Aqueles que chegam com a chuva

Naquela pequena comunidade, afastada de tudo, o prefeito Ruffus observa assustado sua filha, Diana, correr pelos campos verdes enquanto uma garoa cai sobre as solitárias ruas bucólicas, Diana era a única que continuava ao réu. A garota entra em sua casa sem olhar para trás, Ruffus tranca a porta e coloca um crucifixo entre as maçanetas. No lado de fora algumas crianças estavam sob a chuva observando a cidade deserta.

Aqueles que chegam com a chuva

A porta daquela casa abre-se depois de muito tempo, Eduard afasta-se esperando que o cheiro de casa fechada se espalhe pelo ar enquanto Joana, sua esposa, abria o porta-malas de seu carro retirando a mudança. O filho do casal, Jhon, corria pelo campo, Joana coloca as mãos na cintura observando seu marido de pé, na frente da casa nova.

- Que tal me ajudar um pouco aqui?

- O que?

- Tudo bem que a casa nova é fascinante, mas você pode carregar algumas caixas querido?

Eduard sorri e beija sua esposa enquanto carrega uma caixa para a casa nova. Ruffus aproxima-se do novo casal acompanhado de sua filha e dois colegas da câmara.

- Boas tarde, vocês devem ser os novos moradores, eu sou o prefeito de nossa bela cidade.

- Muito prazer - Joana limpa suas mão antes de cumprimenta-lo - querido venha aqui.

Eduard corre para cumprimentar Ruffus, enquanto Diana o olha de baixo para cima, de forma rápida, sem que Joana perceba. Eduard percebe o olhar lascivo de Diana. O filho do casal corre entre o prefeito e sua mãe.

- Seu filho? - Ruffus parecia perturbado, mas tenta disfarçar.

- Desculpe - Joana segura Jhon pelo braço e o abraça - ele está animado depois de ficar tanto tempo no carro.

- Não estamos acostumados com crianças por aqui.

- Mas, você tem filhos?

- Sim, apenas que as pessoas mais jovens de nossa cidade têm a sua idade.

Ruffus sorri enquanto os demais moradores surgem para auxiliar o casal na mudança, Eduard e Joana ficam sem graça, mas acaba cedendo. Ruffus observa o relógio preocupado com o horário, sabendo que costuma chover ao anoitecer.

Eduard subia as escadas para ir ao que seria seu novo quarto, ele encontra Diana sentada em sua cama, a garota sorri meigamente.

- Bem vindo a nossa cidade.

- Obrigado, você é uma espécie de autoridade pública?

- Sou a filha do prefeito - Diana descruza as pernas exibindo sua calcinha e levanta-se caminhando até Eduard olhando-o nos olhos - estão todos animados com sua mudança, as pessoas não estão acostumados com novos rostos, vai ser bom.

Eduard sorri um pouco desconcertado, porém excitado - muito prazer em conhece-la.

- Ainda não.

Diana desce as escadas cruzando com Joana, que percebe algo estranho com Diana, mas não sabe o que. Os demais moradores já tinham saído, Diana para na frente da porta e olha novamente para Eduard.

- Nesta época do ano costuma chover de tarde, evitem sair na chuva, só temos um médico na cidade e ele está caduco - Diana fecha a porta.

Naquela noite o casal jantava pela primeira vez em sua casa nova, a comida de micro-ondas tinha um gosto especial pela ansiedade, Jhon estava dormindo no sofá, Eduard o carrega para seu novo quarto e volta para o seu, onde Joana o esperava deitada na cama, vestindo apenas sua camisola transparente.

- Não é sempre que Jhon nos dá descanso.

Eduard fecha a porta, tira sua camisa e deita-se ao lado de Joana, abraçando e beijando sua mulher, esta monta sobre ele, fechando os olhos de prazer, enquanto Eduard percorre seu corpo com as mãos, sob a camisola, que logo é atirada ao chão.

Joana estava de bruços na cama, segurando a grade desta com força, enquanto Eduard vinha por trás, ele segura os cabelos de sua mulher puxando com força, na mesma intensidade em que a penetrava em pleno orgasmo Joana abaixa a foto de Jhon, evitando que este "a visse" em um momento de prazer.

Ao mesmo tempo Ruffus preparava seu cachimbo, enquanto Diana olhava pela janela feliz por não encontrar nenhuma nuvem no céu.

- Pare de vigiar, eles podem sentir-se atraídos.

- Ele não vem hoje à noite, e de qualquer forma não serei eu que irei atraí-los, não mais.

- Sim, agora temos pais em nossa cidade. Você sabe o que fazer, não é?

- Sim, eu sei.

Ruffus se recosta na cadeira de balanço enquanto Diana observa a noite.

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Mal o sol nascera Eduard acorda com a claridade, ele tenta cobrir sua cabeça com o lençol, quando percebe que estava sozinho na cama.

- Precisamos de cortinas - Joana estava de pé e trocada - me sinto uma velha falando em cortinas.

- Treine o sotaque caipira, meu amor.

- PoR que o PoRco está atRás da poRta?

- É "pôRRRrrr que".

- PôRRRrrrco - Joana imita um porco enquanto ri para Eduard que a puxa para cama, Joana o beija mas levanta-se em seguida - Eu preciso preparar o café do Jhon.

- Eu também preciso de você - Eduard faz cara de bebê chorão.

Joana afasta-se rindo, mas muda sua expressão ao olhar pela janela, rapidamente ela abre as vidraças e fala com alguém que estava do lado de fora.

- Posso ajuda-lo?

Eduard levanta-se curioso - "quem é?"

- Um padre.

Pouco depois o casal abre a porta da frente onde se encontra com o padre Martin, devidamente caracterizado, fazendo o sinal da cruz e jogando água benta sobre a casa.

- Desculpe padre - Eduard toma à dianteira - o que você está fazendo?

- Abençoando sua casa, ela esteve fechada por muito tempo.

- Me sinto meio constrangido, mas não somos católicos.

- Não importa como você interprete Deus, Ele é um só.

- Somos ateus - Joana toma a frente do marido - não quero ser indelicada, mas...

- Me desculpe, não queria incomoda-los, eu apenas queria ajuda-los.

- Me desculpe - Joana percebe que tinha sido ríspida - não quis ofende-lo.

- Eu sei, apenas fico triste por vocês.

- Mas pode continuar.

- Não adiantaria muito eu abençoar sua casa se vocês não acreditarem, mas espero sermos amigos.

- Sim, claro.

Assim que Martin vai embora Joana entra em casa não acreditando em si mesma, enquanto Eduard sorria.

- Menos de vinte e quatro horas e já nos tornamos inimigos do clero.

- Isto não é engraçado, eu expulsei um padre de casa.

- Na verdade é um pouco engraçado sim.

Eduard consulta seu relógio e sobe as escadas correndo, pois estava atrasado. Joana olha pela janela, percebendo que o padre tinha ido embora.

Minutos depois Eduard chega ao consultório do Dr. Vinicius "médico pediatra" Eduard estranha, enquanto uma enfermeira asiática e jovem, Rebeca, abre a porta o assustando.

- Pois não - a enfermeira estranha aquele homem - eu conheço você?

- Sou Eduard, o novo médico.

- Ah sim, o doutor comentou alguma coisa, vamos entre.

O consultório de Vinícius não poderia ser mais clássico, nem menos propício para o atendimento de crianças. Sua avaliação mental é interrompida pelo médico, um homem idoso já com problemas de locomoção, Eduard pensa "é mesmo caduco".

- Você deve ser Eduard.

- Sim doutor.

- Vinicius, eu não gosto de rótulos, me chamar de doutor faz com que eu pareça melhor do que você.

- Mas nós merecemos este título.

- Por quê? Ser médico o torna superior?

Eduard fica chocado com a franqueza de seu colega, embora ele tivesse acostumado com estas ideias vindas de outros profissionais da saúde, mas não de outro colega.

- Muito bem Vinicius, desculpe não ter vindo antes, eu cheguei ontem.

- Não precisa se desculpar, eu que agradeço sua vinda - Vinicius estava novamente cordial - como pode ver, está na hora da minha aposentadoria e fiquei feliz em ter alguém como você para me substituir.

- Obrigado. Posso fazer uma pergunta?

- Até duas.

- Eu não vi nenhuma criança até agora.

- Não temos nenhuma em nossa cidade.

- Então por que um médico pediatra cuida de todos?

- Por que os adultos de hoje foram crianças no passado - Vinícius muda de assunto - Esta semana irei passar com você, para apresenta-lo a todos seus pacientes, facilitar a transição deles, a final estão todos acostumados comigo.

- Tem algo que eu deva saber.

- Apenas uma coisa, não importa o que acontecer, em hipótese alguma, não abra esta porta ou qualquer janela enquanto estiver chovendo.

- Chuva?

- Sim, somos uma região rural e a chuva trás lama e barro, vai ficar uma sujeira e não é justo para Rebeca limpar tudo.

Eduard força um sorriso enquanto pensa "caduco". Rebeca ouvia a conversa dos dois esboçando uma ponta de preocupação.

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Ao mesmo tempo Joana vai até a igreja levando John consigo algumas senhoras se benzem e vão embora enquanto Joana repara em várias fotos de crianças na parede, para cada foto havia uma vela.

- São os filhos desta cidade - padre Martin cumprimenta Joana.

- O que aconteceu com estas crianças?

- Muitas morreram em um acidente, foi antes de eu chegar nesta cidade, não sei os detalhes direito. Pouco depois houve uma onda de esterilidade.

- Esterilidade?

- Psicossomática, o choque pela morte das crianças foi muito forte e nenhuma mulher daqui conseguiu engravidar novamente.

- Isto é terrível.

- Talvez a vinda de vocês mude isto, uma criança pode alegrar os adultos e quem sabe. Mas mudando de assunto, estou feliz em vê-la Joana.

- Vim pedir desculpas.

- Não é necessário.

- É sim, você estava fazendo o que julgava ser o melhor e eu o destratei, desculpe.

- Como você mesma disse eu estava julgando, eu errei - o padre estende a mão para Joana que o cumprimenta sorrindo.

- Vamos dizer que ambos erramos. e mudando de assunto o que eu faço com a educação de Jhon?

Martin sorri fazendo um gesto para que Joana e seu filho o sigam, o padre os leva até uma sala com muitos livros.

- Quantos anos ele tem?

- Sete.

- Além de padre sou pedagogo, o vaticano pagou a faculdade, posso dar aulas para ele, posso dar um certificado até que consigamos uma vaga em uma cidade vizinha.

- Onde é a próxima cidade?

- 120 km de distância, estamos isolados pela montanha.

- Acho que vai ter que ser assim - Joana não fica nem um pouco satisfeita em negligenciar os estudos de seu filho, mas não vê alternativa.

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No dia seguinte Eduard vai para o consultório e passa a manhã conhecendo os moradores da cidade. Uma senhora de 80 anos senta-se na frente dele sorrindo.

- Não vai perguntar sobre meus dentes?

- Seus dentes?

- Sim, os dentes demonstram como está a saúde das pessoas.

- Está bem, como estão os seus dentes?

A mulher retira a dentadura e a coloca sobre a mesa Eduard não acha graça enquanto a mulher não se aguentava de tanto rir.

- A senhora está muito bem - Vinicius interrompe - volte para casa.

- Eu vou morrer, estou dizendo.

- Vá para casa, velha assanhada.

A próxima paciente é Diana, que senta-se sorridente para Eduard que fica um pouco desconfortável, ela percebe e sorri mais um pouco, quebrando o gelo do médico.

- O que foi? - Eduard sorri.

- Acho que sou mais engraçada do que imaginava.

- Mais do que aquela mulher com certeza.

- Ela tirou a dentadura?

- Sim.

- Você precisava ver no Natal, ela colocou a dentadura no copo do Dr. Vinicius.

- Então? Como posso ajuda-la?

- Meu pai veio falar com o médico, eu vim junto. Quer dizer que você é médico?

- Sim, não preciso mais ter medo da chuva.

- Você acha? - Diana estava séria.

Na outra sala Ruffus e Vinicius conversavam preocupados com o novo médico da cidade.

- Como você trás alguém com família, Vinicius?

- Ele não me disse que era casado.

- Você tinha que perguntar.

- Escute aqui, estou velho e cansado, eu fiz muitas coisas por você e não aguento mais...

- Você já falou.

- E você vai escutar mais uma vez. Eu fiz os atestados, mantive segredo, eu trouxe a morte quando deveria trazer a vida. Chega, não aguento mais.

- O que você quer de mim?

- Sono, quero dormir sem ficar acordando durante a noite, sem ficar tendo pesadelos.

- Sinto muito, mas você acha que eu não sofro?

- Deveríamos ir embora, esta cidade está morta.

- É nossa responsabilidade.

De volta ao consultório Diana levanta-se exibindo suas pernas para Eduard, que não hesita em olha-las com desejo, Diana sorri enquanto coloca um papel dobrado no jaleco branco dele.

- O que é isto?

- Meu telefone.

- Eu sou casado.

- E dai? Nunca ouviu falar de traição?

O prefeito e sua filha vão embora deixando os dois médicos sozinhos Vinicius se apoiava na porta, limpando o suor com um lenço, atraindo a preocupação de Eduard.

- O senhor está bem?

- Sim... Vou melhorar quando estiver aposentado.

- Percebi uma coisa hoje.

- O que foi?

- Nenhum dos pacientes era casado.

- Não formamos famílias por aqui.

- E são uma cidade católica!?

- Bom... o padre veio e ficou.

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Naquela tarde Joana ainda estava arrumando a casa nova, ela decorava a cozinha enquanto observa Jhon correndo no quintal, o telefona toca e ela atende animada por ser a primeira ligação na casa nova.

- Sim.

- Você deve dizer alo e não sim - Eduard brinca com sua esposa.

- Onde você está?

- Na clínica, isto aqui é uma bagunça, não sei como o velho fazia mas vou tentar arrumar tudo, volto mais tarde.

- Sério, vai ter que ficar mesmo?

- Quanto antes fizer isto melhor, eu volto para o jantar.

- tudo bem, eu te amo.

- Também te amo - Eduard desliga o telefone e olha para Diana sentada sobre a mesa de exames olhando cinicamente para Eduard, que levanta-se para beija-la.

- Ela acreditou?

- Lógico, sou o marido perfeito.

Diana abre as pernas envolvendo Eduard enquanto beijam-se ardentemente, ele retira a blusa da garota deitando-a na mesa, ela o empurra, pulando no chão e deitando sobre ele, Eduard segura a cintura dela com luxúria, enquanto Diana chupava a língua dele.

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Enquanto isto, na floresta que cercava a cidade Vinicius caminha até uma árvore onde se senta, ele olha para cima, vendo as nuvens se formando.

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Diana ergue seu corpo e retira seu sutiã, Eduard segura seus seios enquanto os suga vagarosamente, saboreando o suco libidinal, Diana abraça sua cabeça, ambos deitam-se no chão. Eduard percorre as perdas dela, encaminhando seus dedos por baixo da saia de Diana, buscando a calcinha que deve ser retirada.

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Jhon brincava no balanço quando a primeira gota de chuva cai em seu rosto, Joana sai no quintal percebendo que começara uma garoa.

- Entre Jhon.

- Só mais um pouco mãe.

- Tudo bem, se ficar com frio entre.

- Está certo.

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Na clínica os dois amantes percebem o começo da chuva, Diana levanta-se assustada e tomada pelo desespero corre seminua, até a porta da frente verificando se esta estava trancada, ela coloca um crucifixo sobre a maçaneta.

- Vocês tem mesmo medo da chuva por aqui - Eduard sorria e estranhava o comportamento dela.

Diana não responde, se limitando a verificar se todas as janelas estavam fechadas, em seguida corre até Eduard jogando-o no chão, ela abre sua calça e fica de quatro enquanto começa o sexo oral.

Eduard a joga sobre a mesa da recepção ergue sua saia e a penetra, enquanto Diana trança suas pernas no médico, os dois transam com selvageria enquanto a chuva cai do lado de fora.

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Com a chuva a cidade fica deserta, apenas duas pessoas estavam do lado de fora Vinicius e Jhon. O velho médico continuava recostado na árvore, aparentemente tranquilo ele esperava por alguma coisa ou por alguém, nem ele sabia ao certo.

O Garoto brincava perto da cerca quando sente alguém chegar, ele sorri de maneira inocente, tomado pela felicidade, pois não iria mais brincar sozinho. Várias crianças estavam de baixo da chuva olhando para ele.

Vinicius olha para o ledo, reconhecendo algumas crianças, ele sorri saudosista por uma época de felicidade, sem segredos.

- Eu não sei se vocês podem me dar o que estou procurando, mas sei que podem me dar o que mereço.

As crianças envolvem o velho até que este não possa mais ser visto.

Preocupada com seu filho Joana volta para o quintal chamando por Jhon, este não estava mais lá, ela fica preocupada enquanto procura pelo garoto, a chuva termina tanto Jhon quanto Vinicius tinham desaparecido.

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No início da noite a polícia da cidade mais próxima finalmente chegara, eles iniciavam uma busca pela floresta enquanto Joana bebia café sentado no degrau de sua casa, Eduard estava de pé ao seu lado. Ruffus e Diana aproximam-se para consola-los.

- Alguma novidade Eduard?

- Não - ele balança a cabeça negativamente, sem conseguir dizer uma única palavra.

- Se tiver alguma coisa que pudermos fazer - Diana senta-se ao lado de Joana, abraçando a mãe chorosa.

Eduard não acredita no que vê e afasta-se, Ruffus o acompanha, depositando sua mão no ombro do médico.

- Não quero preocupa-lo mais, porém não encontro Vinicius em nenhum lugar.

- Você acha que ele sequestrou meu filho?

- Não, Vinicius seria incapaz, ele deve estar pela floresta, se estiver vivo.

- "Se estiver vivo"? Como assim "se"?

- Ele estava muito doente, não conseguia mais dormir ou comer. temo que ele tenha feito alguma bobagem. Se for o caso você será o responsável pela cidade.

- Se o meu filho estiver morto terei que escrever seu atestado de óbito?

A conversa dos dois é interrompida pela vinda do policial, Eduard se enche de esperança, Joana levanta-se e se aproxima do policial, que retira seu chapel.

- Está ficando escuro, vamos encerrar por hoje.

- Como assim encerrar?

- Não dá para fazer mais nada sem luz.

- É o meu filho quem está lá fora - Joana bate no peito desesperada - meu filho! Você entende seu filho da puta? Meu filho vai dormir ao relento esta noite.

Ruffus e Diana afastam Joana a levando para o quarto, Eduard tenta se desculpar com o policial, mas não consegue, ele também entra. Diana despede-se de Eduard, mostrando sinceridade pela dor dele, Eduard agradece, despede-se de Ruffus e fecha a porta.

Naquela noite Joana fica deitada na cama em posição fetal chorando, Eduard bebia uma cerveja, sentado na mesa da cozinha, lembrando-se dos gemidos de prazer de Diana e se culpando por não estar em casa quando deveria, ele joga a garrafa de cerveja contra a parede. Na igreja o padre Martin acende mais uma vela.

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As buscas recomeçaram no dia seguinte, enquanto a equipe policial percorria a floresta atrás de Jhon e Vinicius Joana arromba a porta da antiga escola da cidade, o prédio estava sem iluminação, com as paredes destruídas pela falta de conservação.

Joana entra em uma sala cujas cadeiras permaneciam alinhadas, o quadro negro fora limpo por alguém, ela abre um armário, este estava vazio. Joana não encontra nenhum documento em nenhuma das salas. Como ultima alternativa ela arromba a sala da direção, esta também estava vazia, Joana senta-se no chão começando a chorar.

- O que está acontecendo aqui?

Ela se assusta com o som de algo caindo nos corredores, Joana corre até o local onde ouvira o som e encontra um pedaço da parede que tinha caído, a falha revelava outra tintura com alguma coisa desenhada. Joana começa a descascar a parede onde encontra um desenho infantil da floresta e algumas crianças ao lado a frase "elas estão aqui".

No consultório médico Eduard surpreende sua enfermeira, Rebeca, guardando em uma caixa alguns prontuários médicos. A enfermeira afasta-se assustada enquanto Eduard fecha a porta da sala de Vinicius, se trancando com Rebeca.

- O que está acontecendo aqui?

- Estava guardando os prontuários do doutor - sua voz era trêmula - são normas médicas.

- Normas o caralho, por que você está guardando estes prontuários? - Eduard percebe que estes prontuários eram guardados em um compartimento secreto da estante de Vinicius.

- Por que Vinicius está morto - ela começa a chorar - a chuva o matou, está tudo ai.

Rebeca foge do consultório, percorrendo a cidade em prantos, atraindo a atenção dos policiais e de Ruffus que conversava com padre Martin.

- A situação está ficando insustentável padre.

- Segredos existem para ser revelada - Martin percebe o olhar furiosos de Ruffus - esta pode ser a absolvição que tanto pedira.

- Acho que não - Ruffus vai embora.

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Ainda no consultório Eduard começa a ler os prontuários, todos atestados de óbito de crianças recém-nascidas, nos prontuários ele encontra as mesmas duas assinaturas de Vinicius e de Ruffus. Neste momento seu celular toca, ele reconhece o número de Joana.

- Estive na escola - Joana lutava contra o choro - não tem nada aqui, alguém jogou fora todos os registros.

- Minha enfermeira tentava fazer a mesma coisa, encontrei vários atestados de óbito, tem alguma coisa grande aqui.

- E agora?

- Vou até a prefeitura, Ruffus vai ter que me dar algumas respostas - Eduard desliga o telefone tendo em mãos um prontuário médico que leva com ele.

A cidade era pequena e minutos depois Eduard chega até a prefeitura, onde invade o gabinete do prefeito. Ruffus fica de pé e permite que Eduard fique a sós com ele, o prefeito oferece um café, Eduard ri sarcasticamente.

- Pode tirar está máscara de bom prefeito e pai modelo do rosto.

- Compreendo sua dor, mas não admito que fale assim comigo.

Eduard joga o prontuário sobre Ruffus, que lê o nome de sua filha como mãe e o nome de seu neto no atestado de óbito, Ruffus resmunga "aquele velho idiota".

- Finalmente está mostrando sua face.

- O que você quer saber? Sobre a dor de um avô que perdeu seu neto? Ou como uma cidade sofre após ver a morte de seus primogênitos?

- Pode parar seu merda, dez recém-nascidos não morrem ao mesmo tempo sem nenhuma explicação. As crianças de uma cidade não desaparecem no ar.

- Desaparecem na chuva.

- Pare com esta merda e me diga o que aconteceu com meu filho?

- Se você não estivesse trepando com minha filha você poderia ter protegido seu filho.

Irritado Eduard ataca o prefeito, que se defende facilmente enquanto acerta dois socos nas costelas de Eduard e um em seu rosto, jogando o médico ao chão.

- É bom que você saiba, na juventude fui pugilista semiprofissional, agora saia.

Eduard levanta-se furioso e recebe outro soco no rosto caindo novamente, os funcionários da prefeitura invadem o gabinete e arrastam o médico para fora. Assim que Eduard consegue levantar-se ele reconhece o padre Martin de pé, ao lado de seu carro.

- Venha comigo, se quiser saber a verdade.

Com algum esforço Eduard entra no carro, o padre começa a dirigir em silêncio, Eduard percebe uma pequena maleta no banco de trás.

- Para onde vamos padre?

- Para sua casa.

Assim que o carro encosta Martin buzina, Joana sai da casa correndo, ao lado de Diana que dizia ter vindo saber das notícias e oferecer ajuda, Eduard torce o braço de Diana, puxa seus cabelos e a arremessa no meio da rua.

O padre Martin abre sua maleta, retira um recipiente de água benta e faz o sinal da crua na frente da casa "em nome do pai, do filho e do espírito santo".

- Pensei que isto só funcionasse se o dono da casa tiver fé.

- Não é para sua proteção Eduard, mas para minha, o céu está escuro, logo vai chover.

Martin termina de benzer a casa, Joana e seu esposo entram junto com o padre, este tranca a porta da frente e coloca uma cruz nesta.

- Uma cruz não vai impedir Ruffus.

- Ele não vai fazer nada contra nós Eduard, ele não precisa, a ignorância é sua arma.

- O que está acontecendo aqui? - Joana grita irritada

- Joana - Martin olha em seus olhos - eu vou dizer toda a verdade, mas é imprescindível que você e seu marido se certifiquem de que todas as portas e janelas estão fechadas.

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Diana chegava em casa quando encontra Rebeca sentada no lado de fora. A enfermeira abraça sua amiga em prantos soltando palavras sem nexo, Diana desfere um tapa no rosto dela.

- O que aconteceu?

- Eduard encontrou os prontuários.

- idiota!

- Nunca pensei que ele fosse ao consultório após a morte de seu filho.

- É lógico que ele ia, Vinicius nos abandonou.

- Por quê? Por que o doutor nos abandonou?

- Você colocou tudo a perder, eu disse para destruir os prontuários antes que Eduard visse.

- Eu tive que encontra-los, o doutor havia escondido todos, foi difícil de fazer.

As duas olham para céu, quando Diana sente a primeira gota de chuva em seu rosto, elas entram na casa trancando a porta.

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Os policiais estavam na floresta quando sentem as primeiras gotas da chuva, como esta parecia branda eles decidem continuar a busca.

Ao mesmo tempo Eduard e Joana sentam-se na frente do padre Martin que faz o sinal da cruz e inicia sua narrativa.

- O que vou dizer aconteceu antes da minha chegada nesta cidade, por isto alguns fatos podem ter mudado, mas sua essência continua a mesma. Porém antes devo perguntar qual o maior crime que um médico pode cometer?

flash beack

Anos atrás as adolescentes da cidade, lideradas por Diana, reuniram tudo o que tinham e foram para a cidade mais próxima, de lá elas foram para um grande centro, com um único objetivo de se divertir.

Diana, Rebeca e mais oito garotas bebiam em um bar ao lado do albergue em que ficavam. Diana em especial bebia sentada no colo de um homem qualquer, seu nome não interessava apenas o que ele tinha a oferecer interessava.

As demais garotas dançavam com seus pares, alguns mais do que um. Rebeca ajoelha-se em baixo da mesa para chupar o seu homem. Diana levanta-se e dança ao som da vitrola eletrônica, totalmente bêbada se joga nos braços do seu par, ou de outro qualquer, ela não se lembra.

Aquela noite era apenas mais uma, onde as garotas voltaram acompanhadas para seu quarto, onde outra orgia tem início com Diana sendo jogadas contra seu colchonete, suas roupas são rasgadas enquanto seu parceiro coloca-se entre suas pernas grossas e delineadas. Os dois não fazem sexo, eles trepam, ele percorre as pernas de Diana com as mãos, enquanto chupa seus seios.

Rebeca era comida por dois ao mesmo tempo, eles eram violentos e ela gostava, seu estase bêbado fazia a garota gritar de prazer, enquanto suas colegas eram jogadas de bruços sobre escrivaninhas ou tinham as pernas abertas em qualquer lugar que permitisse, não era fácil vinte e cinco pessoas - 10 mulheres e 15 homens transarem em um quarto ao mesmo tempo.

No dia seguinte Diana acorda com Rebeca vomitando no banheiro, ela sorri "deve ser algo que você engoliu" e vira de lado, mas logo ela e as demais sentem os primeiros sintomas da gravides.

Seis meses se passam, até que derrotadas elas voltam para sua cidade natal. A vergonha só não é maior por que todas estavam grávidas e nenhum pai poderia ironizar seus vizinhos. Uma reunião foi feita, Ruffus e seus seguidores decidem pelo aborto.

- Não podemos - Vinicius interfere como o único especialista na reunião - pode ser muito perigoso para as garotas.

- Que morram - Ruffus corta o amigo - mas esta vergonha deve ser apagada.

- Pastor, diga algo - Vinicius suplica.

- A morte de um inocente é terrível, mas existem sofrimentos piores, faça doutor, faça por nós, faça por nossa sociedade e faça por Deus.

Assim fora decidido, em uma noite chuvosa Vinicius aborta as crianças, uma a uma, seus corpos são escondidos por Ruffus e nenhuma garota morreu o que Vinicius considerava um milagre.

No dia seguinte choveu como de costume, dois amigos pescavam na floresta quando percebem algumas crianças desconhecidas atrás deles, esta é a ultima vez que eles foram vistos.

Fim do flash beack

- Fui enviado pela diocese mais próxima meses depois, Ruffus me contou esta história, a pesar de sua concentração, de sua reação aos fatos, da certeza que cada palavra continha não consegui acreditar. Ruffus disse que tentara tudo eu era sua ultima esperança.

- Por que levaram minha criança? - Joana questiona com lágrimas nos olhos.

- Não sei - o padre se comove - quando cheguei não haviam mais famílias, Ruffus percebera que crianças atraíam os espíritos atormentados, casais também, mas em uma escala menor. Tenho uma teoria, estas crianças que vivem na chuva são alimentadas pelo ódio de não terem nascido, o ódio gera o ódio, este alimenta a inveja e logo as crianças nascidas são mortas.

- Mas não foi o suficiente - Joana complementa.

- O ódio não pode ser aplacado pela vingança, ele torna-se cada vez mais forte, ao benzer as casas pude diminuir o número de incidentes, mas ainda hoje vivemos como prisioneiros.

- Por que você continua aqui?

- Joana, a igreja jamais dá as costas para quem pede ajuda.

- O prontuário de Diana dizia que ela fora esterilizada - Eduard muda de assunto.

- Sim, movido pelo desespero Vinícius esterilizou todas as mulheres da cidade, isto foi antes da minha chegada. Agora o desespero de Ruffus chegou ao seu limite.

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Na floresta um dos policiais senta-se para descansar e acaba afastado dos outros, enquanto limpava o rosto húmido pela garoa uma criança surge atrás dele o olhando fixamente, os demais policiais andavam em formação de ferradura, enquanto as crianças faziam um círculo em volta deles.

O primeiro policial estica seu braço buscando apoio, mas acaba segurando aquela criança, que busca seu colo e repousa sua cabeça no peito do policial.

- Quem é você?

O colo do policial estava banhado em sangue, ele segurava um feto, assustado o policial levanta-se, irritando o garoto, outras criança pulam sobre o policial o sufocando.

Os outros policiais ouvem os gritos de seu colega desgarrado, sua atenção volta-se parta as crianças, que lentamente aproximam-se dos policiais, estreitando o espaço entre eles até que os policiais não existissem mais.

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Joana levanta-se decidida, para a surpresa de Eduard e Martin, ela procura sua capa de chuva, mas Eduard tenta detê-la, Martin apenas observa.

- Onde você pensa que vai?

- Você não ouviu a história do padre, Eduard? Meu filho também está entre estas crianças e eu vou procura-lo.

- Você não pode, padre fale alguma coisa.

- Padre - Joana intervém - esta maldição, o que acontece com quem entra nela.

- Eu não sei o que posso dizer é que existem bem mais do que a alma de dez crianças vivendo na chuva, elas devem juntar o seu ódio às outras. Mas nunca vi nenhum adulto.

- E nem poderia, eles são o objeto de ódio delas.

- Mais um motivo para você ficar - Eduard segura o braço de sua esposa.

- Não finja que você está preocupado comigo, eu sei que você trepou com Diana na tarde que nosso filho morreu.

- Você deveria estar olhando ele, mas não conseguiu fazer isto, a casa era mais importante, seus afazeres, a programação da televisão, eram mais importantes do que vigiar nosso filho.

- É verdade, eu sou responsável pela morte de Jhon, mas vou fazer algo a respeito e você? O que vai fazer?

Joana livra-se das mãos de seu marido, abre a porta, mas não vê nenhuma criança por perto, ela olha para o padre.

- Quantas crianças são colocadas neste mundo apenas para juntarem um casamento ou forjarem uma família feliz com filhos? Você também não teria ódio, padre?

- Sim, eu já havia pensado nisso. O que você vai fazer?

- As mães também erram, mas somos mães, somos responsáveis por nossos filhos e não o contrário. Você quer saber o que eu vou fazer? Eu serei mãe.

Joana sai da casa fechando a porta, Eduard tranca-se e corre para o sofá onde se senta assustado, olhando em volta. Martin olhava para a janela, vendo Joana caminhar para a floresta, nutrindo um sorriso de esperança.

Não demorou muito e Joana chegou à floresta, ela caminhava entre as árvores, sem medo, quando decide parar, fechar os olhos e contar até dez.

- Um, dois, três - ela ouve um galho sendo quebrado, mas não abre os olhos - quatro, cinco - uma criança estava de pé atrás dela - seis, sete - cinco crianças estavam de pé atrás dela - oito, nove - vinte crianças estavam atrás dela - dez.

Joana sai correndo, e se esconde atrás de uma árvore, propositadamente ela deixa metade de seu corpo a mostra, quando uma criança encosta-se em seu quadril, ela vira-se e abraça Jhon. As demais crianças aproximam-se e se sentam ao redor da mãe carinhosa.

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Na manhã seguinte mais policial interrogavam Ruffus, Eduard estava completamente louco, a polícia isola a área, decide abandonar o caso, todos estavam acusados, aceitam a loucura de Eduard como confissão e fingem estarem felizes com a conclusão do caso, mesmo sem ter nenhuma evidência. Esta conclusão é a mais aceitável.

A noite Martin acende mais uma vela, desta vez para Joana, enquanto rezava uma ventania abre a porta de igreja, ele vê Joana e as crianças percorrendo a cidade, mesmo sem chuva. Joana vai à casa das dez mulheres que abortaram. A primeira era Rebeca que sorri ao ver seu filho.

A ultima mãe a ser visitada fora Diana, a porta da frente se abre, Ruffus foge para o lado de fora da casa e é cercado pelo espírito das outras crianças que somem na escuridão junto com ele.

Diana tranca-se no quarto e ajoelha-se na cama assustada, sua porta é forçada, em seguida ela vê o rosto de seu filho na janela, Diana grita em desespero pedindo ajuda de seu pai, a porta do banheiro se abre e de lá vem o espírito de seu filho. Diana grita em desespero, tentando fugir, mas cai no chão, ela se arrasta enquanto seu filho a persegue e deita-se sobre suas pernas, apoiando sua cabeça na barriga de sua mãe, o garoto retorna ao útero de Diana que morre ensanguentada. Este fora o destino das dez mães.

Martin segue os rastros de sangue até o rio, na outra margem o espírito de Joana lavava o espírito de seu filho, ela o pega no colo, olha uma ultima vez para o padre e desaparece na mata.

FIM