A HORA DOS LOBOS Cap.10

A HORA DOS LOBOS 10

10. Morta

—Que foi?O brinquedinho não está mais funcionando? —falou Valerie com um sorriso desdenhoso na cara, deixando em evidência aqueles dois caninos arreganhados prontos para atacar.

O que veio a seguir fora muito rápido. Mais muito rápido mesmo. Isto é, fora questão de segundos ou milésimos de segundos.

Antes mesmo que avançasse na direção de meu pescoço, Bastian aparece , surpreendendo-a com uma chave de braço.

—Vai, Tabatha fuja, logo...

Por um breve momento eu fiquei paralisada. Por que ele estava fazendo aquilo por mim? Isso contrariava todas as regras que aquele livro sobre vampiros falava.

—Vamos, logo! Eu não vou conseguir segurá-la por muito tempo! —disse Bastian, pressionando fortemente o braço contra o pescoço de Valerie.

Levanto e sacolejo minha mãe.

—Mãe, acorde! —digo, sem que ela se movesse um centímetro do lugar.

Tinha de que fazer algo urgente... Uma medida extrema talvez, mas qual tinha que arriscar fazer.

—Mãe, desculpe pelo o que eu vou fazer agora... — peço perdão antes de desferir um tapa no rosto dela. O que faz efeito rápido, como num passe milagroso de mágica minha mãe desperta do transe.

—Onde estamos? —pergunta ela atônita, piscando os olhos várias vezes.

—Mãe, depois eu te conto! Temos de sair daqui agora... —falo puxando-a pelo pulso, fazendo com que ela se levantasse do chão.

Nesse momento, Bastian havia encostado Valerie numa parede. Fazia um esforço extremo— qual não resistiria por muito tempo— para mantê-la longe de mim. Valerie estremecia de ódio.

Não fiquei para esperar pelo que aconteceria.

Rumei para porta, na direção do sombrio corredor.

—Tabatha, você pode me explicar onde estamos ? —pede por respostas minha mãe descabela.

—Mãe, não temos tempo... Prometo que quando sairmos daqui eu conto... —digo apreensiva.

Atravessávamos a porta de ferro, quando na nave da igreja, Lizzy me barra:

—Onde você pensa que vai? —disse erguendo a sobrancelha esquerda arrogantemente.

—Pra casa? — respondo.

—Mas a festa não acabou...

—Dá para me dar licença? — digo empurrando a vampira em minha frente.

O impressionante é que ela não tentara me impedir.

De repente, me dei conta quão grotesca aquela igreja.

Eu e minha mãe estávamos correndo, prestes a alcançar à porta da igreja, quando um grito animalesco explode reverberando por todos os lugares.

Era como se uma fera estivesse faminta ou com muita raiva...

Ousei olhar para trás.

E conseqüentemente não pude acreditar no que meus olhos acabavam de ver.

Era ela; Valerie. Uma Valerie completamente transformada numa mistura horrenda de morcego com ser humano: podia-se ver entre os espaços dos braços dela, uma pele finíssima, branca igual à de um cadáver que se desdobrava como um guarda-chuva servindo-lhe de asas. Os pés haviam desaparecido por completo, dando origem a garras enrugadas, com unhas longas e afiadíssimas; o rosto estava totalmente desfigurado: olhos enormes e vermelhos com um risco negro na íris, orelhas se projetadas cresceram ficando pontiagudas, a boca e o nariz uniram-se para formar uma espécie de focinho serrilhado por dois pares gigantescos de caninos.

Tomou impulso do solo e... E... Começou a voar. Foi quando eu gritei:

—MÃE CORRE!

Podia ouvir o barulho das asas se aproximando. Eu e minha mãe corríamos desesperadas para os braços da noite em busca de salvar nossas vidas.

Descemos as escadas com a habilidade de um felino.

O adejar das asas cada vez mais próximas...

Não tentei olhar para trás.

Apenas corria.

De súbito, minha mãe estaca no átrio da igreja.

— Que foi? — perguntei forçando-me parar.

— Estou cansada...

Nesse exato momento, a vampira investiu contra nós fazendo-nos cair no chão. Ela havia passado de raspão e não conseguindo pegar uma de nós, berra de ódio.

Olhei pro céu negro.

Lá vinha ela com suas asas brancas como de um anjo (vistas de longe).

Preparava-se para um novo ataque.

Foi quando uma ideia muito perigosa estalou em meu cérebro.

—Mãe, a senhora corre e vai procurar por ajuda... —disse eu me erguendo do chão.

— Não, não...

—Vai mãe!Ela me quer e não você...

Olhei nos olhos de minha. E ela nos meus.

—Te amo filha— disse ela me dando um beijo na minha bochecha e apertado abraço como se fosse o último...

A vampira se aproximava.

—Também te amo — digo olhando pela última vez para ela. E empurrando-a para frente em direção da rua grito:

—CORRA!

Antes que Valerie/Morcego visse minha mãe, chamo a atenção dela, erguendo os braços pro alto balançando-os histericamente.

—Ei, vampirona venha aqui me pegar!Vem! — provoco ouvindo, em seguida, como resposta um rosnado alto e feroz.

Meu plano seria correr para floresta que ficava depois do cemitério atrás da igreja. De lá, daria algum jeito de fugir dela.

Meus pés não cansavam. Não cansavam porque a adrenalina se espalhava pelo meu corpo funcionando como um energético que impulsionava minha corrida pela sobrevivência. Sabia quando descansasse cada músculo de meu corpo iria doer.

Todavia, não importava.

Tinha de correr.

Olhei para trás.

Ela estava perto.

Olhei pro portão enferrujado a minha frente e dei um chute nele.

Abriu com estrondoso som metálico.

Entrei...

***

A minha sorte era que havia muitas lápides altas e estátuas de anjos de asas abertas e de foice nas mãos.

Que irônico, não?

Estava no jardim da morte...

Contudo, eu não queria morrer...

Estava encostada numa lápide bem alta que cobria quase todo o meu corpo. Estava deitada sobre um túmulo com a cabeça recostada na lápide. Ofegava e o suor escorria livremente por todo meu rosto.

Droga...

Meu tempo estava acabando...

Se eu ainda tivesse uma daquelas estacas eu poderia fincar uma bem no peito daquela maldita!

Porém; não tinha...

Perdera tudo na igreja...

E se...

Mecho nos bolsos da calça...

Sem chances, não havia nada.

—Tabatha? —chamava Valerie. —Onde está você?

Era ela, muito provavelmente, em sua forma “humana”, pois não dava para fazer investida com aquelas dezenas de túmulos e estátuas.

—Vamos, Tabatha... —dizia numa voz irônica — Apareça... Prometo te dar uma morte bem dolorida...

A voz dela aproximava-se, em breve, ela me encontraria e adeus mundo.

Mas se ela está pensando que eu iria me entregar tão facilmente, estava redondamente enganada.

Onde estava Bastian?

Será que ele recebera minhas mensagens?

Pego uma pedra no chão e jogo à minha direita fazendo-a ricochetear numa das lapides.

Tinha de esperar...

—Ah, então você está aí? — disse ela gargalhando.

Mais um pouco...

Podia vê-la, indo na direção dum tumulo com um anjo feito de mármore de asas arreganhadas com uma foice enorme, pronto para atacar.

Esperei mais um pouco.

Agora!

Ponho-me a correr em direção da floresta...

Contudo...

—Onde você pensa que vai? — pergunta Valerie saltando a poucos metros.

— Pra onde você acha que eu vou?

—Direto para uma cova?

—Se você conseguir me pegar... —disse correndo para esquerda, pro lado onde estava escondida antes.

No mesmo instante, ela começou a guinchar.

Passar entre aqueles túmulos vizinhos uns dos outros era muito dificultoso. Além, de que quando Valerie estava prestes a me pegar eu seguia por uma direção diferente.

—Quando eu te pegar vou te fazer em picadinho garota! —avisou.

Ficamos naquele jogo de gato versus rato até que consegui me desvencilhar dela e atravessar o portão grande em arco todo em ferro preto.

Ele estava aberto.

Corro pra floresta...

As folhas secas se despedaçavam quando eu pisava no chão... Tinha de correr mais do que antes...

—Ai! —gritei ao tropeçar numa raiz de árvore fazendo com que desse de cara com o chão.

Estava muito escuro... Não conseguia ver nada...

Preparava-me para retomar a corrida quando Valerie pulou em cima de mim como um leão faminto, doido para desfibrar sua presa...

— Preparada para morrer garota? — disse ela segurando meus pulsos com as mãos e abrindo a boca com dois dentes finíssimos e pontiagudos.

E então ela cravou os dentes em minha jugular...

A dor que eu sentia era ao mesmo tempo insuportável e agradável...

Era um misto de dor e prazer...

Aos poucos pude perceber que toda a minha energia ia deixando o meu corpo junto com o sangue ela sugava...

Estava fraca...

Não tinha como resistir...

O jeito seria encarar a morte de frente...

CONTINUA

Conheça mais da série no meu blog: WWW.raffaelpetter.blogspot.com.br

Ps: A série está acabando! Vem aí : Crônicas de um Vampiro.

Raffael Petter
Enviado por Raffael Petter em 22/04/2013
Código do texto: T4254514
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