Bruxas?

" E então do mundo dos mortos retornei, por que me foi dado tal direito por aquele que é meu Senhor e detentor de poder sobre todas as coisas..."

Selva

Dedico esse conto ao meu Amado Bruno

E no interior da floresta elas dançam em volta do caldeirão, elas dançam. Enquanto dançam elas sonham, sonhos de meninas que logo se transformarão em mulheres tristes, sem vontade, sem ação. E na noite escura, na floresta escura elas dançam. Entorno do caldeirão, são amigas e irmãs de alma, de sonho, de ritual e religião. Na cidade em que a vida lhes impõe a existência, são senhoras não de seu destinos, mas de casas respeitáveis, de maridos influentes e de filhos valorosos, são ativas damas da comunidade, sem vontade, sem querer, sem saber, expropriadas desse e de seu valor individual.

Enquanto dançam na floresta aprendem na união do rito milenar como sobreviver, com sua luz própria que tantos insistem em apagar, pois impera a Idade da Escuridão, seus ensinamentos são passados de geração a geração em forma de receitas caseiras e superstições aos olhos dos censores da moral e da razão. No interior da floresta elas dançam em torno do caldeirão, elas dançam e em sua dança conhecem e descobrem seu corpo, seus desejos, suas paixões, enquanto dançam são livres de seus grilhões.

Mesmo no escuro da noite no interior da floresta, em volta do caldeirão, existem olhos a vigiar, sussurros a delatar. Mesmo ali no escuro da noite mentes a prever seu saber, sua tradição, suas receitas em minutos são transformados em sua maldição. Sua vontade, seu querer, seus ideais diagnosticados como loucura e possessão.

A maioria é presa são seviciadas e torturadas, dessas algumas confessam visões, pactos e atos vis, delatam irmãs inventam estórias para aplacar a fúria das mãos que maltratam, das vozes que ameaçam, apenas fugindo da marca, da morte essas estão. Outras, porém não fogem, não podem mais suas mentes são livres não renegam sua verdade, seu conhecimento, sua luz, essas são consideradas as mais perigosas, capazes de subverter a moral, a família e os bons costumes, por isso precisam ser marcadas, subjugadas, trancadas, detidas a qualquer custo, a morte é o seu fim, depois de muitas torturas para purificar a alma, são apedrejadas, outras enforcadas, esquartejadas ou queimadas.

Centenas e milhares pereceram assim, e até hoje sua estória e contada pelo mesmo tipo de pessoas que as torturaram, enlouqueceram e asassinaram. Essas pessoas omitem detalhes, distorcem verdades, para que ainda sejam amados e considerados os salvadores da família, da moral e dos bons costumes, suas vitimas agora além de mulheres são também homens jovens ou adultos, que se descobrem com uma luz interior própria diferente, que destoam da mediocridade do comum e que sustentam sua escolha de amar acima de qualquer rotulo ou definição. Prestem atenção aos dedos em riste dos censores apontando em direção a essas pessoas, tentando novamente, acusar, marcar, subjugar e em seus olhos qualquer um poderá ver a sombra da forca ou o brilho sinistro das fogueiras de Salem.

Selva
Enviado por Selva em 10/07/2011
Reeditado em 10/07/2011
Código do texto: T3087381
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