Diário DyeR - Página 03

Hoje sentei por horas nos degraus da varanda de casa, esperando o sol despedir-se de todos (ou quem sabe queimar todos eles)... Uma garrafa térmica com limonada e gelo, alguns waffles de chocolate, meu vício particular que complementa perfeitamente cada segundo que perco do lado de fora do mundo.

No que eu estava pensando? Absolutamente nada!

Apenas procurei pelo esconderijo mais improvável que pudesse me livrar do inferno preso no interior da minha casa. O mesmo de sempre, bebida, cigarro e dois idiotas que se casaram pelo simples prazer do sexo e nada mais. E o resultado? Bom, o resultado sou eu, presa em um inferno dentro de um inferno ainda pior. É uma vida desgraçada em camadas que infelizmente não podem ser arrancadas ou descascadas. É uma prisão, para a minha mente.

Eu olho para o sol se pondo no horizonte lentamente, incendiando o céu com faiscantes sombreados escarlate. À distância, nuvens escuras acima do horizonte e os ventos mornos do verão. Mesmo que isso soe uma beleza vívida o meu desejo é que o sol dê passagem à noite e com ela venha o silêncio, que passa sobre tudo.

Contudo antes do silêncio se aproximar, eu vejo o ser humano correndo, indo e vindo na correria de uma vida fúnebre, presos em uma cela invisível, servindo aos demônios desse mundo. Vejo suas vidas sendo roubadas todos os dias sem que eles saibam e me esforço a todo custo, nunca, jamais cair nesse mesmo círculo, nesse sistema fracassado que te trata como um escravo. E todos ainda pensam que a escravidão acabou, mas eu digo que ela apenas mudou de forma e de nome.

Eu sou Elisabeth Dyer, tenho um nome e estou viva nesse mundo até que eu desista dele ou ele desista de mim. Estou acorrentada desde que eu nasci, humilhada, abusada e abandonada em um círculo eterno de dor do qual é impossível a fuga.

Elisabeth Dyer
Enviado por Elisabeth Dyer em 19/03/2018
Reeditado em 25/10/2018
Código do texto: T6284766
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