Diário Dyer - Página 04

Eu tinha apenas 7 anos...

Eu era uma criança idiota, que acreditava que o mundo era lindo e que as pessoas eram um abrigo para os meu medos... Carinho, conforto e paz.

Eu tinha apenas 7 anos quando percebi que estava totalmente errada

Talvez pareça rude lhes contar a primeira cena de horror que eu enfrentei, mas o mundo é rude, se acostume.

Eu provavelmente esqueci aquela data. A minha mente deletou cenas que até hoje são meus piores pesadelos. Fechar os olhos é como entrar em um Deja'vu e acordar é como ser tragada por um mar de fogo. Exatamente por isso a morte me soa tão bem, porque ela pode ser uma libertação, um meio termo entre os meus pesadelos e a realidade de bosta que vivo.

Eu lembro que desde aquele dia eu passei a sentar-me ao por do sol e olhar as pessoas na rua, vivendo suas vidas como se elas fossem o centro do seu próprio universo. Era uma tarde como essa quando o meu doce e adorado irmão mais velho chegou mais cedo do trabalho e me convidou para comer rosquinhas com ele. Eu simplesmente adorava aquelas roscas doces, recheadas com queijo derretido. Aquilo seduzia qualquer um.

Contudo a rotina de sentar à beira da nossa velha mesa de madeira maciça e tomar leite com achocolatado e contar histórias engraçadas foi diferente aquele dia. Ele levantou-se e foi até o armário da cozinha, deixando-me de costas para ele. Poucos segundos depois, bem, o meu leite na xícara mudou sua cor para o mesmo tom escarlate do por do sol que vejo da varanda de casa. Talvez tenha sido a primeira vez que vi uma cor tão linda e tão vívida.

Lembro que tentei gritar para que ele pudesse ver como o leite havia ficado lindo, mas não pude emitir som algum. Foi um corte profundo e quando finalmente percebi, o sangue jorrava do meu pescoço não apenas na xícara de leite, mas na mesa, nas cadeiras, no armário e por fim, suas gotas escarlate transformaram o piso da cozinha em um belo por do sol. Não senti dor, apenas medo. Ainda era pequena demais para entender que o meu próprio irmão acabara de tentar tirar a minha vida.

Eu me lembro de gritos, carros e médicos em um corredor escudo. Me lembro de agulhas, remédios e minha mãe me dando banho em uma banheira imunda. Eu me lembro do rosto dele quando foi levado pela viatura e lembro do apelido que ganhei por anos dos meus colegas na escola: "Elisabeth Degolada"

Já fazem 10 anos, algumas lembranças daquele dia se foram, mas eu lembro bem do sorriso que ele tinha no rosto enquanto planejava me matar. Era confiante, puro e confortável. E por trás de tudo era frio, vazio e macabro. Nesse dia deixei de confiar em sorrisos verdadeiros e aprendi que as pessoas guardam seus monstros interiores atrás de máscaras alegres e sorrisos vívidos, mas o mais importante é que aquele dia me ensinou a lentamente ser capaz de ver por trás das máscaras de todos, pois não importa o quanto a máscara seja grossa e assustadora, não importa o quanto ela seja capaz de esconder o seu rosto, os olhos sempre ficam para o lado de fora.

E os olhos dizem tudo!

Elisabeth Dyer
Enviado por Elisabeth Dyer em 19/03/2018
Reeditado em 25/10/2018
Código do texto: T6284786
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