O HOMEM BOI

Estamos aqui de quatro

Inertes na relva fria

De pé ao nascer do dia

Aguardando nosso carro.

Tao logo surge na pista,

Começa a algaravia

Empurra, aperta, se enfia

Na luta por um espaço.

É o trote de patas nos cascos,

É o choque do couro suados,

É a valsa do carro no asfalto.

O gado mugindo de sono

Bufando, com dor nos lombos

Espreme-se pela janela.

Sentindo o bafo quente dela,

Invejam os animais de fora.

Cansando, não chia nem chora.

São anos nessa trajetória,

Vão-se os dias, fica a história

Do bicho castrado impotente.

Robô-motorista na frente

Guiando o comboio do inferno

A mando dos homens de terno

Dirige, não fala, nem sente.

E é assim a rural viagem

Se tens que ir pra faculdade

Trabalho, comércio, cidade

Você pagará passagem

Pra andar no carro de boi.