consultados em sigilo pelas famílias, porém nada foi descoberto.

Depois do período de 21 dias passados naquela noite as pessoas foram aos poucos voltando ao normal, o fim do inverno também contribuiu para que o clima na cidade melhorasse. E fomos todos tocando a vida, os anos se passaram e hoje fazem 50 anos que aquela noite abalou nossas vidas, acompanho atentamente o termômetro que temos em casa todos os anos nessa mesma data, me esforço para não pensar na onda de assassinatos que assolou a cidade vizinha naquela época, não quero fazer a conexão dos acontecimentos,evito o maximo possivel pensar nisso, a tarde está passando, minha irmã me parece um pouco inquieta hoje, acredito que essa inquietação seja natural por causa da data, eu mesma há muito tempo não me sinto tranqüila quando esse dia se aproxima, a temperatura passa dos 25° e eu espero ansiosamente que essa noite não dure muito.

Selva
Enviado por Selva em 25/10/2006
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T273594
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